Caros leitores do Boletim Salesiano,
Preparo-me para escrever estas linhas com emoção porque, sendo eu leitor do Boletim Salesiano desde pequeno na minha família, agora encontro-me num papel diferente: o de ter de escrever o primeiro artigo, que é reservado ao Reitor-Mor.
De boa vontade o faço, porque esta honra permite-me dar graças a Deus pelo nosso Dom Ángel, agora Cardeal da Santa Igreja Romana, que acaba de terminar 10 anos de precioso serviço à Congregação e à Família Salesiana, depois da sua eleição no Capítulo Geral 27, em 2014.
À distância de 10 anos daquele dia, agora está plenamente ao serviço do Santo Padre, para aquilo que o Papa Francisco lhe confiar. Nós o levamos no coração e o acompanhamos com oração reconhecida, pelo bem que nos fez, porque o tempo não diminui, e sim reforça o reconhecimento.
A sua história pessoal é um acontecimento histórico para ele, mas também para todos nós. O seu ir embora, no sentido canônico, para um serviço ainda maior na Igreja, é um permanecer sempre conosco e dentro de nós.
Em total continuidade
E agora, como Congregação e, por extensão, como Família Salesiana, como avançamos?
Com muita simplicidade, tranquilamente e em total continuidade. O Vigário do Reitor-Mor, segundo as Constituições Salesianas, tem também a tarefa de substituir, ou suprir o Reitor-Mor em caso de necessidade. Assim será, até o próximo Capítulo Geral.
As Constituições Salesianas afirmam de modo mais canônico e articulado, mas o conceito fundamental é este. Permanecendo no meu serviço de Vigário nos próximos 6 meses, suprirei o Reitor-Mor, conduzindo a Congregação ao Capítulo Geral, o 29º, em fevereiro de 2025.
Esta sim é uma tarefa empenhativa, pelo que peço a vocês desde já orações e a invocação ao Espírito Santo para sermos fiéis ao Senhor Jesus Cristo, com o coração de Dom Bosco.
Chamo-me Stefano
Antes de passar aos assuntos importantes, duas palavras para me apresentar: chamo-me Stefano, nasci em Turim de uma família típica da nossa terra; filho de um pai antigo aluno salesiano, que quis enviar-me para a mesma escola que ele tinha frequentado nos seus tempos, e de uma mãe professora, também ela antiga aluna de uma escola católica. Deles recebi a vida e a fé, simples e concreta. E assim crescemos eu e a minha irmã, somos só dois.
Os meus pais estão já no céu, nas mãos de Deus, e acredito que vão rir muito ao ver o que acontece ao seu filho... comentarão seguramente: dun Bosch tenje nà man sla testa! (Dom Bosco ponde-lhe uma mão na cabeça!)
Salesianamente falando, sempre fiz parte da Inspetoria salesiana do Piemonte Valle d’Aosta, até quando, no CG27, me foi pedido que coordenasse a Região Mediterrânea (todas as obras salesianas à volta do Mar Mediterrâneo, em três continentes que o circundam... Mas incluindo também Portugal e algumas áreas do leste da Europa).
Uma experiência salesiana belíssima, que me transformou, tornando-me internacional no modo de ver e de sentir as coisas. O CG28 deu o segundo passo, pedindo-me para ser Vigário do Reitor-Mor, e aqui estamos! Dez anos ao lado do padre Ángel, aprendendo nestes anos a sentir o coração do mundo, para uma Congregação que está verdadeiramente difundida em toda a Terra.
O futuro próximo
O serviço destes próximos meses, até fevereiro de 2025, é, portanto, acompanhar a Congregação até o próximo Capítulo Geral, que será celebrado em Turim-Valdocco a partir do próximo dia 16 de fevereiro de 2025. Caros amigos, o Capítulo Geral é o momento mais alto e importante da vida da Congregação, em que se reúnem os representantes de todas as Inspetorias da Congregação (estamos falando de mais de 250 irmãos) essencialmente para três coisas: conhecer-se, rezar e refletir para “pensar o presente e o futuro da Congregação” e eleger o próximo Reitor-Mor e todo o seu Conselho.
Portanto, um momento muito importante que o nosso padre Ángel orientou na reflexão do tema “apaixonados por Jesus Cristo e dedicados aos jovens”.
Este tema que o Reitor-Mor escolheu para a Congregação vai se articular em três aspetos diferentes e complementares: a centralidade de Cristo na nossa vida pessoal, a consagração religiosa; a dimensão da nossa vocação comunitária, na fraternidade e na corresponsabilidade laical a que é confiada a missão; e os aspetos institucionais da nossa Congregação, a avaliação da animação e do governo no acompanhamento da Congregação. Três aspetos para um único tema generativo.
A nossa Congregação tem muita necessidade de viver este Capítulo Geral que acontece depois de tantas vicissitudes que nos afetaram a todos. Basta pensar que o último Capítulo Geral foi celebrado durante a pandemia, e precisamente devido à Covid-19 foi antecipadamente encerrado.
Construir a esperança
Celebrar um Capítulo Geral é celebrar a esperança, construir a esperança através das decisões institucionais e pessoais que permitem prosseguir o sonho de Dom Bosco, dar-lhe presente e futuro. Cada pessoa é chamada a ser um sonho, no coração de Deus, um sonho realizado.
Na tradição salesiana, há aquela bela frase que Dom Bosco disse ao padre Rua, chamado de novo a Valdocco para assumir concretamente o lugar de Dom Bosco: “Fizeste de Dom Bosco em Mirabello. Agora fá-lo-ás aqui, no Oratório”.
É isto que verdadeiramente conta: “Ser dom Bosco hoje” é o melhor presente que podemos oferecer ao nosso mundo.