Foi em um dia desesperador, quando pescadores não conseguiram garantir seu sustento, que Jesus, por meio de um convite, reestabeleceu a esperança: “Avancem para águas mais profundas e lancem as redes para a pesca” (Lc 5, 4b).
O pescado sempre foi expressão de sustento para homens e mulheres que vivem do ofício de pescar. Diversas comunidades se constituíram às margens de rios, lagos e praias, formando um modelo particular de vida no qual os fatores ecológicos são essenciais. No tempo de Jesus não era diferente: encontramos diversas vezes nas Sagradas Escrituras referências as pessoas que adotaram este estilo de vida, inclusive no grupo organizado e mobilizado por Jesus existiam muitas delas. Foi para um deles, Simão (que depois viria a se chamar Pedro), que Jesus realizou um dos mais belos convites relatados pelos evangelistas: ser pescador de gente.
Jesus transforma assim uma atividade do cotidiano daquele povo em uma missão; dá um novo sentido à prática e estabelece uma relação mística com o dia a dia. Pescar, para aquelas pessoas que receberam pessoalmente o convite de Jesus, deixou de ser lançar as redes ao mar para pegar peixes e passou a ser um novo modo de viver; passou a ser um lançar as redes nos corações, resgatando a dignidade humana e estabelecendo relações afetivas, fraternas, conduzidas pelo bem comum. O sustento passa a ser a relação, a libertação. Jesus é poético ao fazer esse convite.
Ser pescador de gente implica, necessariamente, em sair das margens e avançar para as águas mais profundas. Indica desprendimento, saída das estruturas confortáveis, renúncia à superficialidade. É necessário avançar, descobrir novas margens. Esse movimento é exigente. É preciso que o discípulo “deixe tudo” para que nada o impeça de anunciar o Reino de Deus. É fundamental romper com mecanismos perversos, violentos, engessados e ensimesmados, para assumir a lógica do Reino de Deus. Essa lógica precisa ser vivida no seguimento a pessoa de Jesus de Nazaré: como seguir a quem não se ama? Como amar alguém que não se conhece?
Pastoral Escolar
A Pastoral Escolar é o lugar propicio para conhecer Jesus, amar Jesus, entender seu jeito de ser. É nas atividades pastorais que a evangelização se concretiza. APastoral é ação organizada da evangelização, respondendo, à luz das pluralidades, interculturalidades, interdisciplinaridades e da sensibilidade ao diálogo inter-religioso, às necessidades atuais.
A ação pastoral deixa as margens e ganha profundidade quando, realmente, se compromete com a evangelização e a educação de crianças e jovens, tornando Jesus conhecido, amado e seguido. Respondendo com criatividade, responsabilidade e pé no chão ao convite para ser pescador de gente.
A escola em pastoral não é apenas um lugar de ensinar conteúdos e formar pessoas para o mercado, mas, antes de tudo, é uma comunidade, um lugar de relação em que o modelo é Jesus de Nazaré. Trata-se de um espaço da prática constante de fazer o que Jesus fez.
Para que esse movimento tenha sentido, toda a comunidade escolar precisa estar empenhada e convicta de sua missão. Não somos uma instituição que possui uma missão. Somos, antes de tudo, uma missão que tem uma instituição. Todos os setores pedagógicos e administrativos do colégio precisam entender sua característica pastoral e evangelizadora.
Na atual conjuntura, vemos um movimento estranho nas unidades educacionais confessionais, em que muitas vezes encontra-se um discurso de “qualificação da educação”, mercadologia e entendendo as atividades pastorais como gastos desnecessários. Se a instituição quiser, realmente, continuar mantendo seu carisma, convicção, valores e espiritualidade, precisará romper esse pensamento, dando espaço a uma visão pastoral e a um uso evangélico dos bens. Esta visão precisa ser garantida em primeiro lugar pela gestão, inspirada em continuar os sonhos dos nossos fundadores.
A exemplo de Jesus
Jesus é o nosso Bom Pastor, é com ele que aprendemos a fazer pastoral. Seu caminhar, seus desafios, suas conquistas, seus ensinamentos, sua forma de se relacionar com as pessoas e com a criação são sinal de libertação, sinal de pastoralidade. Comprometer-se com a libertação, indo ao encontro de crianças e jovens é, portanto, o diferencial das escolas em pastoral. Logo, sua maneira de estar na profundidade, garantindo a experiência humana em um novo sentido.
Somos feitos de histórias, vivemos intensamente nossas histórias de vida e participamos das histórias de outras pessoas. Deus atua na história da humanidade, assim como também habita em nós. Logo, toda história humana é sagrada e precisa ser vivida em sua plenitude. É preciso levar nossas crianças e nossos jovens ao compromisso de libertação daqueles que têm sua dignidade humana saqueada, pervertida e desprezada, comprometendo-se com o humanismo solidário, desenvolvendo pensamento crítico, enxergando as realidades do mundo, desejando assumir o modelo do Bom Pastor e alinhando ações sólidas de caridade. Só assim poderemos assumir a missão de sermos pescadores de gente e afirmar a opção de fazer pastoral.
Para vivermos e fazermos com que nossos estudantes também experimentem a profundidade da experiência humana, precisamos sair de uma atitude de negação da vida para um compromisso com a vida.
Felipe Lima Teixeira é assessor de pastoral, juventudes e movimentos sociais. Compõe a Equipe de Pastoral do Colégio Salesiano Dom Bosco – Salvador, BA.