Cinquenta anos de fraternidade

Terça, 12 Fevereiro 2013 13:45 Escrito por 
  Há 50 anos, sob os ventos renovadores do Concílio Vaticano II e atendendo ao clamor por maior justiça social, nascia no Brasil a Campanha da Fraternidade.   Em 13 de fevereiro, Quarta-feira de Cinzas, tem início a Campanha da Fraternidade 2013. Além da grande relevância do tema proposto para o momento atual – Fraternidade e Juventude –, a CF 2013 tem também uma importância histórica: são celebrados os 50 anos desta ação evangelizadora e social promovida pela Igreja no Brasil. A origem da Campanha da Fraternidade está na Arquidiocese de Natal. Por iniciativa do então administrador apostólico, dom Eugênio de Araújo Sales, foi realizada na Quaresma de 1962 uma campanha de solidariedade em favor das obras sociais da Igreja, em especial no município de Nísia Floresta, RN. A proposta do bispo aos cristãos, feita em entrevista às emissoras de rádio locais, era simples e precisa: “Não vai lhe ser pedida uma esmola, mas uma coisa que lhe custe; não se aceitará uma contribuição como favor, mas se espera uma característica do cumprimento do dever, um dever elementar do cristão”. No ano seguinte, já sob a influência das reflexões realizadas no Concílio Vaticano II, que propunham uma nova atitude da Igreja e dos católicos diante da realidade social, a campanha foi adotada por 19 dioceses do Nordeste. E em 1964, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) assumiu a Campanha da Fraternidade como ação em âmbito nacional.  

Evangelização e ação social

Como relembra o Texto-base da CF 2013, “de 1963 até hoje, a CF é uma atividade ampla de evangelização desenvolvida em determinado tempo (Quaresma), para ajudar os cristãos e as pessoas de boa vontade a viver a fraternidade em compromissos concretos, no processo de transformação da sociedade, a partir de um problema específico que exige a participação de todos, na busca de alternativas de solução”. É, assim, tanto um instrumento para desenvolver o espírito de penitência e doação próprio da Quaresma, como uma ação efetiva para a transformação de situações de injustiça social. “É precioso meio para a evangelização no tempo quaresmal, retomando a pregação dos profetas, confirmada por Cristo, segundo a qual, a verdadeira penitência que agrada a Deus é repartir o pão com quem tem fome, dar de vestir ao maltrapilho, libertar os oprimidos, promover a todos”.

A Campanha da Fraternidade é iniciada sempre na Quarta-feira de Cinzas. Durante toda a Quaresma, em comunidades, paróquias, escolas, entidades sociais, grupos e movimentos católicos, é feita a reflexão sobre o tema proposto à luz do Evangelho e são realizadas atividades e ações de solidariedade. No Domingo de Ramos, a coleta da solidariedade encerra a Campanha com um gesto concreto.

São objetivos permanentes da CF: “Despertar o espírito comunitário e cristão no povo de Deus, comprometendo, em particular, os cristãos na busca do bem comum; educar para a vida em fraternidade, a partir da justiça e do amor, exigência central do Evangelho; e renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja na evangelização em vista de uma sociedade justa e solidária (todos devem evangelizar e todos devem sustentar a ação evangelizadora e libertadora da Igreja)”.

 

Fases da Campanha

A história da Campanha da Fraternidade pode ser dividida em três fases. Na primeira, de 1964 a 1972, os temas da CF são mais voltados para a renovação interna da Igreja, e refletem o processo iniciado com o Concílio Vaticano II. Assim, em 1964 a CF tem como tema: “Igreja em renovação – Lembre-se: você também é Igreja”; em 1965: “Paróquia em renovação”; em 1969: “Descoberta – Para o outro, o próximo é você” e em 1972: “Serviço e vocação – Descubra a felicidade de servir”.

A partir de 1973, a Campanha da Fraternidade passa a ter uma preocupação maior com a realidade social da população brasileira, como fruto das Conferências Episcopais de Medelín (1968) e Puebla (1979). Essas conferências foram fundamentais para que a Igreja latino-americana se voltasse para enfrentar o desafio da pobreza no continente, percebendo a necessidade de uma “presença transformadora” nas estruturas sociais. No Brasil, o período de 1973 a 1984 foi marcado também pela ditadura militar e pela consequente premência de que a Igreja se colocasse como uma voz em defesa da democracia e de protesto contra as injustiças sociais.

São desta segunda fase as Campanhas que tratam de: “Fraternidade e libertação” (1973), “Fraternidade é repartir – Repartir o pão” (1975), “Fraternidade no mundo do trabalho – Trabalho e justiça para todos” (1978), “Fraternidade e vida – para que todos tenham vida” (1984). A CF teve o papel também de chamar a atenção para grandes problemas nacionais, como a saúde (1981), a educação (1982) e a violência (1983).

Estes e outros temas nacionais são retomados, sob outro prisma, na terceira fase da Campanha da Fraternidade. Já sob um regime de abertura democrática, a CF se volta para os grandes desafios sociais, econômicos e políticos, enfrentados pelos brasileiros em busca de construir uma sociedade mais justa, solidária e fraterna. No período que vai de 1985 até hoje, a Campanha levou os cristãos e as pessoas de boa vontade a refletirem e a agirem sobre questões como: combate à fome e à miséria (1985), preconceito racial (1988), igualdade entre homens e mulheres (1990), exclusão social (1995), desemprego (1999), dependência química (2001), povos indígenas (2002), pessoas idosas (2003), pessoas com deficiência (2006), preservação da água (2004) e vida no planeta (2011), entre outras.

Esse é o período ainda em que outras Igrejas cristãs uniram-se ao apelo da CNBB para a realização das Campanhas da Fraternidade Ecumênicas de 2000 (Dignidade humana e paz), 2005 (Solidariedade e paz) e 2010 (Economia e vida).

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Última modificação em Quinta, 28 Agosto 2014 18:17

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Cinquenta anos de fraternidade

Terça, 12 Fevereiro 2013 13:45 Escrito por 
  Há 50 anos, sob os ventos renovadores do Concílio Vaticano II e atendendo ao clamor por maior justiça social, nascia no Brasil a Campanha da Fraternidade.   Em 13 de fevereiro, Quarta-feira de Cinzas, tem início a Campanha da Fraternidade 2013. Além da grande relevância do tema proposto para o momento atual – Fraternidade e Juventude –, a CF 2013 tem também uma importância histórica: são celebrados os 50 anos desta ação evangelizadora e social promovida pela Igreja no Brasil. A origem da Campanha da Fraternidade está na Arquidiocese de Natal. Por iniciativa do então administrador apostólico, dom Eugênio de Araújo Sales, foi realizada na Quaresma de 1962 uma campanha de solidariedade em favor das obras sociais da Igreja, em especial no município de Nísia Floresta, RN. A proposta do bispo aos cristãos, feita em entrevista às emissoras de rádio locais, era simples e precisa: “Não vai lhe ser pedida uma esmola, mas uma coisa que lhe custe; não se aceitará uma contribuição como favor, mas se espera uma característica do cumprimento do dever, um dever elementar do cristão”. No ano seguinte, já sob a influência das reflexões realizadas no Concílio Vaticano II, que propunham uma nova atitude da Igreja e dos católicos diante da realidade social, a campanha foi adotada por 19 dioceses do Nordeste. E em 1964, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) assumiu a Campanha da Fraternidade como ação em âmbito nacional.  

Evangelização e ação social

Como relembra o Texto-base da CF 2013, “de 1963 até hoje, a CF é uma atividade ampla de evangelização desenvolvida em determinado tempo (Quaresma), para ajudar os cristãos e as pessoas de boa vontade a viver a fraternidade em compromissos concretos, no processo de transformação da sociedade, a partir de um problema específico que exige a participação de todos, na busca de alternativas de solução”. É, assim, tanto um instrumento para desenvolver o espírito de penitência e doação próprio da Quaresma, como uma ação efetiva para a transformação de situações de injustiça social. “É precioso meio para a evangelização no tempo quaresmal, retomando a pregação dos profetas, confirmada por Cristo, segundo a qual, a verdadeira penitência que agrada a Deus é repartir o pão com quem tem fome, dar de vestir ao maltrapilho, libertar os oprimidos, promover a todos”.

A Campanha da Fraternidade é iniciada sempre na Quarta-feira de Cinzas. Durante toda a Quaresma, em comunidades, paróquias, escolas, entidades sociais, grupos e movimentos católicos, é feita a reflexão sobre o tema proposto à luz do Evangelho e são realizadas atividades e ações de solidariedade. No Domingo de Ramos, a coleta da solidariedade encerra a Campanha com um gesto concreto.

São objetivos permanentes da CF: “Despertar o espírito comunitário e cristão no povo de Deus, comprometendo, em particular, os cristãos na busca do bem comum; educar para a vida em fraternidade, a partir da justiça e do amor, exigência central do Evangelho; e renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja na evangelização em vista de uma sociedade justa e solidária (todos devem evangelizar e todos devem sustentar a ação evangelizadora e libertadora da Igreja)”.

 

Fases da Campanha

A história da Campanha da Fraternidade pode ser dividida em três fases. Na primeira, de 1964 a 1972, os temas da CF são mais voltados para a renovação interna da Igreja, e refletem o processo iniciado com o Concílio Vaticano II. Assim, em 1964 a CF tem como tema: “Igreja em renovação – Lembre-se: você também é Igreja”; em 1965: “Paróquia em renovação”; em 1969: “Descoberta – Para o outro, o próximo é você” e em 1972: “Serviço e vocação – Descubra a felicidade de servir”.

A partir de 1973, a Campanha da Fraternidade passa a ter uma preocupação maior com a realidade social da população brasileira, como fruto das Conferências Episcopais de Medelín (1968) e Puebla (1979). Essas conferências foram fundamentais para que a Igreja latino-americana se voltasse para enfrentar o desafio da pobreza no continente, percebendo a necessidade de uma “presença transformadora” nas estruturas sociais. No Brasil, o período de 1973 a 1984 foi marcado também pela ditadura militar e pela consequente premência de que a Igreja se colocasse como uma voz em defesa da democracia e de protesto contra as injustiças sociais.

São desta segunda fase as Campanhas que tratam de: “Fraternidade e libertação” (1973), “Fraternidade é repartir – Repartir o pão” (1975), “Fraternidade no mundo do trabalho – Trabalho e justiça para todos” (1978), “Fraternidade e vida – para que todos tenham vida” (1984). A CF teve o papel também de chamar a atenção para grandes problemas nacionais, como a saúde (1981), a educação (1982) e a violência (1983).

Estes e outros temas nacionais são retomados, sob outro prisma, na terceira fase da Campanha da Fraternidade. Já sob um regime de abertura democrática, a CF se volta para os grandes desafios sociais, econômicos e políticos, enfrentados pelos brasileiros em busca de construir uma sociedade mais justa, solidária e fraterna. No período que vai de 1985 até hoje, a Campanha levou os cristãos e as pessoas de boa vontade a refletirem e a agirem sobre questões como: combate à fome e à miséria (1985), preconceito racial (1988), igualdade entre homens e mulheres (1990), exclusão social (1995), desemprego (1999), dependência química (2001), povos indígenas (2002), pessoas idosas (2003), pessoas com deficiência (2006), preservação da água (2004) e vida no planeta (2011), entre outras.

Esse é o período ainda em que outras Igrejas cristãs uniram-se ao apelo da CNBB para a realização das Campanhas da Fraternidade Ecumênicas de 2000 (Dignidade humana e paz), 2005 (Solidariedade e paz) e 2010 (Economia e vida).

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