"É com grande alegria que vos comunico, neste dia histórico, que recebemos oficialmente, da Santa Sé, por determinação do Santo Padre, o Papa Francisco, uma carta do Dicastério para a Causa dos Santos, datada do dia 24 de junho de 2022. Recebemos a autorização para a abertura do processo de beatificação do Padre Cícero Romão Batista." Desta forma, dom Magnus Henrique Lopes, bispo da Diocese de Crato, anunciou ao povo de Deus a notícia da abertura do processo de beatificação do Patriarca do Nordeste, esperado há mais de 80 anos.
Os esclarecimentos sobre o processo de beatificação foram feitos em coletiva à imprensa, no Círculo Operário São José, em Juazeiro do Norte, CE. Participaram do momento dom Magnus Henrique, o padre Cícero José da Silva, pároco e reitor da Basílica Santuário Nossa Senhora das Dores, além de padres diocesanos, historiadores e o prefeito de Juazeiro do Norte, Gledson Bezerra.
O coordenador da preparação para a beatificação de Benigna Cardoso, padre Wesley Barros, abriu o momento trazendo um histórico da causa do conselheiro do Sertão.
“A Diocese constituiu, em 2001, uma comissão para preparar uma revisão histórica. Após cinco anos de trabalho, foram entregues, em 30 de maio de 2006, para a Congregação para a Doutrina da Fé, juntamente com uma petição, de cerca de 254 bispos brasileiros, que pediam a Santa Sé um gesto concreto de reconhecimento do importante papel que o Padre Cícero exerceu e continuava a exercer na espiritualidade, na vida, no desenvolvimento de toda essa região”, afirmou o padre Wesley, explicando que em 27 de outubro de 2014, após oito anos do envio dos documentos, a Congregação indicou o caminho da reconciliação do Padre Cícero Romão.
Ainda durante a coletiva à imprensa, dom Magnus Henrique fez memória a irmã Annette Dumoulin, cônega de Santo Agostinho, agradecendo a todos aqueles que trabalharam para o processo de beatificação do Padrinho Cícero.
“Essa resposta é um anseio dos milhões de devotos do Padre Cícero. É com sentimento de gratidão, alegria, júbilo e esperança que agradeço o trabalho incansável, que aqui primeiramente digo, dos romeiros e romeiras, que foram perseverantes, homens e mulheres de fé, sempre acreditaram que Deus não iria nos abandonar”, exaltou dom Magnus.
O reitor da Basílica Santuário Nossa Senhora das Dores, padre Cícero José, agradeceu ao discernimento da oração, fazendo memória a monsenhor Murilo de Sá Barreto que, durante mais de 40 anos, esteve à frente da Casa da Mãe das Dores e lutou para que esta beatificação fosse possível.
O inspetor da Inspetoria Salesiana do Nordeste, padre Inácio Vieira, afirmou a alegria para os Salesianos de Dom Bosco, “porque o zelo pastoral do Padre Cícero e o cuidado educativo, estes dois elementos nos levaram ao Juazeiro. Estamos aí, para a educação das novas gerações e para acolhida do povo santo de Deus”, afirmou o inspetor, que refletiu sobre o legado de santidade e o pastoreio do Padre Cícero, frisando que é, até hoje, uma lição de vida para os que levam a missão salesiana, em Juazeiro do Norte.
Iniciado o processo de beatificação, recebe-se o título de “Servo de Deus”, sendo investigada, na fase inicial, virtudes ou martírio. Com o processo concluído, a pessoa passa a ser considerado(a) venerável. Para tornar-se beato ou beata, é preciso a comprovação de um milagre, através da intercessão.
Padre Cícero
Cícero Romão Batista, conhecido como Padre Cícero, nasceu no dia 24 de março de 1844, na cidade do Crato, Ceará. Filho de Joaquim Romão Batista, comerciante, e Joaquina Vicência Romana. Foi estudar na Paraíba, mas em 1865, com a morte de seu pai, voltou para o Crato.
Ingressou no Seminário da Prainha, em Fortaleza, onde foi ordenado padre, em 1870, contra o voto do reitor do seminário, que lhe censurava pelas revelações de suas visões. Dois anos depois, Padre Cícero foi designado vigário para o distrito de Juazeiro do Norte no Ceará, onde começou um trabalho pastoral com pregações e visitas domiciliares.
Restaurou a capela de Juazeiro, comprou imagens e ganhou a simpatia dos moradores, passando a exercer grande liderança na comunidade, que na época tinha 300 habitantes.
Um "milagre" ocorrido em 1889 transformou a vida do religioso e da cidade. Ao participar de uma comunhão geral, na capela de Nossa Senhora das Dores, a hóstia sangrou na boca da beata Maria de Araújo. Em 1894, Padre Cícero foi punido com a suspensão da ordem. Dois médicos foram chamados para testemunhar o “milagre” e confirmaram o fato que só fortaleceu a crença do povo.
Padre Cícero foi chamado ao Palácio Episcopal. O bispo mandou investigar e a igreja não aceitou o milagre decidindo punir o padre. Em 1894 foi suspenso da ordem, acusado de manipulação da crença popular pelo Vaticano. Inconformado e sem poder celebrar missa, Padre Cícero foi ao Vaticano, em 1898, pedir revogação da pena, ao papa Leão XIII. Saiu de lá com a vitória, mas o bispo não aceitou e pediu revisão do resultado.
Sem poder seguir na carreira religiosa, a viagem a Roma só contribuiu para aumentar o prestígio do Padre Cícero. Graças ao fluxo de romeiros, Juazeiro tornou-se importante centro artesanal. Em 1911 o distrito foi elevado a município e o Padre Cícero foi nomeado prefeito, realizando várias benfeitorias.
Levou para a cidade a Ordem dos Salesianos, doou o terreno para construção do aeroporto, abriu várias escolas, entre elas a Escola Normal Rural, construiu várias capelas, estimulou a agricultura e ajudou a população pobre, nos períodos de secas na região.
Fonte: Thaís Cândido