Discernimento: condição para uma boa comunicação

Quarta, 06 Abril 2022 16:33 Escrito por  Ir. Márcia Koffermann, FMA
Discernimento: condição para uma boa comunicação iStock.com
“Parece muito simples. Mas, quando falamos do ser humano, não é possível utilizar a mesma lógica de estímulo-resposta. Diante de uma dada informação, cada pessoa tem a capacidade ‘discernimento’”.    

No modelo clássico de comunicação nos acostumamos ao fato de que um emissor envia uma mensagem que vai ser decodificada por um receptor, que em seguida dá o seu feedback (retorno). Esse esquema básico é vivenciado diariamente por cada um de nós. Aa lógica das tecnologias é essa: enviar e receber informação. É uma lógica natural, até um animal, como o cão ao ser adestrado, depois de receber um comando de seu dono, repete o comportamento desejado. Parece muito simples. Mas, quando falamos do ser humano, não é possível utilizar a mesma lógica de estímulo-resposta. Diante de uma dada informação, cada pessoa tem a capacidade “discernimento”.

 

O discernimento

O discernimento não é a repetição de um comportamento aprendido a partir de hábitos, tradições ou esquemas pré-definidos. Conforme nos fala o Papa Francisco, na Exortação Apostólica Gaudete et Exultate, o discernimento se dá a partir da “predisposição para escutar: o Senhor, os outros, a própria realidade que não cessa de nos interpelar de novas maneiras”.

 

Nesse sentido, a Palavra de Deus é um elemento essencial a partir do qual Deus nos fala e que serve como ponto referencial para o nosso ser e agir. Mas essa não pode ser uma relação intimista; o discernimento exige vivência comunitária, exige o confronto, o diálogo e a capacidade de olhar o mundo sob diferentes pontos de vista, além do próprio “Eu”. Além disso, o discernimento precisa partir da realidade vivida, do contexto em que se está inserido, do mundo concreto que nos questiona, nos desinstala e nos compromete.

 

Assim, o discernimento não é uma ação que se realiza em um momento especial para fazer uma grande escolha, mas antes é uma condição existencial que acompanha o ser humano em todos os momentos de sua vida. A todo momento é preciso discernir: escutar, analisar, dialogar e fazer escolhas pequenas ou grandes. Qualquer ação que realizamos, palavra que dizemos ou comportamento que manifestamos deveria ser resultado de um discernimento cotidiano.

 

Tarefa educativa

O mundo de hoje, marcado pela aceleração do tempo, pela rapidez e velocidade das informações, pode ofuscar essa atitude humana e fundamentalmente cristã que é o discernimento. O desenvolvimento tecnológico e a ampliação dos meios de comunicação não podem provocar na pessoa atitudes de individualismo, “anestesiamento” e distanciamento da realidade. O mundo midiático tende, muitas vezes, a colocar o ser humano em ciclos fechados, autorreferenciais e alheios aos problemas concretos do mundo em que vivemos.

 

Desse modo, aqueles que têm a responsabilidade de educar, mais do que transmitir conhecimentos, precisam ajudar os jovens a desenvolverem a capacidade de discernimento. As informações são abundantes em todos os meios e lugares, mas a sabedoria para discernir o que fazer com elas, fazendo escolhas conscientes, é um exercício fundamental. Como nos lembra bem o Papa Francisco, o discernimento realiza-se sempre na presença do Senhor, olhando para os sinais, ouvindo o que acontece, no sentir do povo que conhece o caminho humilde da teimosia diária, e sobretudo dos pobres. Uma boa comunicação parte de uma madura capacidade de discernimento.

 

Educação e comunicação

Madre Mazzarello dizia com muita simplicidade: “Estudando as línguas deste mundo, estude também a linguagem da alma com Deus; Ele lhe ensinará a ciência de se tornar santa, a única verdadeira ciência”. Na realidade em que vivemos, aprendemos a dominar muitas linguagens, essa é uma condição para vivermos no mundo midiatizado. Aprendemos a fotografar, fazer vídeos, editar, publicar; nos adequamos às diferentes mídias e redes sociais... Mas como somos capazes de fazer uma leitura sapiencial de tudo isso?

 

Mais do que nunca, precisamos pensar a educação e a comunicação como elementos intimamente unidos. Como seres relacionais que somos, é necessário sair do unilateralismo de pensamento que nos fecha em ciclos viciosos, nos quais cada um cria sua própria verdade. Só por meio do discernimento poderemos fazer uma releitura de mundo e dar sentido a tudo que fazemos, dizemos e comunicamos. A capacidade de discernimento é condição prévia para a vivência do profetismo cristão no mundo de hoje. Porém, só é possível haver discernimento onde há escuta a Deus, ao outro e à realidade. Que possamos estar abertos à graça de Deus que torna possível o movimento de passagem do individualismo que nos fecha, para o discernimento que nos abre para a novidade e para a construção do Reino de Deus.

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Discernimento: condição para uma boa comunicação

Quarta, 06 Abril 2022 16:33 Escrito por  Ir. Márcia Koffermann, FMA
Discernimento: condição para uma boa comunicação iStock.com
“Parece muito simples. Mas, quando falamos do ser humano, não é possível utilizar a mesma lógica de estímulo-resposta. Diante de uma dada informação, cada pessoa tem a capacidade ‘discernimento’”.    

No modelo clássico de comunicação nos acostumamos ao fato de que um emissor envia uma mensagem que vai ser decodificada por um receptor, que em seguida dá o seu feedback (retorno). Esse esquema básico é vivenciado diariamente por cada um de nós. Aa lógica das tecnologias é essa: enviar e receber informação. É uma lógica natural, até um animal, como o cão ao ser adestrado, depois de receber um comando de seu dono, repete o comportamento desejado. Parece muito simples. Mas, quando falamos do ser humano, não é possível utilizar a mesma lógica de estímulo-resposta. Diante de uma dada informação, cada pessoa tem a capacidade “discernimento”.

 

O discernimento

O discernimento não é a repetição de um comportamento aprendido a partir de hábitos, tradições ou esquemas pré-definidos. Conforme nos fala o Papa Francisco, na Exortação Apostólica Gaudete et Exultate, o discernimento se dá a partir da “predisposição para escutar: o Senhor, os outros, a própria realidade que não cessa de nos interpelar de novas maneiras”.

 

Nesse sentido, a Palavra de Deus é um elemento essencial a partir do qual Deus nos fala e que serve como ponto referencial para o nosso ser e agir. Mas essa não pode ser uma relação intimista; o discernimento exige vivência comunitária, exige o confronto, o diálogo e a capacidade de olhar o mundo sob diferentes pontos de vista, além do próprio “Eu”. Além disso, o discernimento precisa partir da realidade vivida, do contexto em que se está inserido, do mundo concreto que nos questiona, nos desinstala e nos compromete.

 

Assim, o discernimento não é uma ação que se realiza em um momento especial para fazer uma grande escolha, mas antes é uma condição existencial que acompanha o ser humano em todos os momentos de sua vida. A todo momento é preciso discernir: escutar, analisar, dialogar e fazer escolhas pequenas ou grandes. Qualquer ação que realizamos, palavra que dizemos ou comportamento que manifestamos deveria ser resultado de um discernimento cotidiano.

 

Tarefa educativa

O mundo de hoje, marcado pela aceleração do tempo, pela rapidez e velocidade das informações, pode ofuscar essa atitude humana e fundamentalmente cristã que é o discernimento. O desenvolvimento tecnológico e a ampliação dos meios de comunicação não podem provocar na pessoa atitudes de individualismo, “anestesiamento” e distanciamento da realidade. O mundo midiático tende, muitas vezes, a colocar o ser humano em ciclos fechados, autorreferenciais e alheios aos problemas concretos do mundo em que vivemos.

 

Desse modo, aqueles que têm a responsabilidade de educar, mais do que transmitir conhecimentos, precisam ajudar os jovens a desenvolverem a capacidade de discernimento. As informações são abundantes em todos os meios e lugares, mas a sabedoria para discernir o que fazer com elas, fazendo escolhas conscientes, é um exercício fundamental. Como nos lembra bem o Papa Francisco, o discernimento realiza-se sempre na presença do Senhor, olhando para os sinais, ouvindo o que acontece, no sentir do povo que conhece o caminho humilde da teimosia diária, e sobretudo dos pobres. Uma boa comunicação parte de uma madura capacidade de discernimento.

 

Educação e comunicação

Madre Mazzarello dizia com muita simplicidade: “Estudando as línguas deste mundo, estude também a linguagem da alma com Deus; Ele lhe ensinará a ciência de se tornar santa, a única verdadeira ciência”. Na realidade em que vivemos, aprendemos a dominar muitas linguagens, essa é uma condição para vivermos no mundo midiatizado. Aprendemos a fotografar, fazer vídeos, editar, publicar; nos adequamos às diferentes mídias e redes sociais... Mas como somos capazes de fazer uma leitura sapiencial de tudo isso?

 

Mais do que nunca, precisamos pensar a educação e a comunicação como elementos intimamente unidos. Como seres relacionais que somos, é necessário sair do unilateralismo de pensamento que nos fecha em ciclos viciosos, nos quais cada um cria sua própria verdade. Só por meio do discernimento poderemos fazer uma releitura de mundo e dar sentido a tudo que fazemos, dizemos e comunicamos. A capacidade de discernimento é condição prévia para a vivência do profetismo cristão no mundo de hoje. Porém, só é possível haver discernimento onde há escuta a Deus, ao outro e à realidade. Que possamos estar abertos à graça de Deus que torna possível o movimento de passagem do individualismo que nos fecha, para o discernimento que nos abre para a novidade e para a construção do Reino de Deus.

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