O corpo espiritual

Quarta, 18 Setembro 2019 16:16 Escrito por  Pe. João Mendonça, SDB
O corpo espiritual iStock.com
“Na tradição bíblica, o corpo é uma realidade sagrada e carrega consigo a força e a fragilidade do ser humano. No entanto, o ser humano transcende a tudo que foi criado através das variadas formas de relação”.  

No artigo anterior comentávamos sobre o corpo cósmico. Nele há uma linguagem não verbal por onde passam amor e ódio, prazer e desprezo, alegria e tristeza. Exatamente nessa complexidade Deus chama, faz-se palavra convocatória e missionária. A fé se integra nesse processo corporal que tem como meta autotranscender no amor.

 

O mistério do corpo humano

O corpo humano tem uma multiplicidade de significados. É como uma moldura que esconde e revela uma grande riqueza teológica e humana. Essa forma tão rica do corpo visível é complexa: imaginamos o que não conseguimos ver, ou vemos apenas os efeitos, quer dizer, a sexualidade e a espiritualidade. Precisamos pensar que o chamado de Deus acontece exatamente nesse mistério de nossa humanidade. Deus nada nos tira, apenas acrescenta.

 

Na Bíblia, o corpo humano é lugar de encontro com Deus. Trata-se de uma mediação fundamental. Já no Gênesis encontramos a afirmação cabal: “À imagem de Deus os criou homem e mulher” (1,26). Deus se expressa na humanidade, na carne humana, como obra-prima da criação, inclusive moldando com argila e da costela a espécie (Gn 2,7.21) humana dentro do jardim plantado por ele no deserto das incertezas. Carne, portanto, é o significado mais expressivo para falar do que realmente somos, e somente a partir dela é possível entender o ruah, ou seja, a presença do espírito que une o ser humano a todos os outros seres. Não somos ilhas, mas pontes. Como bem disse Adão: “carne da minha carne” (Gn 2,23).

 

Jesus e o corpo

Na tradição Bíblica, o corpo é uma realidade sagrada e carrega consigo a força e a fragilidade do ser humano. No entanto, o ser humano transcende a tudo que foi criado através das variadas formas de relações.

 

Em Jesus de Nazaré, encontramos uma nova compreensão do corpo. Jesus não limita o ser humano ao estado físico: doente ou sadio. Ele realiza curas que libertam de tudo, desde as amarras do pecado até a recuperação da saúde. No Reino, os coxos andam, os cegos veem, os mudos falam, os leprosos são curados e os pecadores são perdoados (Mt 11,4-5).

 

Dessa forma, Jesus soube doar a vida por todos (Jo 10,10) e, nEle, habitava toda a divindade (Cl 2,9). Os milagres profetizam um novo Reino onde não haverá mais dor, sofrimento, morte e fome, pois a fé faz brotar os elementos mais contundentes do Reino definitivo (Mt 9,28; Mc 5,36; 9,23). Jesus vence o pecado desarmando as ciladas do diabo e libertando o ser humano das cadeias do pecado.

 

Neste sentido, a Igreja que brota na ressurreição também se caracteriza como libertadora de todos os males, da mesma forma como Jesus fez (Mt 10,7-9; Lc 9, 1-2; Mc 16,17-18). Essas ações de continuidade ampliam os horizontes do corpo, remetendo para uma realidade espiritual.

 

Sementes de eternidade

Quando a Igreja evangeliza – e sua missão consiste em evangelizar – ela derrama o óleo que cura o ser humano de todos os limites físicos (Mc 6,13). Daí a compreensão de que o corpo humano é feito à imagem de Deus (Gn 1,26); é um templo do Deus vivente e destinado a ser glorioso.

 

Aqui entra a concepção paulina do corpo: soma e carne. A soma, 90 vezes presente nos escritos de Paulo, aponta para a grandeza do ser criado por Deus; carne, no entanto, é a fraqueza humana. Então, não há a condenação do ser humano, mas o pecado; eis aí o apelo vocacional: passar do meramente corporal para o espiritual, ser criatura nova, templo de Deus, destinado à glorificação na ressurreição.

 

Desta forma, o corpo não é uma prisão da alma, mas o caminho de nossa plenitude quando tudo fazemos para a maior glória de Deus (1Cor 10,31). Todo projeto vocacional nasce no ser vivente, mas aponta para a plenitude no Reino definitivo (1Cor 15,42-44). Assim entendemos vocação como processo de configuração a Jesus Cristo, e isto acontece no afetivo e na sexualidade.

 

Padre João da Silva Mendonça Filho, SDB, é mestre em Educação pela Pontifica Universidade Salesiana de Roma/Itália com especialização em Metodologia Vocacional, e pós-graduado em Comunicação pelo SEPAC/SP e PUC/SP.

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O corpo espiritual

Quarta, 18 Setembro 2019 16:16 Escrito por  Pe. João Mendonça, SDB
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“Na tradição bíblica, o corpo é uma realidade sagrada e carrega consigo a força e a fragilidade do ser humano. No entanto, o ser humano transcende a tudo que foi criado através das variadas formas de relação”.  

No artigo anterior comentávamos sobre o corpo cósmico. Nele há uma linguagem não verbal por onde passam amor e ódio, prazer e desprezo, alegria e tristeza. Exatamente nessa complexidade Deus chama, faz-se palavra convocatória e missionária. A fé se integra nesse processo corporal que tem como meta autotranscender no amor.

 

O mistério do corpo humano

O corpo humano tem uma multiplicidade de significados. É como uma moldura que esconde e revela uma grande riqueza teológica e humana. Essa forma tão rica do corpo visível é complexa: imaginamos o que não conseguimos ver, ou vemos apenas os efeitos, quer dizer, a sexualidade e a espiritualidade. Precisamos pensar que o chamado de Deus acontece exatamente nesse mistério de nossa humanidade. Deus nada nos tira, apenas acrescenta.

 

Na Bíblia, o corpo humano é lugar de encontro com Deus. Trata-se de uma mediação fundamental. Já no Gênesis encontramos a afirmação cabal: “À imagem de Deus os criou homem e mulher” (1,26). Deus se expressa na humanidade, na carne humana, como obra-prima da criação, inclusive moldando com argila e da costela a espécie (Gn 2,7.21) humana dentro do jardim plantado por ele no deserto das incertezas. Carne, portanto, é o significado mais expressivo para falar do que realmente somos, e somente a partir dela é possível entender o ruah, ou seja, a presença do espírito que une o ser humano a todos os outros seres. Não somos ilhas, mas pontes. Como bem disse Adão: “carne da minha carne” (Gn 2,23).

 

Jesus e o corpo

Na tradição Bíblica, o corpo é uma realidade sagrada e carrega consigo a força e a fragilidade do ser humano. No entanto, o ser humano transcende a tudo que foi criado através das variadas formas de relações.

 

Em Jesus de Nazaré, encontramos uma nova compreensão do corpo. Jesus não limita o ser humano ao estado físico: doente ou sadio. Ele realiza curas que libertam de tudo, desde as amarras do pecado até a recuperação da saúde. No Reino, os coxos andam, os cegos veem, os mudos falam, os leprosos são curados e os pecadores são perdoados (Mt 11,4-5).

 

Dessa forma, Jesus soube doar a vida por todos (Jo 10,10) e, nEle, habitava toda a divindade (Cl 2,9). Os milagres profetizam um novo Reino onde não haverá mais dor, sofrimento, morte e fome, pois a fé faz brotar os elementos mais contundentes do Reino definitivo (Mt 9,28; Mc 5,36; 9,23). Jesus vence o pecado desarmando as ciladas do diabo e libertando o ser humano das cadeias do pecado.

 

Neste sentido, a Igreja que brota na ressurreição também se caracteriza como libertadora de todos os males, da mesma forma como Jesus fez (Mt 10,7-9; Lc 9, 1-2; Mc 16,17-18). Essas ações de continuidade ampliam os horizontes do corpo, remetendo para uma realidade espiritual.

 

Sementes de eternidade

Quando a Igreja evangeliza – e sua missão consiste em evangelizar – ela derrama o óleo que cura o ser humano de todos os limites físicos (Mc 6,13). Daí a compreensão de que o corpo humano é feito à imagem de Deus (Gn 1,26); é um templo do Deus vivente e destinado a ser glorioso.

 

Aqui entra a concepção paulina do corpo: soma e carne. A soma, 90 vezes presente nos escritos de Paulo, aponta para a grandeza do ser criado por Deus; carne, no entanto, é a fraqueza humana. Então, não há a condenação do ser humano, mas o pecado; eis aí o apelo vocacional: passar do meramente corporal para o espiritual, ser criatura nova, templo de Deus, destinado à glorificação na ressurreição.

 

Desta forma, o corpo não é uma prisão da alma, mas o caminho de nossa plenitude quando tudo fazemos para a maior glória de Deus (1Cor 10,31). Todo projeto vocacional nasce no ser vivente, mas aponta para a plenitude no Reino definitivo (1Cor 15,42-44). Assim entendemos vocação como processo de configuração a Jesus Cristo, e isto acontece no afetivo e na sexualidade.

 

Padre João da Silva Mendonça Filho, SDB, é mestre em Educação pela Pontifica Universidade Salesiana de Roma/Itália com especialização em Metodologia Vocacional, e pós-graduado em Comunicação pelo SEPAC/SP e PUC/SP.

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