Educar os jovens para a justiça e para a paz

Quarta, 08 Agosto 2012 16:54 Escrito por  Eugenio Alburquerque Frutos e José-Román Flecha Andrés
“A paz não é mera ausência de guerra, nem se reduz apenas ao equilíbrio das forças adversárias, tão pouco surge de uma hegemonia despótica, mas com toda certeza é obra da justiça” (Concílio Vaticano II, GS 82).  

Educar os jovens para a justiça e para a paz foi o lema escolhido pelo papa Bento XVI para a XLV Jornada Mundial pela Paz, celebrada em 1º de janeiro de 2012. O lema destaca uma questão urgente no mundo atual: escutar e valorizar as novas gerações para a realização do bem comum e na construção de uma ordem social justa e pacífica, onde possam ser expressos e realizados plenamente os direitos e as liberdades fundamentais do ser humano.

O lema está em conexão com os propostos pelo papa João Paulo II em 1979, 1985 e 2004: “Para alcançar a paz, educar para a paz”, “A paz e os jovens caminham juntos” e “Um compromisso sempre atual: educar para a paz”.

A paz, entendida como respeito e compreensão entre os homens, como promoção dos direitos humanos e da justiça, como desenvolvimento, liberdade e superação de todo tip de violência, é hoje um valor pelo qual vale a pena se empenhar.

Em uma sociedade na qual crescem as guerras, está presente o terrorismo, prossegue a opressão de povos e pessoas; em uma sociedade geradora de injustiça e violência, a paz se converte em uma urgência educativa. Porque a paz é essencial para os seres humanos. Nos afeta profundamente. Engloba, na verdade, todas as aspirações humanas: justiça, liberdade, convivência, solidariedade...

Todo sistema educativo encontra aqui um desafio inevitável. A ação pedagógica tem de responder a estas instâncias e desafios. Porque as grandes violências decorrem do coração violento dos homens. Por isso, é hoje urgente e fundamental educar para a paz. Nenhuma proposta educativa pode prescindir disso.

 

No espírito de Assis

Muitos de nós ainda se recordam da celebração da Jornada de Oração pela Paz, celebrada em Assis, na Itália, em 27 de outubro de 1986. Naquela ocasião, o papa João Paulo II quis reunir-se com os representantes das Igrejas cristãs, das comunidades e das religiões do mundo.

O objetivo latente da convocatório era buscar as raízes da paz no seio de cada confissão religiosa e a vontade de estabelecer um compromisso conjunto para promove-la. Foi uma jornada de oração e de peregrinação. Ao final, o papa afirmou: “Não existe a paz sem um amor apaixonado pela paz e sem uma vontade invencível de consegui-la. Juntos voltamos nossos olhos para um projeto de paz que libera energias para construir uma nova linguagem de paz, para novos gestos de paz, gestos que romperão as tristes correntes das divisões herdadas do passado histórico ou engendradas por ideologias modernas. A paz espera por seus construtores. Vamos unir as mãos com nossos irmãos e irmãs para anima-los a construir a paz sobre estes quatro pilares: verdade, justiça, amor e liberdade”.

O mesmo papa convocou, novamente em Assis, aos líderes de todas as religiões para uma segunda Jornada de Oração pela Paz no Mundo, realizada em 24 de janeiro de 2002. Na ocasião, relembrou que a paz apoiava-se no compromisso em favor da justiça e na disponibilidade para o perdão. Como eco do encontro, o papa enviou uma carta aos chefes de Estado e de Governo, na qual apresentava um decálogo de compromissos assumidos pelos líderes de todas as religiões presentes em Assis. O documento afirmava: “Nos comprometemos a apoiar qualquer iniciativa que promova a amizade entre os povos, convencidos de que o progresso tecnológico, quando falta um entendimento sólido entre os povos, expõe o mundo a riscos crescentes de destruição e morte”.

Passaram-se 25 anos da primeira Jornada. A paz está hoje tão ameaçada como então. Por esse motivo, o papa Bento XVI voltou a convocar os representantes das religiões do mundo para um novo encontro em Assis, realizado em 27 de outubro de 2011 e inspirado elo lema: “Peregrinos da verdade, peregrinos da paz”.

Em todas as partes do mundo não podemos ignorar os destinos da humanidade. Junto com todos os que acreditam temos de afirmar que a fé não é obstáculo para o entendimento humano, muito pelo contrário. Somos convidados a programar encontros especiais de oração, a meditar sobre o decálogo de Assis e a manifestar nosso compromisso concreto em favor da caridade, da verdade e da paz.

 

Em que ponto está a causa da paz?

Com esta pergunta, o papa Bento XVI começou sua fala para os representantes das religiões do mundo reunidos em Assis, em 27 de outubro de 2011. Publicamos abaixo a mensagem resumida:

 

“Há 25 anos, a grande ameaça para a paz vinha da divisão do planeta em dois blocos. O símbolo era o Muro de Berlin que, passando pelo meio da cidade, traçava a fronteira entre dois mundos. Em 1989, o muro caiu sem derramamento de sangue.

Mas o que aconteceu depois? Infelizmente, não podemos dizer que desde então a situação tenha se caracterizado como de liberdade e paz. Ainda que não existam ameaças de uma grande guerra, o mundo está cheio de discórdia. Não se trata apenas de que frequentemente haja guerras aqui ou lá, mas de que a violência em si esteja sempre potencialmente presente.

Podem ser identificadas duas novas formas de violência. Em primeiro lugar está o terrorismo, pelo qual, ao invés de uma grande guerra, são feitos ataques pontuais, sem nenhum respeito pelas vidas inocentes que acabam cruelmente feridas ou mortas. Aos olhos dos responsáveis, a grande causa de prejudicar o inimigo justifica toda forma de crueldade.

Por vezes há também o uso da religião, de forma que esta se converte em fonte de violência, quando na verdade a orientação do homem para Deus é uma força de paz. Porém, se existe um tipo de violência ‘fundamentada’ na religiosidade, um segundo tipo de violência tem motivação exatamente oposta: é a consequência da ausência de Deus.

Atualmente, a adoração à riqueza, ao ter e ao poder, se revela uma anti-religião na qual só importa o benefício pessoal. A violência se converte em algo normal e ameaça destruir nossa juventude em algumas partes do mundo. Quando a violência chega a parecer normal, se destrói a paz e, nesta falta de paz, o homem destrói a sim mesmo.”

 

Artigo originalmente publicado em Boletin Salesiano – Espanha, dezembro de 2011.

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Última modificação em Sexta, 29 Agosto 2014 12:12

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Educar os jovens para a justiça e para a paz

Quarta, 08 Agosto 2012 16:54 Escrito por  Eugenio Alburquerque Frutos e José-Román Flecha Andrés
“A paz não é mera ausência de guerra, nem se reduz apenas ao equilíbrio das forças adversárias, tão pouco surge de uma hegemonia despótica, mas com toda certeza é obra da justiça” (Concílio Vaticano II, GS 82).  

Educar os jovens para a justiça e para a paz foi o lema escolhido pelo papa Bento XVI para a XLV Jornada Mundial pela Paz, celebrada em 1º de janeiro de 2012. O lema destaca uma questão urgente no mundo atual: escutar e valorizar as novas gerações para a realização do bem comum e na construção de uma ordem social justa e pacífica, onde possam ser expressos e realizados plenamente os direitos e as liberdades fundamentais do ser humano.

O lema está em conexão com os propostos pelo papa João Paulo II em 1979, 1985 e 2004: “Para alcançar a paz, educar para a paz”, “A paz e os jovens caminham juntos” e “Um compromisso sempre atual: educar para a paz”.

A paz, entendida como respeito e compreensão entre os homens, como promoção dos direitos humanos e da justiça, como desenvolvimento, liberdade e superação de todo tip de violência, é hoje um valor pelo qual vale a pena se empenhar.

Em uma sociedade na qual crescem as guerras, está presente o terrorismo, prossegue a opressão de povos e pessoas; em uma sociedade geradora de injustiça e violência, a paz se converte em uma urgência educativa. Porque a paz é essencial para os seres humanos. Nos afeta profundamente. Engloba, na verdade, todas as aspirações humanas: justiça, liberdade, convivência, solidariedade...

Todo sistema educativo encontra aqui um desafio inevitável. A ação pedagógica tem de responder a estas instâncias e desafios. Porque as grandes violências decorrem do coração violento dos homens. Por isso, é hoje urgente e fundamental educar para a paz. Nenhuma proposta educativa pode prescindir disso.

 

No espírito de Assis

Muitos de nós ainda se recordam da celebração da Jornada de Oração pela Paz, celebrada em Assis, na Itália, em 27 de outubro de 1986. Naquela ocasião, o papa João Paulo II quis reunir-se com os representantes das Igrejas cristãs, das comunidades e das religiões do mundo.

O objetivo latente da convocatório era buscar as raízes da paz no seio de cada confissão religiosa e a vontade de estabelecer um compromisso conjunto para promove-la. Foi uma jornada de oração e de peregrinação. Ao final, o papa afirmou: “Não existe a paz sem um amor apaixonado pela paz e sem uma vontade invencível de consegui-la. Juntos voltamos nossos olhos para um projeto de paz que libera energias para construir uma nova linguagem de paz, para novos gestos de paz, gestos que romperão as tristes correntes das divisões herdadas do passado histórico ou engendradas por ideologias modernas. A paz espera por seus construtores. Vamos unir as mãos com nossos irmãos e irmãs para anima-los a construir a paz sobre estes quatro pilares: verdade, justiça, amor e liberdade”.

O mesmo papa convocou, novamente em Assis, aos líderes de todas as religiões para uma segunda Jornada de Oração pela Paz no Mundo, realizada em 24 de janeiro de 2002. Na ocasião, relembrou que a paz apoiava-se no compromisso em favor da justiça e na disponibilidade para o perdão. Como eco do encontro, o papa enviou uma carta aos chefes de Estado e de Governo, na qual apresentava um decálogo de compromissos assumidos pelos líderes de todas as religiões presentes em Assis. O documento afirmava: “Nos comprometemos a apoiar qualquer iniciativa que promova a amizade entre os povos, convencidos de que o progresso tecnológico, quando falta um entendimento sólido entre os povos, expõe o mundo a riscos crescentes de destruição e morte”.

Passaram-se 25 anos da primeira Jornada. A paz está hoje tão ameaçada como então. Por esse motivo, o papa Bento XVI voltou a convocar os representantes das religiões do mundo para um novo encontro em Assis, realizado em 27 de outubro de 2011 e inspirado elo lema: “Peregrinos da verdade, peregrinos da paz”.

Em todas as partes do mundo não podemos ignorar os destinos da humanidade. Junto com todos os que acreditam temos de afirmar que a fé não é obstáculo para o entendimento humano, muito pelo contrário. Somos convidados a programar encontros especiais de oração, a meditar sobre o decálogo de Assis e a manifestar nosso compromisso concreto em favor da caridade, da verdade e da paz.

 

Em que ponto está a causa da paz?

Com esta pergunta, o papa Bento XVI começou sua fala para os representantes das religiões do mundo reunidos em Assis, em 27 de outubro de 2011. Publicamos abaixo a mensagem resumida:

 

“Há 25 anos, a grande ameaça para a paz vinha da divisão do planeta em dois blocos. O símbolo era o Muro de Berlin que, passando pelo meio da cidade, traçava a fronteira entre dois mundos. Em 1989, o muro caiu sem derramamento de sangue.

Mas o que aconteceu depois? Infelizmente, não podemos dizer que desde então a situação tenha se caracterizado como de liberdade e paz. Ainda que não existam ameaças de uma grande guerra, o mundo está cheio de discórdia. Não se trata apenas de que frequentemente haja guerras aqui ou lá, mas de que a violência em si esteja sempre potencialmente presente.

Podem ser identificadas duas novas formas de violência. Em primeiro lugar está o terrorismo, pelo qual, ao invés de uma grande guerra, são feitos ataques pontuais, sem nenhum respeito pelas vidas inocentes que acabam cruelmente feridas ou mortas. Aos olhos dos responsáveis, a grande causa de prejudicar o inimigo justifica toda forma de crueldade.

Por vezes há também o uso da religião, de forma que esta se converte em fonte de violência, quando na verdade a orientação do homem para Deus é uma força de paz. Porém, se existe um tipo de violência ‘fundamentada’ na religiosidade, um segundo tipo de violência tem motivação exatamente oposta: é a consequência da ausência de Deus.

Atualmente, a adoração à riqueza, ao ter e ao poder, se revela uma anti-religião na qual só importa o benefício pessoal. A violência se converte em algo normal e ameaça destruir nossa juventude em algumas partes do mundo. Quando a violência chega a parecer normal, se destrói a paz e, nesta falta de paz, o homem destrói a sim mesmo.”

 

Artigo originalmente publicado em Boletin Salesiano – Espanha, dezembro de 2011.

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