Após a acolhida, feita pelos membros da Pastoral Universitária, foi dado início aos trabalhos da noite com a oração inicial conduzida pelo diretor de Pastoral, P. José Ivanildo Melo. Recordando a delicada situação dos indígenas no Brasil, situou o evento como parte da consciência carismática da missão salesiana na Amazônia que busca realizar o bem viver dos povos originários a partir do projeto de Jesus expresso no Evangelho – Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância. (cf. Jo 10,10).
“É providencial realizar este simpósio nestes dias em que movimentos indígenas estão em Brasília no 15º Acampamento Terra Livre, em que diversos movimentos sociais se manifestam contra as decisões equivocadas do parecer 001/2017 da AGU que dificulta ainda mais o acesso à terra, a nomeação para presidente da FUNAI de uma pessoa estranha à causa indígena. É providencial estar aqui pedindo ao Senhor da vida proteção contra a violência contínua a que muitos dos nossos parentes estão expostos – os Kaigang no Rio Grande do Sul, os Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul ou os do Pico do Jaraguá em São Paulo, aos diversos povos na Amazônia, todos estão constantemente assaltados pelo medo da revogação de direitos conquistados, da violência, do assédio físico e moral”, disse o padre antes de convidar os presentes para rezar a Oração do Senhor.
Após a oração o grupo de Jovens Rio Negrinos, na sua maioria formado por universitários indígenas, apresentou a tradicional dança do Kariçú, por meio da qual expressaram a alegria e esperança de viver no meio urbano sua pertença às raízes culturais do Rio Negro de onde procedem.
Dando prosseguimento ao evento foi composta a mesa de conferencistas. O primeiro a pronunciar-se foi Bonifácio José Baniwa, coordenador da Secretaria de Estado para Povos Indígenas. Bonifácio chamou atenção dos participantes do Simpósio sobre a concepção colonialista presente no projeto governamental em curso: “Vocês estudantes são responsáveis por modificar isso. Os patrões continuam agindo como patrões. As leis criadas para favorecer os povos indígenas não foram dadas, foram conquistadas mediante luta. Terras demarcadas, leis escolares específicas”.
Bonifácio insistiu que a luta precisa continuar, especialmente no que diz respeito a demarcação de terras, os direitos dos povos originários ao acesso aos bens materiais e culturais que promovam os valores do Povos: “Não somos contra o desenvolvimento, apenas queremos nosso modo de viver respeitado”, concluiu.
A segunda conferencista foi a professora indígena Altací Correa. Natural de Santo Antônio do Içá, AM. Pertencente ao Povo Kokama, do Alto Solimões, na tríplice fronteira – Brasil, Perú e Colômbia. Recordou que sua história com os salesianos remonta ao seu pai, ex-aluno do internato quando criança e que depois de casado esforçou-se para que todos os filhos tivessem formação escolar regular, o que possibilitou a luta dos povos pela autonomia cultural.
Trabalhando desde 2005 na Secretaria de Educação do Estado, especialmente à frente da Gerência de Educação Escolar Indígena, a professora ressaltou a importância de um atendimento diferenciado para os povos indígenas em Manaus. “Foi um trabalho lento que aos poucos venceu os medos e preconceitos que havia entre professores e movimentos indígenas. A luta agora é que o decreto hoje existente, que garante o direito a uma educação indígena diferenciada, vire lei. Isso possibilitaria, entre outras conquistas, a abertura de concurso para professores indígenas. A criação de um curso de Licenciatura Intercultural Indígena, prestes a acontecer, deverá formar educadores que garantam e efetivem as políticas que ora estão se consolidando”, disse a professora.
O terceiro conferencista foi Turí Satere-Mawé, coordenador da Coordenação dos Povos indígenas de Manaus e Entorno “Desde a colonização os povos indígenas habitam a cidade de Manaus. Tarumãs, Barés, Manós e muitos outros. Em Manaus quem não se reconhece indígena desconhece sua própria história”, afirmou.
Partindo da imagem simbólica de Ajuricaba, Turí refletiu sobre os processos de construção da cidade de Manaus. O contato com os civilizadores esvaziou a cidade. Os que ficaram aceitaram as políticas do Estado. Os que rejeitaram fugiram ou foram mortos. Portanto, afirmou Turí, os indígenas não vieram à cidade, foi a cidade que invadiu seus espaços. “Não fomos até a cidade, a cidade veio até nós, com violência. Por isso a necessidade de políticas públicas que reparem este agressivo processo civilizatório”.
Após a exposição, os participantes do simpósio puderam dialogar com os conferencistas por meio de abundantes perguntas e novas proposições apresentadas pelo mediador da mesa, prof. Edeney Salvador – FSDB, dando motivo para aprofundamentos e retomada dos grandes eixos propostos pelo tema do encontro.
Fonte: ISMA