Paulo Freire sustentava a tese de que “liberdade de expressão é o direito do mundo, de criar e recriar, de decidir e escolher e, em última análise, de participar do processo histórico da sociedade” (Educação e mudança, p. 12).
A liberdade de comunicar e, consequentemente, de exercer a comunicação mistagógica educativa entre interlocutores, não é mera informação, mas participação. Contudo, isso não pode ser confundido com fake news, com produzir desinformação, induzir ao erro, dominar a comunicação com a lógica do lucro, do consumo, do acúmulo de capital, manipulando o desejo e reforçando o individualismo, porque desvirtua e não garante o princípio da liberdade de expressão como reza a Declaração Universal dos Direitos Humanos (Resolução 217 A III, em 10/12/1948). Nesse sentido, o educador mistagógico precisa entender que a sua liberdade de expressar ideias, debates, princípios e valores não pode ser reprimida, muito menos a do educando.
Projeto de vida e liberdade
É fundamental no exercício educativo que a comunicação entre interlocutores seja garantida pela ética do bem viver. Isso requer bom senso, discernimento, escuta e produção cultural à luz da verdade. A liberdade será sempre uma utopia a ser construída no contrafluxo do ódio, do racismo, da xenofobia e da censura, porque ela não escraviza, mas sim alimenta o sonho da justiça como parâmetro de saber ler, pensar e escrever.
Um dos temores da verdadeira liberdade de expressão está na manipulação do outro. Normalmente, quem usa a liberdade como mentira teme o diálogo, o encontro entre diferentes, a cultura; e teme que o saber arranque o véu das trevas da inverdade e abra a consciência crítica dos sujeitos. A liberdade é um direito para aprofundar as relações e não para polarizar opiniões.
Projeto de vida e expressão
Quando entendemos por “expressão” meramente comunicar sem compromisso ético e transformador, acabamos por produzir a escravidão ideológica, fugimos do interlocutor e reforçamos a ideia de que o saber só é possível para quem domina os meios tecnológicos para comunicar. É tarefa do educador rever suas posições culturais, reinventar paradigmas relacionais e se reinventar como sujeito cultural. O olhar do ato de comunicar não pode ser unilateral, mas transversal, gerando pontes de encontro e não muros de separação (conforme nos alerta o Papa Francisco na proposta do Pacto Educativo Global).
Projeto de vida e verdade
“O que é a verdade?”, perguntou Pilatos a Jesus (Jo 18,39). Uma pergunta que brotou da angústia diante da certeza de estar na frente de um inocente e da pressão popular que exigia a morte. Qual é a verdade? Como opinar? Como discernir? Ainda hoje a pergunta pela verdade ecoa em nossas mentes e polariza decisões; aliás, a sociedade do cansaço tem cada vez mais dificuldade para decidir, sobretudo quando tem pela frente compromissos duradouros. Tudo parece efêmero, envolvido num vazio existencial profundo que dificulta o significado das escolhas.
Outra questão que implica na busca da verdade é que a modernidade está entranhada da ideia de que o diferente, o que me inquieta e desagrada, é meu inimigo, o monstruosamente inimigo a ser vencido (conforme Bauman, Identidade, 2005, p. 89). Nele descarrega-se todo ódio, pânico e paranoias moralizantes. Então, a verdade é negada para garantir a estruturação da mediocridade.
O educador precisa ter a mente, a vontade e o coração abertos para não negar a verdade que está diante de si, como fez Pilatos, mas sim aceitá-la na sua originalidade.