No dia 13 de maio, o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora, com toda a Família Salesiana, celebra a Solenidade litúrgica de Santa Maria Domingas Mazzarello (1837–1881), Cofundadora do Instituto, que com sua vida propõe ensinamentos espirituais simples e preciosos.
Usando uma metáfora típica da tradição espiritual, mas sempre atual, Madre Mazzarello compara o coração a um jardim que precisa ser cuidado quotidianamente.
Numa carta à Irmã Marianna Lorenzale, então com vinte anos, escreve: «Ao jardim deves comparar teu coração. Se o cultivarmos bem, dará bons frutos, e se não o vigiarmos e cultivarmos um pouco todos os dias, torna-se cheio de ervas daninhas, não é assim? Então coragem, e todos os dias é preciso que olhemos se há algo que atrapalha, algum sentimento, e se encontrarmos, o mandamos secar». (Carta 50, 2)
A última Encíclica do saudoso Papa Francisco, Dilexit nos, propõe um profundo itinerário à descoberta “do amor humano e divino do Coração de Jesus Cristo”.
Considerando que são apenas quatro encíclicas durante seu pontificado e que esta foi publicada em 24 de outubro de 2024, poucos meses antes de sua morte, compreende-se ainda mais claramente o que o próprio Papa afirma no nº 217:
“O que este documento expressa permite-nos descobrir que o que está escrito nas encíclicas sociais Laudato si’ e Fratelli tutti não é estranho ao nosso encontro com o amor de Jesus Cristo, pois, bebendo deste amor, tornamo-nos capazes de tecer laços fraternos, reconhecer a dignidade de cada ser humano e cuidar juntos da nossa casa comum.”
Cuidar do próprio coração, torná-lo conforme ao de Cristo, com um cuidado paciente, quotidiano, é o caminho para transformar o mundo: “Da ferida do lado de Cristo continua a jorrar aquele rio que nunca se esgota, que não passa, que se oferece sempre de novo a quem quer amar. Somente seu amor tornará possível uma nova humanidade.” (DN 219)
Na Espiritualidade Salesiana, muitas são as referências ao Coração de Cristo como fonte daquele amor que pode salvar os jovens e a humanidade inteira, pois “quando somos tentados a navegar na superfície, a viver correndo sem saber por quê, a nos tornar consumistas insaciáveis e escravos das engrenagens de um mercado que não se interessa com o sentido da nossa existência, precisamos recuperar a importância do coração” (DN 2).
Nas Cartas de Santa Maria Domingas Mazzarello, a palavra “coração”, em vários sentidos, aparece 114 vezes.
Dessas, 17 se referem ao Coração de Cristo. Em sua sabedoria, amadurecida na escola da Eucaristia e da vida, pensa que tudo tem origem e passa pelo coração. Desde jovem, sob a orientação experiente do Pe. Domingos Pestarino, Maín aprendeu a guardar e a tornar o próprio coração morada acolhedora do Espírito Santo, para assim levar o próprio amor de Cristo a todos os lugares.
A comunidade de Mornese foi plasmada sob o modelo do coração de Cristo, graças àquela que Madre Mazzarello considerava sua principal responsabilidade: «Se eu der sempre bom exemplo às minhas irmãs, tudo correrá bem; se eu amar Jesus com todo o coração, saberei também fazê-lo amar pelas outras» (Carta 11, 2), pois «as coisas ensinadas com o exemplo permanecem mais no coração muito impressas e fazem maior bem do que com as palavras». (Carta 17, 1)
Madre Mazzarello conhece bem a alma humana e sabe que todo conflito tem sua raiz mais profunda no coração de cada um, naquela tendência ao mal que só a paciente quotidiana abertura à Graça e a realização do Batismo podem vencer. De fato, «Jesus deve ser toda a vossa força, com Jesus os pesos se tornarão leves, os trabalhos suaves, os espinhos se transformarão em doçuras… Mas deveis vencer a vós mesmas, caso contrário tudo se torna insuportável e as maldades, como feridas, ressurgirão em nosso coração». (Carta 22, 21)
Fica claro que esse compromisso não é intimismo, mas verdadeira e própria obra de transformação do ambiente. À comunidade de Saint Cyr, que luta para aceitar a nova diretora, Madre Mazzarello diz:
«Minhas boas Irmãs, pensai que, onde reina a caridade, aí está o Paraíso; Jesus se compraz em estar no meio das filhas que são humildes, obedientes e caritativas. Fazei com que Jesus possa estar de boa vontade no meio de vós». (Carta 49, 3)
Diante de realidades conflituosas, das múltiplas crises que afligem a humanidade e o ambiente, corre-se o risco de permanecer inertes, indiferentes, por causa de um certo sentimento de impotência. Somente retornando ao coração e ao Coração de Cristo será possível viver em harmonia com todos.
Afirma o Papa Francisco:
«O amor pelos irmãos não se fabrica, não é resultado de nosso esforço natural, mas requer uma transformação do nosso coração egoísta. Então surge espontaneamente a bem conhecida súplica: “Jesus, torna o nosso coração semelhante ao teu”. Por esse mesmo motivo, o convite de São Paulo não foi: “Esforçai-vos por fazer boas obras”. Seu convite foi precisamente: “Tende entre vós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus” (Fil 2,5) (…) É importante notar que não se trata apenas de permitir ao Coração de Cristo difundir a beleza do seu amor em nosso coração, por meio de uma confiança total, mas também que, através da nossa própria vida, chegue aos outros e transforme o mundo». (DN 168 e 198)
Nesta luz, o ensinamento de Madre Mazzarello mostra-se extremamente atual: «Mais importa que estejas atenta a manter bem cuidado o jardinzinho do teu coração. De vez em quando, deves dar-lhe uma olhada, se há alguma erva daninha ruim, sufocando as outras plantinhas boas, entende-me…» (Carta 57, 3)
Um compromisso eficaz, pois Madre Mazzarello, maravilhada, escreveu a Dom Cagliero:
«Até agora sempre houve paz, alegria e boa vontade de todas em fazer-se santas, e por isso agradeço a Deus». (Carta 7, 2)
Fonte: Portal FMA