O compromisso cristão com a Palavra e o propósito de propagar a Boa Nova estão nas raízes do Dia Mundial das Comunicações Sociais, celebração instituída pelo Papa Paulo VI, em 1966, logo após a conclusão do Concílio Vaticano II. Seu propósito inicial foi um dos primeiros a derivar da grande reforma da Igreja, promovida pelo Papa João XXIII no início da década de 1960, sendo concluído pelo seu sucessor, Paulo VI.
Em 50 anos, o mundo, a comunicação e seus meios sofreram profundas transformações. Nos últimos 10 anos, as redes sociais assumiram um papel de “mídia”, sendo objeto de estudos também por parte da Igreja, na condição de novos meios para as mais essenciais expressões da Palavra e da Boa Nova.
A antevisão do Papa Paulo VI e os prenúncios do Concílio Vaticano II se mostram hoje uma das frentes de maior relevância para a Igreja. O Papa Francisco se apoia nessa relevância ao anunciar, para a data, celebrada em 8 de maio – domingo que precede a Festa de Pentecostes – o tema escolhido para 2016: “Comunicação e Misericórdia: um encontro fecundo”.
Cada palavra e cada gesto
O tema neste cinquentenário mostra a premência da humanização, nesse contexto. Ao pronunciar-se, o Papa Francisco ressaltou: “Aquilo que dizemos e o modo como o dizemos, cada palavra e cada gesto, deveria poder expressar a compaixão, a ternura e o perdão de Deus para todos. O amor, por sua natureza, é comunicação: leva a abrir-se, não se isolando. E, se o nosso coração e os nossos gestos forem animados pela caridade, pelo amor divino, a nossa comunicação será portadora da força de Deus”.
A citação de Shakespeare, usada no texto papal para reiterar a temática, remonta a uma obra de mais de 600 anos, mas a atualidade de sua mensagem não se perdeu no tempo. “[...] Queria convidar todas as pessoas de boa vontade a redescobrir o poder que a misericórdia tem de curar as relações dilaceradas e restaurar a paz e a harmonia entre as famílias e nas comunidades. Todos nós sabemos como velhas feridas e prolongados ressentimentos podem aprisionar as pessoas, impedindo-as de comunicar e reconciliar-se. E isto se aplica também às relações entre os povos. Em todos estes casos, a misericórdia é capaz de implementar um novo modo de falar e dialogar”, ressalta o texto oficial.
O tema do Dia Mundial das Comunicações Sociais sublinha que a comunicação deve abrir espaços para o diálogo, a compreensão recíproca e a reconciliação, permitindo que assim floresçam encontros humanos fecundos. Para isso, afirma o Papa Francisco, é preciso aprender a escutar: “Escutar é muito mais do que ouvir. Ouvir diz respeito ao âmbito da informação; escutar, ao invés, refere-se ao âmbito da comunicação e requer a proximidade. A escuta permite-nos assumir a atitude justa, saindo da tranquila condição de espectadores, usuários, consumidores. Escutar significa também ser capaz de compartilhar questões e dúvidas, caminhar lado a lado, libertar-se de qualquer presunção de onipotência e colocar, humildemente, as próprias capacidades e dons ao serviço do bem comum”.
Um convite a comunicar com misericórdia
Padre Filiberto González, conselheiro geral dos Salesianos de Dom Bosco para a Comunicação Social, repercute o anúncio do Papa, tomando-o como um convite a se comunicar com misericórdia e exaltando o fato de ser aberto e oferecido a todas as pessoas de boa vontade. O mundo digital entra, tal como no pronunciamento do Papa, como ambiente de relevância para a aplicação da proposta-tema. A comunicação da misericórdia não conhece limites, porque depende da qualidade das pessoas, da sua capacidade de escuta, de recepção e de partilha, e não dos meios: “Também ‘e-mails’, ‘sms’, redes sociais, ‘chats’, podem ser formas de comunicação plenamente humanas. Não é a tecnologia que determina se a comunicação é autêntica ou não, mas o coração do homem e a sua capacidade de fazer bom uso dos meios a seu dispor. As redes sociais são capazes de favorecer as relações e promover o bem da sociedade”, ressalta o Sumo Pontífice em sua mensagem.
Padre Filiberto faz mais um recorte relevante à mensagem do Papa Francisco, que, em sua opinião, deixa entrever algumas linhas típicas do seu pontificado, como a cultura do encontro, a centralidade da pessoa, o ser Igreja “em saída”: “A comunicação, os seus lugares e os seus instrumentos permitiram um alargamento de horizontes para muitas pessoas. Isto é um dom de Deus, e também uma grande responsabilidade. Gosto de definir este poder da comunicação como proximidade. O encontro entre a comunicação e a misericórdia é fecundo na medida em que gerar uma proximidade que cuida, conforta, cura, acompanha, faz festa”.
A íntegra da mensagem do Papa Francisco para o 50º Dia Mundial das Comunicações Sociais está disponível no site de notícias do Vaticano. Toque aqui para ler.