“O maior de tudo é o amor”

Segunda, 11 Mai 2020 10:55 Escrito por  Pe. Ángel Fernández Artime
Meus queridos amigos do Boletim, escrevo num momento em que todos estamos atônitos e confusos. E penso no mês de maio, o mês dedicado à Mãe. Em todo o mundo salesiano, nos confiamos à nossa mãe comum, Maria Auxiliadora, e rezamos pedindo ao Senhor, com a sua mediação, auxílio e conforto nestas horas terríveis para todos. Além disso, com o receio das dificuldades que teremos de enfrentar “depois”.  

Mas acontece que no meio de tanta dor, pranto e morte, mesmo nas perdas mais dolorosas, descobrimos pessoas que são “palavra de Deus” e sua mediação para nós com o seu testemunho de fé e de força. Não me atrevo a usar palavras minhas, desde que conheci as de outras pessoas, carregadas de autenticidade e de fé provada, verdadeiros testemunhos de “abandono a Deus”.

 

Assim ofereço a vocês este testemunho real. Graças a ele, descobrimos que “milagre” são as pessoas.

 

Testemunho

Acaba de perder o marido. Casaram há 23 anos e tiveram cinco filhos, formando uma bela família. Hoje, aos 50 anos de idade, o coronavírus levou-lhe o marido.

 

Tudo começou com uma doença, no dia do aniversário de uma das suas filhas. Acordou com febre alta. Tinha sintomas semelhantes aos da epidemia, congestão e uma tosse que julgavam passageira. Todavia, com o passar das horas, o quadro tornou-se mais complicado.

 

Não tinha dificuldade em respirar, mas sentia vertigens. Chamou-se a ambulância e foi levado ao hospital. Ao princípio ficou em observação. Não suspeitavam que estivesse infectado pelo coronavírus. Além disso, naquela altura não havia o material necessário para o teste da Covid-19. Apesar de tudo, naquela mesma noite, ficou em isolamento preventivo.

 

No dia seguinte foi para a UTI, onde lhe foi feito o teste. Os médicos disseram à esposa que já não podia estar junto dele, que tinha de voltar para casa. Pouco depois, foi chamada ao hospital para se despedir do marido porque a situação dele era muito delicada.

 

Ela chegou ao hospital com um sacerdote para lhe administrar a unção dos enfermos e despediu-se dele. Naquela mesma tarde, foram informados de que o teste do coronavírus dera positivo e desde então ela ficou de quarentena em casa, enquanto o marido passou as últimas horas no hospital. Sozinho.

 

Diz que durante todo este tempo o que mais lhe custou foi não poder ir vê-lo, estar com ele e falar com ele. Estava em isolamento e não deixavam entrar ninguém. Todo o hospital tinha pacientes infectados e ninguém podia entrar.

 

“Confio em Deus”

Ao mesmo tempo, em casa, esta mulher e mãe viveu a dor com um coração enorme. “É muito difícil, mas Cristo tem-me nos seus braços. Sentir que Ele está comigo na cruz e eu com Ele e nos sustentamos reciprocamente, e saber que também o meu marido está nas suas mãos, me dá forças”.

 

Esta mãe e os seus filhos encontraram conforto na oração: “Rezamos o terço todos os dias e fazemos a novena a São José. Rezamos também por todos os que se encontram em situações semelhantes”.

 

Com uma fé admirável, confidencia: “Foram dias em que estive muito mal, mas agora vejo tudo com mais paz, com mais aceitação. Viver com resignação ajuda a viver com menos desespero o sofrimento de não o ver, mas com a paz de que no fim é a vontade de Deus, sempre”. Poucos dias antes da morte do marido, sentia que queria compartilhar com os outros como é que estavam vivendo em família.

 

O seu testemunho ensina-nos que, embora não estejamos preparados para provas difíceis como estas, sentir a presença amorosa de Deus dá-nos força e ajuda-nos a viver o sofrimento “com menos desespero”, afirma esta mulher que sabe que o amor não conhece limites e que é importante agarrar-se à cruz, sobretudo em momentos como esses.

 

Dois dias antes da morte do marido, enviou esta mensagem: “Muito obrigada por tantas mensagens de apoio e de oração. Estou viva. Conforta-me saber que há muitas pessoas que rezam por ele. Que no fim, se não curar, é porque há um bem maior. É uma ferida a sangrar, com muita força, mas ao mesmo tempo Deus permite-me ver o amor dos outros, ver como Ele nos ama. E isto é muito mais importante e maior do que nós mesmos”.

 

Esta mulher e sua família, quando receberam a notícia da morte do marido e pai, uniram-se mais do que nunca. Continuam a respirar aquele amor com a certeza de não estarem sós. Somente um coração que ama profundamente pode dizer: “Foi para o céu, com Jesus. Confio em Deus, que me dá força e paz”.

 

Deixo-vos este testemunho. Porventura outras pessoas viverão perdidas com desespero situações semelhantes. Haverá quem não compreenda que se pode reagir como esta mulher e mãe. Mas devemos aceitar que todas as pessoas são únicas e irrepetíveis, e neste caso a fé fez transcender e superar a perda de uma pessoa tão amada, apesar da dor e do grande vazio da perda existirem sempre.

 

Dom Bosco recomendou-nos sempre que tenhamos confiança em Maria Auxiliadora, e veremos o que são milagres. A nossa tendência natural, rápida e imediata, é considerar milagre só a cura de um cancro ou de uma doença semelhante… mas o que foi vivido no coração desta mulher e mãe e dos seus cinco filhos é um milagre vivido na fé.

 

Não percamos esta fé nem a esperança que deve caracterizar-nos. Que Maria Auxiliadora continue a levar-nos pela mão como Mãe, pois o que Jesus disse é sempre absolutamente verdadeiro para todos: “Mulher, este é o teu filho; filho, esta é a tua mãe” (Jo 19, 26-27).

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“O maior de tudo é o amor”

Segunda, 11 Mai 2020 10:55 Escrito por  Pe. Ángel Fernández Artime
Meus queridos amigos do Boletim, escrevo num momento em que todos estamos atônitos e confusos. E penso no mês de maio, o mês dedicado à Mãe. Em todo o mundo salesiano, nos confiamos à nossa mãe comum, Maria Auxiliadora, e rezamos pedindo ao Senhor, com a sua mediação, auxílio e conforto nestas horas terríveis para todos. Além disso, com o receio das dificuldades que teremos de enfrentar “depois”.  

Mas acontece que no meio de tanta dor, pranto e morte, mesmo nas perdas mais dolorosas, descobrimos pessoas que são “palavra de Deus” e sua mediação para nós com o seu testemunho de fé e de força. Não me atrevo a usar palavras minhas, desde que conheci as de outras pessoas, carregadas de autenticidade e de fé provada, verdadeiros testemunhos de “abandono a Deus”.

 

Assim ofereço a vocês este testemunho real. Graças a ele, descobrimos que “milagre” são as pessoas.

 

Testemunho

Acaba de perder o marido. Casaram há 23 anos e tiveram cinco filhos, formando uma bela família. Hoje, aos 50 anos de idade, o coronavírus levou-lhe o marido.

 

Tudo começou com uma doença, no dia do aniversário de uma das suas filhas. Acordou com febre alta. Tinha sintomas semelhantes aos da epidemia, congestão e uma tosse que julgavam passageira. Todavia, com o passar das horas, o quadro tornou-se mais complicado.

 

Não tinha dificuldade em respirar, mas sentia vertigens. Chamou-se a ambulância e foi levado ao hospital. Ao princípio ficou em observação. Não suspeitavam que estivesse infectado pelo coronavírus. Além disso, naquela altura não havia o material necessário para o teste da Covid-19. Apesar de tudo, naquela mesma noite, ficou em isolamento preventivo.

 

No dia seguinte foi para a UTI, onde lhe foi feito o teste. Os médicos disseram à esposa que já não podia estar junto dele, que tinha de voltar para casa. Pouco depois, foi chamada ao hospital para se despedir do marido porque a situação dele era muito delicada.

 

Ela chegou ao hospital com um sacerdote para lhe administrar a unção dos enfermos e despediu-se dele. Naquela mesma tarde, foram informados de que o teste do coronavírus dera positivo e desde então ela ficou de quarentena em casa, enquanto o marido passou as últimas horas no hospital. Sozinho.

 

Diz que durante todo este tempo o que mais lhe custou foi não poder ir vê-lo, estar com ele e falar com ele. Estava em isolamento e não deixavam entrar ninguém. Todo o hospital tinha pacientes infectados e ninguém podia entrar.

 

“Confio em Deus”

Ao mesmo tempo, em casa, esta mulher e mãe viveu a dor com um coração enorme. “É muito difícil, mas Cristo tem-me nos seus braços. Sentir que Ele está comigo na cruz e eu com Ele e nos sustentamos reciprocamente, e saber que também o meu marido está nas suas mãos, me dá forças”.

 

Esta mãe e os seus filhos encontraram conforto na oração: “Rezamos o terço todos os dias e fazemos a novena a São José. Rezamos também por todos os que se encontram em situações semelhantes”.

 

Com uma fé admirável, confidencia: “Foram dias em que estive muito mal, mas agora vejo tudo com mais paz, com mais aceitação. Viver com resignação ajuda a viver com menos desespero o sofrimento de não o ver, mas com a paz de que no fim é a vontade de Deus, sempre”. Poucos dias antes da morte do marido, sentia que queria compartilhar com os outros como é que estavam vivendo em família.

 

O seu testemunho ensina-nos que, embora não estejamos preparados para provas difíceis como estas, sentir a presença amorosa de Deus dá-nos força e ajuda-nos a viver o sofrimento “com menos desespero”, afirma esta mulher que sabe que o amor não conhece limites e que é importante agarrar-se à cruz, sobretudo em momentos como esses.

 

Dois dias antes da morte do marido, enviou esta mensagem: “Muito obrigada por tantas mensagens de apoio e de oração. Estou viva. Conforta-me saber que há muitas pessoas que rezam por ele. Que no fim, se não curar, é porque há um bem maior. É uma ferida a sangrar, com muita força, mas ao mesmo tempo Deus permite-me ver o amor dos outros, ver como Ele nos ama. E isto é muito mais importante e maior do que nós mesmos”.

 

Esta mulher e sua família, quando receberam a notícia da morte do marido e pai, uniram-se mais do que nunca. Continuam a respirar aquele amor com a certeza de não estarem sós. Somente um coração que ama profundamente pode dizer: “Foi para o céu, com Jesus. Confio em Deus, que me dá força e paz”.

 

Deixo-vos este testemunho. Porventura outras pessoas viverão perdidas com desespero situações semelhantes. Haverá quem não compreenda que se pode reagir como esta mulher e mãe. Mas devemos aceitar que todas as pessoas são únicas e irrepetíveis, e neste caso a fé fez transcender e superar a perda de uma pessoa tão amada, apesar da dor e do grande vazio da perda existirem sempre.

 

Dom Bosco recomendou-nos sempre que tenhamos confiança em Maria Auxiliadora, e veremos o que são milagres. A nossa tendência natural, rápida e imediata, é considerar milagre só a cura de um cancro ou de uma doença semelhante… mas o que foi vivido no coração desta mulher e mãe e dos seus cinco filhos é um milagre vivido na fé.

 

Não percamos esta fé nem a esperança que deve caracterizar-nos. Que Maria Auxiliadora continue a levar-nos pela mão como Mãe, pois o que Jesus disse é sempre absolutamente verdadeiro para todos: “Mulher, este é o teu filho; filho, esta é a tua mãe” (Jo 19, 26-27).

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