Faz já algum tempo que a expressão “crime organizado” passou a fazer parte do cotidiano dos nossos noticiários e a refletir a mobilização de grupos que se unem para atuar de forma delituosa e promover o mal. A força intensa de tais grupos e de suas ações nocivas à sociedade nos remetem a uma afirmação de Jesus nos Evangelhos, quando nos diz que: “Os filhos das trevas são mais espertos que os filhos da luz” (Lc 16,8).
Em outro artigo para o Boletim Salesiano refletimos que o “bem é infinitamente maior do que o mal”. Essa é uma verdade que não é difícil constatar. Mesmo diante de um “mal” vivido por causas naturais, como está sendo o Covid-19, que já ceifou mais de setecentas mil vidas, não precisamos ter dúvidas de que muitos milhões foram poupados pelo grande movimento de solidariedade para com os que, na pandemia, ficaram ainda mais expostos à pobreza e vulneráveis na saúde.
Em todos os países, foram inúmeras as pessoas, as organizações sociais e os grupos empresariais que se mobilizaram para levar alimento, cuidados de saúde e de higiene, proteção aos profissionais envolvidos na atenção aos doentes. Ações que, decisivamente, salvaram muito mais vidas dos que as que tristemente se perderam.
Tivéssemos tido a oportunidade de reunir as informações do bem realizado, assim como foram somadas as estatísticas de contaminados e mortos pelo coronavírus, neste momento estaríamos positivamente impactados e muito mais esperançosos por sabermos que, de fato, nossa capacidade de gerar o bem é incomparavelmente superior às forças do mal.
Ações da RSB-Social
A Rede Salesiana Brasil de Ação Social (RSB-Social), dentre alguns compromissos fundamentais assumidos desde 2015, estabeleceu o da: “Cooperação para o desenvolvimento com enfoque social”. O que se busca com tal compromisso é estar atentos à importância de dar escala às ações sociais que são promovidas localmente, bem como a consciência de que atuar unidos fortalece todos os que trabalham em prol da solidariedade e do bem-estar dos que vivem à margem da sociedade.
Enquanto salesianos trabalhamos muito pela causa da infância e da juventude, sobremaneira entre os mais marginalizados. Sabemos que atuamos com dedicação e competência, mas carregamos a certeza de que, se o fizermos de braços dados com os que ao nosso lado assumem outras frentes dos problemas sociais que nos desafiam, contagiaremos com a força do bem muito mais pessoas e organizações.
Ao alcançar de modo especial crianças, adolescentes e jovens nos programas sociais salesianos, nos deparamos com as necessidades de suas famílias, com a presença de idosos (nessas mesmas famílias), com situações de doenças, com a aflição do desemprego, com necessidades de suporte jurídico, com demandas que estão no âmbito das políticas setoriais (assistência social, saúde, educação etc.) de responsabilidade da gestão pública, e assim por diante. Olhando para todo esse contexto, fica mais clara a necessidade da construção de parcerias, de espaços conjuntos de formação, de compartilhamento dos serviços, da busca pelo respeito e o reconhecimento do gestor público, que também precisa ser parceiro dessas instituições.
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Cooperação
Os governantes tiveram de se desdobrar e se empenhar para fazer sua parte no enfrentamento à pandemia. Muitos fizeram com zelo e não faltaram também nesse momento aqueles que demonstraram insensibilidade e até os que tentaram tirar proveito. Infelizmente até mesmo nesse dramático contexto emergiram denúncias de corrupção. Uma coisa, porém, é certa: sem a participação da sociedade civil, de empresários conscientes, das organizações sociais, os efeitos de dor e sofrimento causados pelo vírus estariam sendo ainda maiores.
“Cooperação para o desenvolvimento” – como compromisso proposto para as obras sociais salesianas no Brasil – significa compreender que todas essas forças vivas da sociedade não concorrem no bem que promovem. Pelo contrário, ao se aproximarem e se unirem, elas se tornam importante fator de desenvolvimento numa dimensão particularmente essencial, que é aquela das causas sociais. Atuar com enfoque na busca pela aproximação e pelo fortalecimento de parcerias entre diferentes instituições sociais faz da presença salesiana, em cada localidade, um centro catalizador das forças vivas da sociedade que, unidas, reconhecidas e valorizadas, crescem na realização do bem e da transformação social. Mais uma vez encontra-se uma forma de fazer com que o ideal de Dom Bosco de “criar um vasto movimento em favor da vida e da juventude” ganhe novos contornos na atualidade.
Nesse grande cordão para gerar e promover o bem há espaço para todos. Devem se unir instituições, projetos sociais, empresários, o poder público. Há também lugar para o cristão e a cristã que não querem ficar de fora e que se sentem chamados a gestos concretos de solidariedade. Certamente que, próximo de você, há quem precise do seu apoio para promover o bem e há, também, irmãs e irmãos esperando por uma atitude solidária de quem se dispõe a estender a mão. Se do mal pode brotar o bem, o que de melhor pode advir da experiência da pandemia são corações cristãos mais generosos e solidários. Não fique de fora!
Padre Agnaldo Soares Lima, SDB, é assessor da Rede Salesiana Brasil de Ação Social (RSB-Social).
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