Evangelização e ação social
Como relembra o Texto-base da CF 2013, “de 1963 até hoje, a CF é uma atividade ampla de evangelização desenvolvida em determinado tempo (Quaresma), para ajudar os cristãos e as pessoas de boa vontade a viver a fraternidade em compromissos concretos, no processo de transformação da sociedade, a partir de um problema específico que exige a participação de todos, na busca de alternativas de solução”. É, assim, tanto um instrumento para desenvolver o espírito de penitência e doação próprio da Quaresma, como uma ação efetiva para a transformação de situações de injustiça social. “É precioso meio para a evangelização no tempo quaresmal, retomando a pregação dos profetas, confirmada por Cristo, segundo a qual, a verdadeira penitência que agrada a Deus é repartir o pão com quem tem fome, dar de vestir ao maltrapilho, libertar os oprimidos, promover a todos”.
A Campanha da Fraternidade é iniciada sempre na Quarta-feira de Cinzas. Durante toda a Quaresma, em comunidades, paróquias, escolas, entidades sociais, grupos e movimentos católicos, é feita a reflexão sobre o tema proposto à luz do Evangelho e são realizadas atividades e ações de solidariedade. No Domingo de Ramos, a coleta da solidariedade encerra a Campanha com um gesto concreto.
São objetivos permanentes da CF: “Despertar o espírito comunitário e cristão no povo de Deus, comprometendo, em particular, os cristãos na busca do bem comum; educar para a vida em fraternidade, a partir da justiça e do amor, exigência central do Evangelho; e renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja na evangelização em vista de uma sociedade justa e solidária (todos devem evangelizar e todos devem sustentar a ação evangelizadora e libertadora da Igreja)”.
Fases da Campanha
A história da Campanha da Fraternidade pode ser dividida em três fases. Na primeira, de 1964 a 1972, os temas da CF são mais voltados para a renovação interna da Igreja, e refletem o processo iniciado com o Concílio Vaticano II. Assim, em 1964 a CF tem como tema: “Igreja em renovação – Lembre-se: você também é Igreja”; em 1965: “Paróquia em renovação”; em 1969: “Descoberta – Para o outro, o próximo é você” e em 1972: “Serviço e vocação – Descubra a felicidade de servir”.
A partir de 1973, a Campanha da Fraternidade passa a ter uma preocupação maior com a realidade social da população brasileira, como fruto das Conferências Episcopais de Medelín (1968) e Puebla (1979). Essas conferências foram fundamentais para que a Igreja latino-americana se voltasse para enfrentar o desafio da pobreza no continente, percebendo a necessidade de uma “presença transformadora” nas estruturas sociais. No Brasil, o período de 1973 a 1984 foi marcado também pela ditadura militar e pela consequente premência de que a Igreja se colocasse como uma voz em defesa da democracia e de protesto contra as injustiças sociais.
São desta segunda fase as Campanhas que tratam de: “Fraternidade e libertação” (1973), “Fraternidade é repartir – Repartir o pão” (1975), “Fraternidade no mundo do trabalho – Trabalho e justiça para todos” (1978), “Fraternidade e vida – para que todos tenham vida” (1984). A CF teve o papel também de chamar a atenção para grandes problemas nacionais, como a saúde (1981), a educação (1982) e a violência (1983).
Estes e outros temas nacionais são retomados, sob outro prisma, na terceira fase da Campanha da Fraternidade. Já sob um regime de abertura democrática, a CF se volta para os grandes desafios sociais, econômicos e políticos, enfrentados pelos brasileiros em busca de construir uma sociedade mais justa, solidária e fraterna. No período que vai de 1985 até hoje, a Campanha levou os cristãos e as pessoas de boa vontade a refletirem e a agirem sobre questões como: combate à fome e à miséria (1985), preconceito racial (1988), igualdade entre homens e mulheres (1990), exclusão social (1995), desemprego (1999), dependência química (2001), povos indígenas (2002), pessoas idosas (2003), pessoas com deficiência (2006), preservação da água (2004) e vida no planeta (2011), entre outras.
Esse é o período ainda em que outras Igrejas cristãs uniram-se ao apelo da CNBB para a realização das Campanhas da Fraternidade Ecumênicas de 2000 (Dignidade humana e paz), 2005 (Solidariedade e paz) e 2010 (Economia e vida).