De acordo com o artigo “A Bíblia na educação das novas gerações,” do saudoso padre Marcos Sandrini, Dom Bosco não pôde colocar a Bíblia nas mãos dos jovens do seu tempo, porque era proibido seu uso para os leigos. Mas ele não se contentou com isso, antes, “já em 1847, escreveu um livro intitulado História Sagrada para uso das escolas, útil para qualquer estado de pessoas. Quando eu era aspirante à vida salesiana, ainda não tínhamos acesso à Bíblia e então usávamos esta História Sagrada. Era um modo precário de se entrar em contato com a Palavra de Deus. Depois veio o Concílio Vaticano II e revalorizou a Bíblia na Igreja, tornando-a um instrumento indispensável para a vida cristã.
O livro escolhido para estudo e reflexão, neste ano, é o Deuteronômio. Nele encontramos as leis que regulam as relações com Deus e com o próximo. A preocupação principal do livro é promover a justiça, a solidariedade com os pobres, com o órfão, a viúva e o estrangeiro. As leis, nele contidas, indicam o caminho para se realizar a vontade de Deus.
Fica muito claro que, ao lermos e estudarmos esse livro da Bíblia, queremos trazê-lo para a nossa realidade. O texto-base para o mês da Bíblia indica algumas destas realidades, que gostaria de destacar aqui: o número dos pobres aumenta nos nossos dias; migalhas governamentais são distribuídas; o desemprego cresceu; as comunidades da Amazônia continuam ameaçadas; existe um clima exacerbado de intolerância, discriminações, conflitos, tempo de “fake news”; há muita maldade sendo praticada; observa-se o crescimento das migrações; vivemos numa época de grandes transformações e de crises; as queimadas e destruições da Amazônia persistem...
Diante de tudo isso, o livro do Deuteronômio nos ajuda a refletir que não basta ver essa realidade e sentir piedade. A Palavra de Deus exige ações concretas. Esta é uma das preocupações da Família Salesiana, refletida nas páginas do Boletim Salesiano. Sempre procuramos trazer para os nossos leitores textos que ajudem a ler a Palavra de Deus e a levar as pessoas para que realizem a vontade de Deus, fazendo gestos concretos para com os jovens mais pobres e para com as classes populares.
Ao mesmo tempo, esse livro nos apresenta dois aspectos marcantes da espiritualidade salesiana: o amor como essência da lei e a escolha da vida “para que vivas, tu e a tua descendência, amando ao Senhor, teu Deus” (Dt 30,19). Poderíamos dizer que a jovem venezuelana Eusibeth, saudando o Reitor-mor em visita à Venezuela, assim resumiu estes dois aspectos apresentados no livro bíblico: “A espiritualidade salesiana permitiu-nos caminhar na esperança, renovando a nossa fé, mesmo quando por vezes tudo parece incerto e irrealizável”. E o padre Ángel termina o seu artigo dizendo que se existem jovens que não estão preocupados com a vida, perdidos na confusão e na escravidão, “há muitos outros, milhões e milhões que acreditam na vida, na beleza do amor, na beleza da partilha e na plenitude de significado que Deus lhes dá. Sabem que não somos derrotados quando perdemos, mas quando desistimos”.
“Ponho diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas com a tua posteridade” (Dt 30,19). Assim, lendo, refletindo e celebrando a Palavra de Deus, somos convidados a sempre escolher o amor e a vida!
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