A Irmã Adair Aparecida Sberga, FMA, compõe a Diretoria Executiva da Rede Salesiana Brasil de Escolas (RSB-Escolas), é primeira vice-presidente da Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC) e, também, Gerente Executiva da Editora Edebê. Ao Boletim Salesiano, ela fala sobre a importância de a Igreja tratar do tema da educação e como esta Campanha da Fraternidade se relaciona à proposta educativa e pastoral salesiana.
Qual é a importância da Igreja no Brasil tratar, por meio da Campanha da Fraternidade, do tema da Educação?
Para a Igreja, de um modo geral, a educação sempre foi um tema primordial, porque é uma fonte para a evangelização e o principal espaço de formação integral das pessoas. Temos vários documentos da Igreja sobre educação, nos quais se coloca que a educação é uma obra necessariamente social, e não singular. Porque a educação é o meio qualificado para promover a formação integral das pessoas e para o desenvolvimento do bem comum, que são propostas do Evangelho. Tratar desse tema agora também é importante porque a pandemia da Covid-19, nesses dois últimos anos, desnudou uma grande desigualdade que há na educação, então isso ajuda a pensar na realidade do nosso país.
O lema escolhido para a CF-2022 é “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26). Como esse lema se relaciona com a pedagogia salesiana?
O lema se relaciona justamente com o Sistema Preventivo, que tem como tripé a formação da razão, da espiritualidade e do amor educativo. O Texto-base da CF vai dizer que só o conhecimento e a informação não bastam, é preciso também a sabedoria diante da vida e no Sistema Preventivo falamos muito dessa questão, porque a formação da razão vai ajudar no desenvolvimento do pensamento crítico, de um raciocínio mais articulado, da cultura dialógica e transformadora. Ou seja, no Sistema Preventivo a razão não é só conhecimento, mas é o desenvolvimento do bem pensar, que ajuda a tomar boas decisões diante da vida, isto é, a razão colabora efetivamente para o desabrochar da sabedoria humana.
A segunda dimensão do tripé é a formação da espiritualidade, que está conectada com o discernimento, apontado pelo Texto-base da CF. Este afirma que a Palavra de Deus é a referência segura e assertiva para o cristão em seu processo de tomada de decisão. Quando seguimos a Palavra de Deus, não temos como errar, apesar dos desafios que enfrentamos constantemente. O documento trata muito da “escuta”: escutar a Palavra de Deus, a ciência, a vida, a realidade, o jovem. Para falar com sabedoria é preciso escutar muito e escutar é mais que ouvir. A escuta gera comunicação, enquanto que o ouvir, a informação. E para ensinar com amor, é preciso estar embebido da espiritualidade.
A terceira dimensão é que o lema da CF fala de ensinar com amor, que também está ligado a outra base do Sistema Preventivo, que é a afetividade: com ela você atrai e conquista o coração do jovem. Sem afetividade não acontece a verdadeira educação, que se dá na relação entre as pessoas, nos encontros que transformam vidas. A escola é, por excelência, um lugar de encontros que transformam vidas e realidades. Também, a afetividade ajuda a pessoa a desenvolver a bondade e o amor que são potencialidades que toda pessoa traz dentro de si, mas que precisam ser desabrochadas por meio de educadores e/ou agentes externos. Tudo isso se reflete na acolhida ao outro, no amor diante da vida, na partilha solidária. Assim, tanto a sabedoria como o amor estão na base do Sistema Preventivo.
O Texto-base da CF cita a organização das instituições católicas de ensino por meio da Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC). Quais são a importância e a função da ANEC?
A ANEC é uma rede de articulação de todas as escolas católicas do Ensino Básico e do Ensino Superior. Está ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e à Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) e está presente em todo o Brasil. É uma força agregadora e a sua proposta é a formação do humanismo integral. A ANEC representa as Instituições Católicas de ensino diante do MEC, do Conselho Nacional de Educação e de outros órgãos públicos e particulares. E é uma Instituição que defende as políticas públicas de educação para a qualidade social, assim como busca garantir e preservar a identidade e a missão da educação católica: “Ide pelo mundo e anuncia o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15).
Educar é promover a formação integral da pessoa, para que ela desenvolva todas as suas potencialidades humanas e sociais, para que se torne uma cidadã ativa, empreendedora, crítica e ajude a construir na sociedade os valores do Evangelho. Como Educação Católica e Salesiana, comprometemo-nos com uma educação serviço, com a aprendizagem solidária, com a abertura ao transcendente e com a reconstrução do Pacto Educativo Global, em favor de um novo humanismo, que se constrói com a justiça social, com a prática dos direitos humanos e com a fraternidade universal. Também podemos dizer que as Instituições Católicas são muito reconhecidas pela excelência acadêmica, pelas práticas pedagógico-pastorais, pela ecoteologia, pela construção de uma sociedade sustentável, pelos sistemas acolhedores e inclusivos etc.
Outro ponto importante é que temos um compromisso muito grande com a formação contínua de educadores e colaboradores que atuam conosco, apoiando-os no seu desenvolvimento pessoal, cognitivo, emocional e profissional, que são alguns dos objetivos de uma educação cristã, integral, integradora e transformadora.
Como essa proposta se relaciona ao Projeto de Vida?
Tem se falado muito nos documentos oficiais sobre a importância do Projeto de Vida, que agora faz parte inclusive do currículo. Mas quando falamos do Projeto de Vida, é importante que ele não seja só individual, no sentido de uma carreira, uma profissão, um ganho particular. O Projeto de Vida individual, não é factível, no nosso entender da Educação Católica, sem um Projeto de Sociedade, um projeto para todos. O Projeto de Sociedade coloca no centro a pessoa, a cooperação e a superação das desigualdades. Formamos a pessoa para que ela contribua com a construção de uma nação mais inclusiva, mais equitativa, mais promissora e com qualidade de vida para todos.
O Texto-base trata também sobre o Pacto Educativo Global proposto pelo Papa Francisco. Poderia dizer brevemente como as escolas salesianas estão envolvidas no Pacto?
Essa é uma proposta da Igreja e sobretudo do Papa Francisco, na qual ele questiona a função da escola. Esta existe só para dar um grande volume de conteúdo para os alunos? Lógico que não. A escola é para colaborar no aprimoramento humano da pessoa, para que ela desenvolva habilidades e competências e a ajude a se tornar aquilo que ela nasceu para ser. E como afirma o Papa Francisco, “para educar uma criança é preciso uma aldeia inteira”, ou seja, para fazer isso é preciso que toda a sociedade se responsabilize em favor da educação. O Pacto também fala de colocar a pessoa no centro. Isso significa o educador no cento, o estudante no centro, e intensificar a relação entre as pessoas e os saberes. Dom Bosco já dizia que “a educação se dá por meio das relações”– na sala de aula, no pátio, nas mediações entre os objetos de conhecimento.
Como as escolas salesianas podem se envolver na Campanha da Fraternidade deste ano?
Todas as escolas da Rede Salesiana Brasil sempre trabalham muito o tema da Campanha da Fraternidade, todos os anos são realizadas muitas atividades nas escolas e em 2022 isso também vai ocorrer. Mas é muito importante que, neste ano, todos os educadores leiam o Texto-base da Campanha da Fraternidade, porque ele traz muitos elementos sobre a grandiosidade da educação na vida das pessoas e da sociedade.
