Deus deu a Dom Bosco um grande coração

Quinta, 20 Abril 2023 19:34 Escrito por  Pe. Ángel Fernández Artime – Reitor-mor dos Salesianos
“Deus deu a Dom Bosco um coração grande, sem fronteiras, como as praias do mar. Todos os dias sinto o pulsar desse coração”. É o que afirma o Reitor-mor dos Salesianos, padre Ángel Fernández Artime, em seu artigo deste mês.    

Ele chama-se Alberto. Dela, uma jovem mãe, não sei o nome.

Ele vive no Peru. Ela vive em Hyderabad (Índia).

O que liga essas duas histórias, essas duas vidas, é que as encontrei por ocasião do meu serviço: Alberto no Peru e a jovem mãe na Índia, na semana seguinte.

 

O que as une é o precioso fio de ouro da carícia de Deus através do acolhimento que Dom Bosco lhes reservou numa das suas casas. O coração dos Salesianos mudou as suas vidas, salvando-as da situação de pobreza e talvez de morte a que estavam condenadas. E creio poder afirmar que o fruto da Páscoa do Senhor passa também através de gestos humanos que curam e salvam. 

 

São essas as duas histórias.

 

Um jovem agradecido

Há algumas semanas encontrava-me em Huancayo (Peru). Estava para celebrar a Eucaristia com mais de 680 jovens do Movimento Juvenil Salesiano da Inspetoria, juntamente com várias centenas de pessoas daquela cidade, a 3.200 metros de altitude nas montanhas do Peru, e disseram-me que um ex-aluno queria cumprimentar-me. Tinha feito quase cinco horas de viagem para chegar e tinha de fazer outras cinco para regressar. “Terei todo prazer em encontrar-me com ele e agradecer-lhe pelo seu belo gesto”, respondi.

 

Pouco antes do início da Eucaristia, aquele jovem aproximou-se e disse-me que se sentia muito feliz por me cumprimentar. “Chamo-me Alberto e quis fazer esta viagem para agradecer pessoalmente a Dom Bosco porque os Salesianos salvaram a minha vida”.

 

Agradeci-lhe e perguntei-lhe por que me dizia aquilo. Ele continuou com o seu testemunho, e cada palavra tocava-me cada vez mais o coração. Disse-me que era um rapaz difícil; que havia dado muitos problemas aos Salesianos que o haviam acolhido numa das casas para meninos em dificuldade.

 

Acrescentou que haviam tido dezenas de motivos para se livras dele porque “eu era um pobre diabo, e que só podia esperar algo de triste do mundo e da vida, mas eles tiveram muita paciência comigo”. E continuou: “Consegui avançar, continuei a estudar e, apesar da minha rebelião, sempre me deram novas oportunidades. Hoje sou pai de família, tenho uma menina muito linda e sou educador social. Se não fosse o que os Salesianos fizeram por mim, talvez a minha vida já tivesse terminado”.

 

Fiquei sem palavras e muito comovido. Disse-lhe que agradecia muito o seu gesto, as suas palavras e o seu carinho, e que o seu testemunho de vida era a maior alegria para um coração salesiano.

 

Fez um gesto discreto e indicou-me um salesiano que estava ali presente naquele momento, que havia sido um dos seus educadores e um daqueles que haviam tido paciência com ele. O salesiano aproximou-se sorrindo e, creio que com grande alegria no coração, confirmou-me que tinha sido mesmo assim. Almoçamos juntos e depois Alberto voltou para sua casa.

 

Uma mãe feliz

Cinco dias depois desse encontro, estava eu no sul da Índia, no estado de Hyderabad. No meio de muitas saudações e atividades, uma tarde, anunciaram-me uma visita. Era uma jovem mãe com a sua filha de seis meses que estava à minha espera na sala de visitas da casa salesiana. Queria cumprimentar-me. A menina era muito linda e, como não estava assustada, não resisti em pegá-la no colo e abençoá-la também. Tiramos algumas fotos de recordação, para fazer a vontade da jovem mãe. Isso foi tudo neste encontro.

 

Não houve mais palavras, mas a história era dolorosa e bela ao mesmo tempo. Aquela jovem mãe havia sido uma garota abandonada, que vivia na rua e sem ninguém. É fácil imaginar o seu destino.

 

Mas um dia, na providência do bom Deus, foi encontrada por um salesiano que havia começado a recolher garotos em situação de rua no estado de Hyderabad. Foi uma das meninas que conseguiu ter uma casa juntamente com outras garotas. Os educadores e os meus irmãos salesianos quiseram que todas as necessidades essenciais fossem atendidas e cuidadas.

 

Assim essa menina, retirada da rua, pôde florescer de novo, fazer um percurso de vida que a conduziu a ser hoje mulher e mãe e, coisa para mim inestimável, professora na grande escola salesiana onde estávamos naquele momento.

 

Não pude deixar de pensar em tantas outras vidas assim, salvas do desespero e da angústia, que há no mundo salesiano; em tantos irmãos e irmãs, salesianos e salesianas que se ajoelham todos os dias para “lavar os pés” de Jesus nos pequenos e grandes das nossas ruas.

 

Esta é a chave de como muitas vidas podem ser transformadas para melhor.

 

Como não ver nestes dois fatos a “mão de Deus” que atua através do bem que podemos fazer? E que somos todos nós que, em qualquer parte do mundo, em qualquer situação de vida e profissão, acreditamos na humanidade e acreditamos na dignidade de qualquer pessoa, e acreditamos que se deve continuar a construir um mundo melhor.

 

Escrevo isso porque também as boas notícias devem ser divulgadas. As más notícias difundem-se sozinhas ou encontram pessoas interessadas. Estas duas histórias de vida real, tão próximas no tempo para mim, confirmam mil e uma vezes quanto vale o bem que procuramos fazer todos juntos. E também aquilo que um cântico salesiano poeticamente exprimia: “Digo que João Bosco está vivo, não penseis que um Pai assim possa abandonar-nos. Não morreu, o Pai vive, sempre esteve presente e continua, ele que cuidou de jovens abandonados e órfãos, de garotos da rua, sozinhos, que ajudava a mudar… Digo que João Bosco está vivo e empreendeu mil iniciativas. Não vês a sua solicitude de pai que agora está presente em todo o mundo? Não o ouves entoar o seu cântico a tantas filhas, a tantos filhos, que levam estes reflexos do Pai que amamos? Ele vive, quando os seus salesianos são assim”.

 

A todos vocês desejo uma Santa Páscoa; e a quem se sente longe dessa certeza de fé, desejo todos os bens, com toda a cordialidade.

 

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Deus deu a Dom Bosco um grande coração

Quinta, 20 Abril 2023 19:34 Escrito por  Pe. Ángel Fernández Artime – Reitor-mor dos Salesianos
“Deus deu a Dom Bosco um coração grande, sem fronteiras, como as praias do mar. Todos os dias sinto o pulsar desse coração”. É o que afirma o Reitor-mor dos Salesianos, padre Ángel Fernández Artime, em seu artigo deste mês.    

Ele chama-se Alberto. Dela, uma jovem mãe, não sei o nome.

Ele vive no Peru. Ela vive em Hyderabad (Índia).

O que liga essas duas histórias, essas duas vidas, é que as encontrei por ocasião do meu serviço: Alberto no Peru e a jovem mãe na Índia, na semana seguinte.

 

O que as une é o precioso fio de ouro da carícia de Deus através do acolhimento que Dom Bosco lhes reservou numa das suas casas. O coração dos Salesianos mudou as suas vidas, salvando-as da situação de pobreza e talvez de morte a que estavam condenadas. E creio poder afirmar que o fruto da Páscoa do Senhor passa também através de gestos humanos que curam e salvam. 

 

São essas as duas histórias.

 

Um jovem agradecido

Há algumas semanas encontrava-me em Huancayo (Peru). Estava para celebrar a Eucaristia com mais de 680 jovens do Movimento Juvenil Salesiano da Inspetoria, juntamente com várias centenas de pessoas daquela cidade, a 3.200 metros de altitude nas montanhas do Peru, e disseram-me que um ex-aluno queria cumprimentar-me. Tinha feito quase cinco horas de viagem para chegar e tinha de fazer outras cinco para regressar. “Terei todo prazer em encontrar-me com ele e agradecer-lhe pelo seu belo gesto”, respondi.

 

Pouco antes do início da Eucaristia, aquele jovem aproximou-se e disse-me que se sentia muito feliz por me cumprimentar. “Chamo-me Alberto e quis fazer esta viagem para agradecer pessoalmente a Dom Bosco porque os Salesianos salvaram a minha vida”.

 

Agradeci-lhe e perguntei-lhe por que me dizia aquilo. Ele continuou com o seu testemunho, e cada palavra tocava-me cada vez mais o coração. Disse-me que era um rapaz difícil; que havia dado muitos problemas aos Salesianos que o haviam acolhido numa das casas para meninos em dificuldade.

 

Acrescentou que haviam tido dezenas de motivos para se livras dele porque “eu era um pobre diabo, e que só podia esperar algo de triste do mundo e da vida, mas eles tiveram muita paciência comigo”. E continuou: “Consegui avançar, continuei a estudar e, apesar da minha rebelião, sempre me deram novas oportunidades. Hoje sou pai de família, tenho uma menina muito linda e sou educador social. Se não fosse o que os Salesianos fizeram por mim, talvez a minha vida já tivesse terminado”.

 

Fiquei sem palavras e muito comovido. Disse-lhe que agradecia muito o seu gesto, as suas palavras e o seu carinho, e que o seu testemunho de vida era a maior alegria para um coração salesiano.

 

Fez um gesto discreto e indicou-me um salesiano que estava ali presente naquele momento, que havia sido um dos seus educadores e um daqueles que haviam tido paciência com ele. O salesiano aproximou-se sorrindo e, creio que com grande alegria no coração, confirmou-me que tinha sido mesmo assim. Almoçamos juntos e depois Alberto voltou para sua casa.

 

Uma mãe feliz

Cinco dias depois desse encontro, estava eu no sul da Índia, no estado de Hyderabad. No meio de muitas saudações e atividades, uma tarde, anunciaram-me uma visita. Era uma jovem mãe com a sua filha de seis meses que estava à minha espera na sala de visitas da casa salesiana. Queria cumprimentar-me. A menina era muito linda e, como não estava assustada, não resisti em pegá-la no colo e abençoá-la também. Tiramos algumas fotos de recordação, para fazer a vontade da jovem mãe. Isso foi tudo neste encontro.

 

Não houve mais palavras, mas a história era dolorosa e bela ao mesmo tempo. Aquela jovem mãe havia sido uma garota abandonada, que vivia na rua e sem ninguém. É fácil imaginar o seu destino.

 

Mas um dia, na providência do bom Deus, foi encontrada por um salesiano que havia começado a recolher garotos em situação de rua no estado de Hyderabad. Foi uma das meninas que conseguiu ter uma casa juntamente com outras garotas. Os educadores e os meus irmãos salesianos quiseram que todas as necessidades essenciais fossem atendidas e cuidadas.

 

Assim essa menina, retirada da rua, pôde florescer de novo, fazer um percurso de vida que a conduziu a ser hoje mulher e mãe e, coisa para mim inestimável, professora na grande escola salesiana onde estávamos naquele momento.

 

Não pude deixar de pensar em tantas outras vidas assim, salvas do desespero e da angústia, que há no mundo salesiano; em tantos irmãos e irmãs, salesianos e salesianas que se ajoelham todos os dias para “lavar os pés” de Jesus nos pequenos e grandes das nossas ruas.

 

Esta é a chave de como muitas vidas podem ser transformadas para melhor.

 

Como não ver nestes dois fatos a “mão de Deus” que atua através do bem que podemos fazer? E que somos todos nós que, em qualquer parte do mundo, em qualquer situação de vida e profissão, acreditamos na humanidade e acreditamos na dignidade de qualquer pessoa, e acreditamos que se deve continuar a construir um mundo melhor.

 

Escrevo isso porque também as boas notícias devem ser divulgadas. As más notícias difundem-se sozinhas ou encontram pessoas interessadas. Estas duas histórias de vida real, tão próximas no tempo para mim, confirmam mil e uma vezes quanto vale o bem que procuramos fazer todos juntos. E também aquilo que um cântico salesiano poeticamente exprimia: “Digo que João Bosco está vivo, não penseis que um Pai assim possa abandonar-nos. Não morreu, o Pai vive, sempre esteve presente e continua, ele que cuidou de jovens abandonados e órfãos, de garotos da rua, sozinhos, que ajudava a mudar… Digo que João Bosco está vivo e empreendeu mil iniciativas. Não vês a sua solicitude de pai que agora está presente em todo o mundo? Não o ouves entoar o seu cântico a tantas filhas, a tantos filhos, que levam estes reflexos do Pai que amamos? Ele vive, quando os seus salesianos são assim”.

 

A todos vocês desejo uma Santa Páscoa; e a quem se sente longe dessa certeza de fé, desejo todos os bens, com toda a cordialidade.

 

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