É natural que o iniciar de um novo ano venha carregado de bons desejos, muitas esperanças e novos propósitos. Principalmente após a difícil travessia de um ano marcado por uma experiência única e forte como a Covid-19.
O ano de 2020, que já se tornou velho, foi tão intenso na experiência da pandemia que deixa para nós, em 2021, o que está se convencionando chamar de “novo normal”. E o que é essa novidade? O que é este “novo”, que vai muito além de um novo ano?
Experiências de transformação trazidas em tempos passados pela industrialização e, mais recentemente, pela tecnologia e pela revolução digital, impactaram na sociedade e na vida das pessoas, introduziram novos hábitos e costumes. Isso faz parte de um contexto que impõe grandes mudanças e nos leva a conviver com situações que até um período anterior não se pensava existirem. Dos meios de transporte àqueles de nos comunicarmos virtualmente, da forma de nos alimentarmos à de comprar pela internet e receber em nossa porta livros, eletrônicos, alimentos e tantas outras coisas, tudo se constitui como novos padrões de comportamento e uma forma nova de vivermos e de nos relacionarmos.
Aprendizados
A pandemia que estamos ainda atravessando não apenas nos levou a novos hábitos – de higiene, distanciamento, uso de máscaras, entre outras coisas –, mas também atingiu todos os países, todas as idades, negócios, economias, sociedades e governos, das mais diferentes formas. Tudo com mudanças tão impactantes, que nos fazem pensar que não será possível voltarmos às mesmas condições a que estávamos acostumados. Precisaremos nos habituar a um “novo normal”.
Olhando para toda esta diferente realidade, do ponto de vista da ação social entendida como uma atenção especial para os menos favorecidos e os que vivem à margem na sociedade, cabe nos interrogarmos sobre o que precisamos acolher e repensar nos nossos relacionamentos e nosso viver, sobre quais aprendizados nos estão sendo trazidos.
Um vírus que abala estruturas e atinge a vida de pessoas em todos os continentes, de todas as idades, das mais diferentes classes sociais, nas mais diversas condições econômicas e de saúde, tem algo muito importante a nos dizer. Há que saber estar atentos e acolher o que nos foi ofertado (mesmo sem pedirmos) como interpelação.
Todos somos responsáveis por todos
Estamos todos dentro de um mesmo “barco”: o da vida, o do planeta Terra. Podemos ocupar espaços diferentes e viver em condições diferenciadas, mas estamos todos expostos aos mesmos riscos e “perigos”. Temos que ter consciência de que não nos salvaremos sozinhos. A pandemia nos fez perceber o quanto somos dependentes uns dos outros. Independentemente de termos mais, ou acharmos que “somos mais”, é necessário que todos estejam bem para podermos estar conjuntamente protegidos. Todos precisamos de todos, pois se alguém não se cuida, ficamos todos expostos.
O vírus, minúsculo e invisível, adentra a morada do pobre e a do rico, a cabana na floresta e o palácio na cidade, o espaço sob os viadutos assim como o alto dos grandes arranha-céus. De forma indistinta, ele nos diz apenas que somos humanos, que somos frágeis, que se não formos solidários na “graça”, podemos ser, involuntariamente, irmãos na “desgraça”.
Para não sermos indiferentes ao que o vírus pode nos causar, precisamos aprender a ser diferentes no cuidado que precisamos ter para com o nosso próximo. Não é quem tem pouco ou nada que necessita dos mais abastados. O que possui melhores e maiores recursos necessita que quem tem muito menos se cuide e se previna, para não se contaminar e colocar em risco todos os demais. A palavra de ordem é “solidariedade”, ou, dito de outra forma: todos somos responsáveis por todos e, enquanto seres humanos, todos valemos uns tanto quanto os demais. Nem mais e nem menos, nem melhores e nem piores. Somos apenas humanos e finitos.
Conviva mais, ame mais
Há algo mais, porém, que o “novo normal” vem pedir para cada um de nós: corra menos, conviva mais, ame mais, valorize o que é essencial para a vida. De repente as ruas ficaram vazias, as fábricas pararam, os escritórios tornaram-se as salas ou os quartos nas moradias, passamos a estar necessariamente próximos daqueles das nossas famílias com os quais quase não nos encontrávamos, mesmo vivendo dentro do mesmo lar. Para quase tudo nos faltava tempo, era difícil sentar-se para conversar, para se alimentar juntos e podermos olhar no rosto de quem habita sob o mesmo teto. Tínhamos oportunidade de abraçar e de beijar, mas, talvez, não achássemos que isso fosse tão importante, ou tão necessário, quanto todas as outras coisas atrás das quais corríamos freneticamente.
Em meio à pandemia ficou muito difícil nos percebermos tão próximos e não podermos nos permitir um abraço, um beijo, um gesto de carinho... mesmo para pessoas tão queridas quanto pais, irmãos, amigos, companheiros e companheiras... Nunca fez tanto sentido cantar: “Segura teu filho no colo. Sorria e abraça os teus pais enquanto estão aqui”. Essa mesma música nos diz ainda: “Que a vida é trem-bala, parceiro, e a gente é só passageiro prestes a partir” (trecho da música “Trem-bala”, de Ana Vilela).
A vida passa mesmo que não queiramos. Precisamos parar é de achar que viajamos sozinhos e com tanta pressa, que acabamos nos tornando indiferentes ao próximo, a quem está ao nosso lado. Acreditar que só podemos ter tempo para nossos próprios interesses e preocupações. O “trem” sempre vai chegar na estação, o essencial é chegarmos juntos, felizes, fraternos, carregados de amor, amando e sentindo-nos amados.
Em 2021, faça do social, do amor ao próximo, da solidariedade, da fraternidade... o “novo normal”, as verdadeiras alegrias e esperanças que sempre queremos para um ano verdadeiramente novo. Coloque em sua lista de desejos gastar um pouco do seu tempo para fazer o bem, apoiar um projeto social, viver a alegria do voluntariado. Feliz Ano Novo! São os votos da Rede Salesiana Brasil de Ação Social (RSB-Social) e da União Pela Vida (UPV).
Padre Agnaldo Soares Lima, SDB, é assessor da Rede Salesiana Brasil de Ação Social (RSB-Social).
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