O Senhor afirma que o mais importante não é o aluno ou a escola e sim, o projeto pedagógico. Por quê?
Marcos Sandrini: A gente tem de ter um projeto. A escola deve oferecer um projeto de vida para os meninos e as meninas que vêm para a escola. Quando eu falo em menino, pode ser uma pessoa de 10, 15 ou 18 anos. O que eu vou propor para o meu aluno, qual projeto de vida? Às vezes, a família acha que o projeto de vida do jovem é ser bem sucedido, ganhando dinheiro. Isso é um projeto de vida. Mas ele pode ganhar dinheiro, dentro de outro projeto maior que significa não só ganhar dinheiro. Apenas ganhar dinheiro é um projeto de vida falso, unidimensional. Você tem que ter um projeto de vida melhor e o professor também. O que ele vai apresentar para o aluno? O professor de língua portuguesa, por exemplo, vai apresentar para o aluno uma parte do projeto de vida, como se comunicar. Depois tem o de física, biologia, etc. Cada um não deve fazer o que vem à cabeça e sim, trabalhar dentro de um projeto maior, que é a construção de uma pessoa. Segundo Dom Bosco, um bom cristão e um honesto cidadão. Cada professor trabalha uma dimensão do projeto.
Qual é o maior desafio do educador nesse contexto?
Marcos Sandrini: É não cair na tentação da unidimensionalidade. Ele tem de saber que está dando aula, por exemplo, de química, mas o mais importante é que ele está passando para o aluno, um projeto de pessoa humana que é o próprio professor. Vai além. Eu sempre costumo dizer que a escola não contrata um professor de química. Ela contrata um educador que vai dar aula de química. O nosso objetivo é sermos educadores, incidirmos na vida das novas gerações. Esse é nosso projeto, mas cada um na sua dimensão.
Qual é a relação entre espiritualidade, ética e educação?
Marcos Sandrini: A espiritualidade significa as grandes motivações que uma pessoa tem. As grandes utopias, os grandes desejos, os grandes ideais que a pessoa tem. É aquilo que faz com que a pessoa continue lutando, continue a se empenhar, educar. A espiritualidade da pessoa seria a grande mística, paixão, fogo que faz a pessoa ter motivação para fazer determinadas coisas. E a nossa espiritualidade é dentro da dimensão educativa, então, não pode existir professor sem aluno. Para que eu possa fazer meu trabalho educativo, eu preciso do aluno. Na minha espiritualidade, tenho que incluir o aluno. O aluno tem que ser amado pelo professor, tem que ser querido. Às vezes o professor vai ser severo com o aluno não para se proteger, mas para educar o aluno. Às vezes a gente pode dizer assim: “eu sou severo para não me incomodar depois”. Às vezes eu me incomodo, posso até deixar o aluno errar, desde que com isso, eu o ajude a crescer.
Então a disciplina existe para o bem do aluno, e não para manter a escola?
Marcos Sandrini: Por exemplo, no ensino fundamental você tem a disciplina para proteger as crianças. Do 6º ano em diante, você tem a disciplina para que o aluno comece a se abrir para o mundo, para que ele não tenha muitas experiências negativas. No ensino médio, a disciplina deveria brotar quase que de consensos. Então nós vamos entrar em consenso, que temos que atingir esse objetivo esse ano e que nós vamos fazer isso em parceria. E a maioria dos alunos quer aprender e, sobretudo, colocar objetivos. Gosto muito de trabalhar assim: você está aqui estudando, isso aqui é o seu trabalho, como aquele senhor que está em cima do poste, puxando fios, como a senhora que está lavando a louça, como aquele homem que está servindo no bar. Estudar é o trabalho do aluno, principalmente, na perspectiva de futuro.
Colégio Salesiano Dom Bosco - Parnamirim