Boletim Salesiano – Como podemos definir o voluntariado praticado pelos jovens?
Ir. Adair Sberga – O voluntariado praticado pelos jovens tem características próprias e se difere daquele praticado pelos adultos. Sua especificidade é a de ser um voluntariado educativo, ou seja, é uma proposta de formação que propicia o amadurecimento humano, afetivo, social e espiritual dos jovens por meio de experiências de solidariedade e responsabilidade cidadã. É um voluntariado de ação e reflexão, um espaço de educação sociopolítica, que ajuda no desenvolvimento do senso crítico, na conscientização sobre os direitos humanos e sociais, no respeito às diferenças culturais e no testemunho e vivência da solidariedade. A preocupação central não é tanto o serviço a ser prestado, mas a formação e a qualificação do jovem enquanto desempenha sua atividade de voluntário. Portanto, o voluntariado educativo é uma escola para a formação da personalidade altruísta, generosa, justa, disponível e alegre, porque descobre o quanto é bom viver para servir.
BS – Podemos dizer que o voluntariado é um jeito “bacana” de preencher o tempo livre dos jovens?
Ir. Adair – Não é isso, não é uma forma de preencher o tempo livre de ninguém. O voluntariado jovem não é alienante, assistencialista e nem é esporádico, mas encontra legitimidade na educação, no compromisso político, na continuidade da ação por meio do engajamento em uma organização ou grupo de voluntariado, na capacidade de autocrítica e em uma maneira mais consciente de viver a própria vida. Por essas características, desperta para a persistência na vontade de amar e doar-se ao outro de forma totalmente gratuita e desinteressada.
BS – O jovem não tem experiência profissional, então como sua ação pode ser eficaz?
Ir. Adair – O jovem que deseja dedicar-se ao voluntariado realmente não adquiriu ainda uma competência profissional, mas pode contribuir muito para o bem social. Nessa fase da vida, o mais significativo e o melhor que ele pode doar é sua riqueza humana, seu entusiasmo pela vida, sua criatividade, sua disponibilidade e atenção para com o outro. Hoje quase não se tem tempo para ouvir as pessoas e o jovem gosta de dialogar, às vezes só esta atenção dispensada já é um conforto imenso para quem se sente triste ou solitário. Integrando a essas qualidades humanas a qualificação que aos poucos, vai adquirindo em relação ao serviço que deve prestar, o jovem se sentirá ainda mais enriquecido e motivado para desempenhar seu compromisso de solidariedade e apoio na construção de algo apropriado para o outro.
BS – Como a juventude se organiza e participa de ações missionárias e de voluntariado?
Ir. Adair – Há muitas formas de organização favorecidas pelas escolas, comunidades religiosas, paróquias, ONGs e entidades. No meio salesiano, o voluntariado sempre foi muito valorizado, seja aquele praticado semanalmente, colaborando em creches, asilos ou comunidades, como os praticados durante as férias com as bonitas e significativas Semanas Missionárias ou outras atividades.
BS – Qual é a visão salesiana sobre o protagonismo juvenil nessas ações?
Ir. Adair – Penso que na concepção salesiana, o protagonismo é o envolvimento dos jovens com a cidadania ativa, com a prática dos direitos humanos e a vivência dos conselhos evangélicos. O protagonismo é fundamental no voluntariado, porque se torna uma experiência formativa, o que exige certamente o acompanhamento e a reflexão junto com o educador.
BS – De que maneira as escolas salesianas podem colaborar (e têm colaborado) na formação da juventude para ações missionárias e de voluntariado?
Ir. Adair – As escolas já colaboram bastante e podem continuar desenvolvendo, em parceria com os jovens, iniciativas, não só de ações solidárias que já são muito válidas, mas também com o trabalho voluntário, que não é esporádico, como já disse. No confronto com a comunidade e com outros jovens, que vivem experiências significativas de engajamento solidário, os jovens são motivados a buscar dentro de si suas melhores possibilidades, a resgatar suas energias que nesta fase precisam ser bem orientadas e que, uma vez despertadas, se tornam modelo propositivo que contagia, envolve e cativa a energia de outros jovens. Com isso, os jovens vão se conhecendo melhor, aprendendo com os outros e acabam por descobrir a própria vocação, aquilo que nasceram para ser. E quando há a correspondência encontram a verdadeira felicidade.