Pouco depois da última liturgia comunitária de que participei, na Quarta de Cinzas, precisei me afastar da minha família e do oratório, para proteger os meus entes queridos. Foi um jejum de afetos, uma quaresma na Quaresma.
Levei comigo poucas coisas: a bíblia, o terço e alguns livros de Dom Bosco. Durante um mês vivi sem minha família, com Jesus no coração, a companhia da Palavra diária, a missa matutina do Papa Francisco e a orientação do diretor espiritual. Trabalhei duro, estudei a Covid-19 e rezei para que Deus me desse o Seu olhar nestas leituras.
Os eventos dos dias seguintes nos deixaram sobrecarregados. Os doentes eram arrancados de suas famílias: sem possibilidade de visitas, sem rostos amigos ou contatos diretos, sem o conforto do sacramento; apenas a nossa mediação, mas através de equipamentos de proteção, que deixavam a voz abafada e o olhar distanciado pelas viseiras.
No final das visitas entrávamos em contato com os familiares para dar notícias e conforto humano: "não se preocupe, você não pode estar aqui, mas nós não os deixaremos, estaremos com eles".
Um mês depois o número de doentes aumentou. Andrea, meu marido, veio trabalhar no departamento da Covid. Era apenas o começo de um período exaustivo, mas submetido a um ritmo conjugal sagrado, marcado pela eucaristia, pela meditação da Palavra, pelo bom-dia com o evangelho e a novena a Maria Auxiliadora...
Enquanto isso, nossos filhos, já jovens adultos, eram a fortaleza da avó de 94 anos. A percepção era de que todos procuravam desempenhar suas tarefas com doçura e amor. Nos sentimos gratos.
Eu rezava para que, pelo menos na Páscoa, os pacientes da Covid que assim o desejassem, pudessem receber a eucaristia. Isto foi possível com a ajuda dos capelães do hospital. Alguns dias depois, nosso arcebispo veio ao nosso encontro concedendo-nos o mandato "ad Actum" de ministros extraordinários da Eucaristia para que, nessa pandemia, nunca faltasse o verdadeiro Pão da Vida aos mais fragilizados.
Com o passar dos dias, pudemos mandar muitos pacientes de volta para suas famílias. Suas altas, frequentemente, consistiam em atos de amor mútuo, banhados em lágrimas de alegria e gratidão.
Durante este período "sempre pensei em vocês, meus queridos jovens". Não pelas atividades perdidas: o Espírito estava despertando iniciativas belíssimas. Pensei em vocês me perguntando se preparamos bem suas bagagens para a jornada, colocando nelas tudo o que é preciso para enfrentar um caminho de perdas que, mais cedo ou mais tarde, nos alcança na vida.
Gostaria que buscássemos, juntos, o sentido do que estamos vivendo e que nossos olhos se abrissem para que, repletos de alegria salesiana, voltássemos para Jerusalém com Jesus no coração.
Anna Sansoni