O Culto dos Santos

Terça, 08 Julho 2014 11:13 Escrito por 
O calendário litúrgico da Igreja Católica contempla o culto dos santos e santas nas celebrações do mistério pascal. Não vamos adentrar sua história e doutrina para não nos delongarmos. Porém, algumas coisas podem nos ajudar a compreender o seu sentido e celebrar os santos ativa, consciente e frutuosamente.

A Sacrosanctum Concilium dá dois motivos para esse culto. Afirma, primeiro, que “Na vida de nossos companheiros de humanidade mais perfeitamente transformados à imagem do Cristo, Deus manifesta aos homens, numa viva luz, sua presença e sua face”. Completa depois que “A comunidade com os santos nos une ao Cristo, de quem decorrem, como de sua fonte e cabeça, toda graça e a vida do próprio povo de Deus” (cf. Lumem Gentium 50).

Quer dizer: na celebração litúrgica, os “santos” que já passaram a Deus têm o seu devido lugar, sem ofuscar a centralidade do mistério pascal de Jesus Cristo. Eles foram transformados à imagem do próprio Cristo, nos quais Deus “manifesta sua presença e sua face”.

E tem mais: os santos “nos unem a Cristo, fonte e cabeça de todo o corpo eclesial, de quem recebemos toda vida e toda graça”. Está bem claro que o “canal” da graça e da salvação é Jesus Cristo. Os santos podem nos ajudar, pela sua intercessão, para que nós alcancemos esse canal e desfrutemos dessa salvação!

Se eles, em vida, se transformaram na própria imagem do Cristo, configurando-se com Ele, é mais do que justo que eles devam ser lembrados e invocados na celebração do mistério pascal, participantes que foram desse próprio mistério.

 

Participar sem ofuscar

Essa compreensão é muito importante, porque corremos o perigo de, na celebração, darmos mais valor a Maria e aos santos do que a Jesus Cristo. E não só corremos perigo, como de fato acontece em muitos lugares.

Por exemplo: no mês de maio, em nossas comunidades, parece que só existe Maria... Faz-se um trono suntuoso para ela, ofuscando até a própria mesa eucarística. Aliás, às vezes esta até “desaparece” diante dos degraus, panos e flores para a mãe de Jesus! Sem falar dos cantos marianos do início ao fim da celebração, cujas letras não cantam a participação (!) de Maria no mistério pascal.

No mês de agosto, nas obras salesianas do Brasil, costuma-se celebrar nosso Pai e Mestre, Dom Bosco, lembrando o seu nascimento. No mês inteiro, corremos o perigo de falar mais dele (vida, milagres, feitos) do que de Jesus Cristo! Posso até exagerar, mas, prestemos atenção se não tem algo de verdade nisso... E os cantos nas celebrações seguem essa trilha, sem acenar ao mistério que se celebra.

Afinal, que mistério é esse que se celebra na eucaristia (missa)? É o mistério de Maria, de Dom Bosco, de São Francisco de Assis, de Santo Expedito, de Santo Antonio, de São João, de São José, de São Judas? Ou é o mistério pascal de Jesus Cristo?!

Os santos foram pessoas que, pelo seu testemunho, imitaram mais de perto a Jesus em alguns aspectos: na pobreza, na pregação, no sofrimento, no cuidado com doentes, pobres, marginalizados, no ensino, na atenção às crianças e aos jovens... Enfim, imitaram Jesus na sua entrega ao Pai e aos irmãos, vivendo radicalmente a fé, a esperança e a caridade. Por isso, a Igreja os declara “santos”; e, por isso, têm direito de ser cultuados pelo povo de Deus.

 

Solenidade de São João Bosco

Vejamos como a liturgia nos inspira na celebração da solenidade de São João Bosco. A Antífona de Entrada: “O Senhor deu-lhe sabedoria e prudência e um coração tão grande como as praias à beira-mar” (1Rs 5,9). Nas Oferendas, a oração pede para que “nos amemos em tudo e acima de todas as coisas, para que nossa vida seja um hino à glória de Deus”. O Prefácio exalta-o como dom de Deus à Igreja e, junto com todos os anjos e santos, cantando, proclamamos a glória divina. A Antífona da comunhão diz: “Quem acolhe até mesmo um destes meninos em meu nome, é a mim que acolhe” (Mt 18,5), lembrando o trabalho pastoral do Pai da Juventude, na imitação do próprio Senhor! E a Oração final nos faz pedir ao Pai para que imitemos o trabalho incansável de São João Bosco em levar os jovens ao amor de Cristo...

Percebe-se nitidamente a preocupação da liturgia em colocar Dom Bosco como um caminho a ser admirado, imitado, em sua conformação com o próprio Senhor Jesus Cristo, centro da liturgia! Então, dos comentários/menções/homilia aos cantos durante a celebração, devemos cantar o mistério pascal de Jesus Cristo, concretizado na vida do Pai da Juventude.

Está bem claro para nós que a liturgia manifesta nos santos a obra redentora do Senhor em seu mistério pascal, “até que ele venha”. Eles já fizeram a passagem e estão com o Cristo quanto à sua alma, tendo-nos deixado sua vida por modelo e estímulo. Permanecem unidos a nós para além da morte e nos auxiliam, já que todos nós somos membros de um mesmo corpo. Conosco, eles esperam ainda o último acabamento do mistério pascal, a ressurreição dos corpos, uma vez que lhes é dito “que tenham ainda um pouco de paciência, até que esteja completo o número de seus companheiros de serviço e seus irmãos” (Ap 6,11).

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O Culto dos Santos

Terça, 08 Julho 2014 11:13 Escrito por 
O calendário litúrgico da Igreja Católica contempla o culto dos santos e santas nas celebrações do mistério pascal. Não vamos adentrar sua história e doutrina para não nos delongarmos. Porém, algumas coisas podem nos ajudar a compreender o seu sentido e celebrar os santos ativa, consciente e frutuosamente.

A Sacrosanctum Concilium dá dois motivos para esse culto. Afirma, primeiro, que “Na vida de nossos companheiros de humanidade mais perfeitamente transformados à imagem do Cristo, Deus manifesta aos homens, numa viva luz, sua presença e sua face”. Completa depois que “A comunidade com os santos nos une ao Cristo, de quem decorrem, como de sua fonte e cabeça, toda graça e a vida do próprio povo de Deus” (cf. Lumem Gentium 50).

Quer dizer: na celebração litúrgica, os “santos” que já passaram a Deus têm o seu devido lugar, sem ofuscar a centralidade do mistério pascal de Jesus Cristo. Eles foram transformados à imagem do próprio Cristo, nos quais Deus “manifesta sua presença e sua face”.

E tem mais: os santos “nos unem a Cristo, fonte e cabeça de todo o corpo eclesial, de quem recebemos toda vida e toda graça”. Está bem claro que o “canal” da graça e da salvação é Jesus Cristo. Os santos podem nos ajudar, pela sua intercessão, para que nós alcancemos esse canal e desfrutemos dessa salvação!

Se eles, em vida, se transformaram na própria imagem do Cristo, configurando-se com Ele, é mais do que justo que eles devam ser lembrados e invocados na celebração do mistério pascal, participantes que foram desse próprio mistério.

 

Participar sem ofuscar

Essa compreensão é muito importante, porque corremos o perigo de, na celebração, darmos mais valor a Maria e aos santos do que a Jesus Cristo. E não só corremos perigo, como de fato acontece em muitos lugares.

Por exemplo: no mês de maio, em nossas comunidades, parece que só existe Maria... Faz-se um trono suntuoso para ela, ofuscando até a própria mesa eucarística. Aliás, às vezes esta até “desaparece” diante dos degraus, panos e flores para a mãe de Jesus! Sem falar dos cantos marianos do início ao fim da celebração, cujas letras não cantam a participação (!) de Maria no mistério pascal.

No mês de agosto, nas obras salesianas do Brasil, costuma-se celebrar nosso Pai e Mestre, Dom Bosco, lembrando o seu nascimento. No mês inteiro, corremos o perigo de falar mais dele (vida, milagres, feitos) do que de Jesus Cristo! Posso até exagerar, mas, prestemos atenção se não tem algo de verdade nisso... E os cantos nas celebrações seguem essa trilha, sem acenar ao mistério que se celebra.

Afinal, que mistério é esse que se celebra na eucaristia (missa)? É o mistério de Maria, de Dom Bosco, de São Francisco de Assis, de Santo Expedito, de Santo Antonio, de São João, de São José, de São Judas? Ou é o mistério pascal de Jesus Cristo?!

Os santos foram pessoas que, pelo seu testemunho, imitaram mais de perto a Jesus em alguns aspectos: na pobreza, na pregação, no sofrimento, no cuidado com doentes, pobres, marginalizados, no ensino, na atenção às crianças e aos jovens... Enfim, imitaram Jesus na sua entrega ao Pai e aos irmãos, vivendo radicalmente a fé, a esperança e a caridade. Por isso, a Igreja os declara “santos”; e, por isso, têm direito de ser cultuados pelo povo de Deus.

 

Solenidade de São João Bosco

Vejamos como a liturgia nos inspira na celebração da solenidade de São João Bosco. A Antífona de Entrada: “O Senhor deu-lhe sabedoria e prudência e um coração tão grande como as praias à beira-mar” (1Rs 5,9). Nas Oferendas, a oração pede para que “nos amemos em tudo e acima de todas as coisas, para que nossa vida seja um hino à glória de Deus”. O Prefácio exalta-o como dom de Deus à Igreja e, junto com todos os anjos e santos, cantando, proclamamos a glória divina. A Antífona da comunhão diz: “Quem acolhe até mesmo um destes meninos em meu nome, é a mim que acolhe” (Mt 18,5), lembrando o trabalho pastoral do Pai da Juventude, na imitação do próprio Senhor! E a Oração final nos faz pedir ao Pai para que imitemos o trabalho incansável de São João Bosco em levar os jovens ao amor de Cristo...

Percebe-se nitidamente a preocupação da liturgia em colocar Dom Bosco como um caminho a ser admirado, imitado, em sua conformação com o próprio Senhor Jesus Cristo, centro da liturgia! Então, dos comentários/menções/homilia aos cantos durante a celebração, devemos cantar o mistério pascal de Jesus Cristo, concretizado na vida do Pai da Juventude.

Está bem claro para nós que a liturgia manifesta nos santos a obra redentora do Senhor em seu mistério pascal, “até que ele venha”. Eles já fizeram a passagem e estão com o Cristo quanto à sua alma, tendo-nos deixado sua vida por modelo e estímulo. Permanecem unidos a nós para além da morte e nos auxiliam, já que todos nós somos membros de um mesmo corpo. Conosco, eles esperam ainda o último acabamento do mistério pascal, a ressurreição dos corpos, uma vez que lhes é dito “que tenham ainda um pouco de paciência, até que esteja completo o número de seus companheiros de serviço e seus irmãos” (Ap 6,11).

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