O basquete como elemento cultural para a superação das vulnerabilidades

Sexta, 26 Julho 2024 14:13 Escrito por  João Victor Moura, Coordenador da OSAF; e Rafaela Coutinho, Educadora Social da OSAF
O basquete como elemento cultural para a superação das vulnerabilidades Equipe sub-13 de Araras com educandas do SCFV da OSAF Foto: Arquivo Pessoal/Comunicação OSAF
Em Araras, SP, a Obra Salesiana de Apoio Fraterno (OSAF) tem no ensino do basquete uma ferramenta para estimular a autoconfiança dos educandos e abrir novas perspectivas de vida.

 

A Obra Salesiana de Apoio Fraterno (OSAF), localizada em Araras, SP, foi a primeira casa salesiana a executar o Futebol de Rua (Fútbol Callejero) e seu reconhecido método de mediação de conflitos e cultura de paz; isso tanto como atividade dentro da obra social, quanto em parceria com escolas do município.

Entretanto, embora o futebol seja em nossa obra e no município o esporte mais praticado – talvez como em qualquer outro lugar do Brasil –, o esporte que tem se destacado e é cada vez mais procurado pelos jovens é o basquete. Assim, a OSAF traz consigo outra novidade: agregar o Serviço de Convivência da às equipes do município nesta nova modalidade esportiva.

Diferente do futebol, o basquete não é cultural, não se localiza no “DNA” do brasileiro. Ainda que ícones da história do esporte no Brasil praticaram o basquete, como Oscar, Hortência e Magic Paula, até hoje não tiveram a expressão e a grandeza reconhecida ou a idolatria que despertam os jogadores de futebol, como nos casos de Pelé, Ronaldo, Zico, entre outros.

Então por que o basquete tem sido procurado em nossa obra? Acreditamos que muito pelo crescimento da modalidade no país devido a uma espécie de importação de culturas estado-unidenses: há tempos o Brasil importa o rap e o grafite como arte, a moda streetwear e por fim o basquete, como esporte que agrega a estas outras expressões um modo de ser e de existir como jovem periférico.

 

Serviço de Convivência e Escolinha de Basquete

Sem grandes pretensões, no ano de 2022 vinculamos o nosso Serviço de Convivência à Escolinha de Basquete que acontece em nossa obra em parceria com a Secretaria Municipal de Esportes. Demos ênfase ao basquete nos esportes coletivos e realizamos duas edições de um campeonato intermunicipal da modalidade Basquete 3x3 para adolescentes e adultos, homens e mulheres, com patrocínio e premiações.

A OSAF também sediou festivais e jogos amistosos. Ao mesmo tempo, o time adulto feminino da cidade iniciou seus treinamentos após o horário do Serviço de Convivência em nossa obra. Juntando todos esses ingredientes, verificamos em 2024 alguns resultados importantes.

 

Novas perspectivas, competências e valores

O fato do time adulto feminino treinar em nossa obra trouxe uma realidade absorvida de maneira distinta entre meninos e meninas atendidos pela OSAF. Para os meninos, ficou claro que as meninas podem e devem praticar esportes e podem ser, inclusive, tão inteligentes, rápidas e fortes quanto os meninos – isso fez com que repensassem um certo lugar cultural de privilégio nos esportes e vivenciassem, necessariamente, outra relação com as meninas.

De outro modo, para elas, foi claro que o fato de assistir ao treino do time adulto possibilitou criar laços de amizade e admiração, resultando na escrita de um novo horizonte: se antes as meninas de 12 a 15 anos tinham dúvidas do que seriam quando adultas, agora muitas delas já sabem que querem uma oportunidade no time de basquete. Mas vejamos, não apenas por conta do esporte e tudo o que ele provê, como viagens, conhecer pessoas, disputar uma competição, reconhecimento ou títulos; mas sim pelo fato de ofertar bolsas de estudos em colégios particulares e faculdades, e expandir este universo cultural da adolescente proveniente de uma obra social que, em geral, se dá em um repertório curto, de mera repetição de costumes familiares. Assistir as adultas treinarem trouxe às mais novas o desejo para ser uma delas e, consequente, fez das adultas referências. Para nós, isso implicou em um novo recorte sobre o que é possível no ato de educar.

Outro resultado foi a inserção das nossas adolescentes no time sub-17 da cidade e a criação do time sub-13, que tem como base educandas do Serviço de Convivência. Das 10 atletas inscritas no time sub-13, 6 são inscritas também no Serviço de Convivência e 1 é ex-educanda. Atualmente, todos os times de basquete feminino do município de Araras têm educandas ou ex-educandas da OSAF: sub-13 (7), sub-17 (1) e adulto (1).

Parafraseando Dom Bosco, em que diz que “os esportes são meios eficazes para promover a saúde, a disciplina e a honestidade”, vemos como essa modalidade esportiva tem promovido para nossos jovens a construção de novas competências e valores.

Acreditamos que o basquete se conectou a uma forma de se expressar, a uma forma cultural de existir e pôde, para todos esses adolescentes, ser uma maneira de superar suas condições vulneráveis através da vivência com o esporte que os coloca em contato com outros universos: o do estudo, o das viagens e competições, o da oportunidade de sair da comunidade e de encontrar outro sentido para a vida!

 

Casos de sucesso

Apresentamos a seguir os depoimentos de dois orgulhos da OSAF: João Pedro, que começou a jogar na OSAF e hoje está na equipe sub-17 do Nosso Clube em Limeira, SP, e Caroline Florencio, atleta do sub-17 de Araras, SP.

“Eu comecei a jogar na OSAF por brincadeira e lá vi que era algo pelo qual eu realmente me interessava. Comecei a treinar e jogar pelo time de Araras até que, no final do ano de 2022, recebi uma proposta para jogar no time Nosso Clube, em Limeira, que é um time de grande importância no basquete do Estado de São Paulo e é aonde eu estou jogando atualmente” - João Pedro dos Santos.

“A OSAF sempre proporciona atividades diferentes e incentiva você a tentar algumas dessas. Foi assim que eu conheci no basquete e ali descobri uma paixão, um novo estilo de vida. Comecei treinando na OSAF e tive todo o apoio que eu precisava para que hoje eu pudesse jogar pelo time da cidade e a representar em campeonatos na região e no Estado” - Caroline Florencio.

 

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O basquete como elemento cultural para a superação das vulnerabilidades

Sexta, 26 Julho 2024 14:13 Escrito por  João Victor Moura, Coordenador da OSAF; e Rafaela Coutinho, Educadora Social da OSAF
O basquete como elemento cultural para a superação das vulnerabilidades Equipe sub-13 de Araras com educandas do SCFV da OSAF Foto: Arquivo Pessoal/Comunicação OSAF
Em Araras, SP, a Obra Salesiana de Apoio Fraterno (OSAF) tem no ensino do basquete uma ferramenta para estimular a autoconfiança dos educandos e abrir novas perspectivas de vida.

 

A Obra Salesiana de Apoio Fraterno (OSAF), localizada em Araras, SP, foi a primeira casa salesiana a executar o Futebol de Rua (Fútbol Callejero) e seu reconhecido método de mediação de conflitos e cultura de paz; isso tanto como atividade dentro da obra social, quanto em parceria com escolas do município.

Entretanto, embora o futebol seja em nossa obra e no município o esporte mais praticado – talvez como em qualquer outro lugar do Brasil –, o esporte que tem se destacado e é cada vez mais procurado pelos jovens é o basquete. Assim, a OSAF traz consigo outra novidade: agregar o Serviço de Convivência da às equipes do município nesta nova modalidade esportiva.

Diferente do futebol, o basquete não é cultural, não se localiza no “DNA” do brasileiro. Ainda que ícones da história do esporte no Brasil praticaram o basquete, como Oscar, Hortência e Magic Paula, até hoje não tiveram a expressão e a grandeza reconhecida ou a idolatria que despertam os jogadores de futebol, como nos casos de Pelé, Ronaldo, Zico, entre outros.

Então por que o basquete tem sido procurado em nossa obra? Acreditamos que muito pelo crescimento da modalidade no país devido a uma espécie de importação de culturas estado-unidenses: há tempos o Brasil importa o rap e o grafite como arte, a moda streetwear e por fim o basquete, como esporte que agrega a estas outras expressões um modo de ser e de existir como jovem periférico.

 

Serviço de Convivência e Escolinha de Basquete

Sem grandes pretensões, no ano de 2022 vinculamos o nosso Serviço de Convivência à Escolinha de Basquete que acontece em nossa obra em parceria com a Secretaria Municipal de Esportes. Demos ênfase ao basquete nos esportes coletivos e realizamos duas edições de um campeonato intermunicipal da modalidade Basquete 3x3 para adolescentes e adultos, homens e mulheres, com patrocínio e premiações.

A OSAF também sediou festivais e jogos amistosos. Ao mesmo tempo, o time adulto feminino da cidade iniciou seus treinamentos após o horário do Serviço de Convivência em nossa obra. Juntando todos esses ingredientes, verificamos em 2024 alguns resultados importantes.

 

Novas perspectivas, competências e valores

O fato do time adulto feminino treinar em nossa obra trouxe uma realidade absorvida de maneira distinta entre meninos e meninas atendidos pela OSAF. Para os meninos, ficou claro que as meninas podem e devem praticar esportes e podem ser, inclusive, tão inteligentes, rápidas e fortes quanto os meninos – isso fez com que repensassem um certo lugar cultural de privilégio nos esportes e vivenciassem, necessariamente, outra relação com as meninas.

De outro modo, para elas, foi claro que o fato de assistir ao treino do time adulto possibilitou criar laços de amizade e admiração, resultando na escrita de um novo horizonte: se antes as meninas de 12 a 15 anos tinham dúvidas do que seriam quando adultas, agora muitas delas já sabem que querem uma oportunidade no time de basquete. Mas vejamos, não apenas por conta do esporte e tudo o que ele provê, como viagens, conhecer pessoas, disputar uma competição, reconhecimento ou títulos; mas sim pelo fato de ofertar bolsas de estudos em colégios particulares e faculdades, e expandir este universo cultural da adolescente proveniente de uma obra social que, em geral, se dá em um repertório curto, de mera repetição de costumes familiares. Assistir as adultas treinarem trouxe às mais novas o desejo para ser uma delas e, consequente, fez das adultas referências. Para nós, isso implicou em um novo recorte sobre o que é possível no ato de educar.

Outro resultado foi a inserção das nossas adolescentes no time sub-17 da cidade e a criação do time sub-13, que tem como base educandas do Serviço de Convivência. Das 10 atletas inscritas no time sub-13, 6 são inscritas também no Serviço de Convivência e 1 é ex-educanda. Atualmente, todos os times de basquete feminino do município de Araras têm educandas ou ex-educandas da OSAF: sub-13 (7), sub-17 (1) e adulto (1).

Parafraseando Dom Bosco, em que diz que “os esportes são meios eficazes para promover a saúde, a disciplina e a honestidade”, vemos como essa modalidade esportiva tem promovido para nossos jovens a construção de novas competências e valores.

Acreditamos que o basquete se conectou a uma forma de se expressar, a uma forma cultural de existir e pôde, para todos esses adolescentes, ser uma maneira de superar suas condições vulneráveis através da vivência com o esporte que os coloca em contato com outros universos: o do estudo, o das viagens e competições, o da oportunidade de sair da comunidade e de encontrar outro sentido para a vida!

 

Casos de sucesso

Apresentamos a seguir os depoimentos de dois orgulhos da OSAF: João Pedro, que começou a jogar na OSAF e hoje está na equipe sub-17 do Nosso Clube em Limeira, SP, e Caroline Florencio, atleta do sub-17 de Araras, SP.

“Eu comecei a jogar na OSAF por brincadeira e lá vi que era algo pelo qual eu realmente me interessava. Comecei a treinar e jogar pelo time de Araras até que, no final do ano de 2022, recebi uma proposta para jogar no time Nosso Clube, em Limeira, que é um time de grande importância no basquete do Estado de São Paulo e é aonde eu estou jogando atualmente” - João Pedro dos Santos.

“A OSAF sempre proporciona atividades diferentes e incentiva você a tentar algumas dessas. Foi assim que eu conheci no basquete e ali descobri uma paixão, um novo estilo de vida. Comecei treinando na OSAF e tive todo o apoio que eu precisava para que hoje eu pudesse jogar pelo time da cidade e a representar em campeonatos na região e no Estado” - Caroline Florencio.

 

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