Neste ano de 2021, estou fazendo a experiência de viver e trabalhar junto à comunidade salesiana missionária de São Gabriel da Cachoeira, no estado do Amazonas, como tirocinante da Inspetoria São João Bosco. Cheguei aqui no dia 1º de março e, desde então, estou vivendo o que poderíamos definir como uma “escola missionária”, porque cada novo dia é oportunidade de novas descobertas e experiências, enfrentando desafios nunca pensados e conhecendo realidades, até então, totalmente desconhecidas para mim.
Desde o primeiro momento em que olhei pela janelinha do avião e vi aquela imensidão de floresta e vários rios “caiu a ficha” em minha mente: realmente estou na Amazônia! Assim como sempre vi na TV. A região amazônica é de uma beleza exuberante, com paisagens naturais belíssimas, verdadeiras obras-primas de Deus criador.
Outra primeira impressão muito bonita é ver tantos irmãos e irmãs indígenas, com características físicas tão marcantes, como a cor da pele, os olhos brilhantes e os cabelos pretos. Ver a diversidade e riqueza cultural da Amazônia é fazer memória viva da nossa história, lembrar a nossa origem como Brasil e compreender melhor quem somos enquanto povo.
A Igreja, incluindo nossa Congregação Salesiana, é essencialmente missionária. Porém, aqui na região Norte, isso ganha ainda mais intensidade, porque os territórios são imensos; os acessos, geralmente pelo rio, são difíceis e caros; a diversidade cultural e linguística é vasta e há uma enorme carência de padres, religiosos e religiosas e outras lideranças que possam levar adiante a evangelização e a presença da Igreja nessas terras. Por isso, existe muito trabalho e trabalho “pesado”, exigente... Não é apenas serviço de visitas, pregações, celebração dos sacramentos, como pode se pensar da vida missionária, mas, é partilhar da vida e dos trabalhos do povo, carregar peso, sentir na própria pele a carência, a exclusão e o abandono do povo por parte dos políticos; ficar horas na estrada ou no rio; sentir as picadas dos insetos; comer a comida do povo simples, “temperada” com os temperos do amor, da partilha e da acolhida; escutar as histórias dos mais velhos, muitas vezes com palavras e expressões que não conhecemos bem; sujar os pés e as roupas de lama, desatolar carro; ficar sem internet e, às vezes, até sem energia elétrica... Tudo isso está envolvido com a vida salesiana missionária na Amazônia!
No fim disso tudo, a satisfação vem do sorriso e dos gritos dos nossos meninos e meninas brincando, correndo, pulando, jogando bola, contando suas piadas; vem dos olhares curiosos e brilhantes dos homens e mulheres da floresta; a alegria vem do contemplar a beleza da natureza, a generosidade do povo e a perseverança dos cristãos e cristãs que ficam, às vezes, meses sem a presença de um sacerdote, mas, olham e tocam com amor e devoção os pezinhos da pequena imagem de Nossa Senhora ou a cruz lá do altar. Aqui se aprende a viver sem os excessos, a valorizar a simplicidade e se alegrar com as coisas pequenas da vida. Tudo aqui se torna festa, dança, música, celebração, fé... Aqui vive-se naquela mesma pobreza e simplicidade dos inícios de Valdocco, onde viveram e se santificaram Dom Bosco, Mamãe Margarida, o menino Sávio, Padre Rua e tantos outros. Estar aqui na Amazônia com certeza me enriquece muito como gente, cristão e Salesiano de Dom Bosco!
Fonte: Acontece – Inspetoria São João Bosco