Educação, chave para formar bons cristãos e honestos cidadãos

Quarta, 12 Julho 2017 15:28 Escrito por  Iago Rodrigues Ervanovite
Educação, chave para formar bons cristãos e honestos cidadãos Foto: iStock.com
O ideal da educação, para Dom Bosco, foi traduzido em uma frase emblemática da missão primordial de uma escola: formar “bons cristãos e honestos cidadãos”. Não por outra razão, a educação das casas salesianas deve ser – e assim já é – muito mais profunda do que uma simples leitura superficial de textos, cálculos ou fórmulas; perpassa, necessariamente, por um olhar crítico da sociedade.  

Veja que este ideal salesiano para a educação, que deveria ser tido como universal, está em sintonia com o que pensa o episcopado latinoamericano e caribenho, que, reunido em Aparecida, há 10 anos, conclamava a Igreja a “investir no autêntico fim da escola”, a qual “é chamada a se transformar, antes de mais nada, em lugar privilegiado de formação e promoção integral, mediante a assimilação sistemática e crítica da cultura, fato que consegue mediante um encontro vivo e vital com o patrimônio cultural. [...] Na realidade, a cultura, para ser educativa, deve se inserir nos problemas do tempo no qual se desenvolve a vida do jovem. Desta maneira, as diferentes disciplinas precisam apresentar não só um saber por adquirir, mas valores por assimilar e verdades por descobrir” (DAp, 329).

 

 

Educação como instrumento

Assim, Igreja e sociedade devem apostar na educação como instrumento de inserção e transformação social. Mas é sempre válida a observação de que a educação deve ser vista como instrumento de transformação de pessoas, por meio das quais se concretizará a transformação social, e não como fim em si mesma. E nisso já lembrava Paulo Freire, segundo o qual “educação não transforma o mundo; educação muda pessoas; pessoas transformam o mundo”.

A sociedade brasileira, por meio de sua Constituição Federal de 1988, também vê na educação um instrumento de meio. O texto de seu artigo 205 prevê a educação como “direito de todos e dever do Estado e da família”, a qual “será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Voltando à nossa temática: o ideal salesiano de educação, aparentemente abraçado por toda a Igreja e pela sociedade brasileira, lança a nós, jovens, um desafio: o de sermos “bons cristãos e honestos cidadãos”. Mas como podemos sê-lo? Ou melhor, como a escola, efetivamente, pode nos capacitar para isso?

 

Transformação social e pessoal

Ora, a transformação da sociedade que tanto desejamos deve passar por nós, começando por pequenos gestos e ações, tanto no seio de nossa família e de nossa religião (ou seja, no âmbito privado), como no relacionamento “com o outro” e com a sociedade (ou seja, nas esferas públicas).

Tanto questionamos as ações dos políticos, os incontáveis casos de corrupção, descaso com os problemas da sociedade, pensamento diuturno nos interesses privados sobre os interesses públicos, enfim, tantos problemas político-sociais que quase nos esquecemos de nossa parcela de culpa em tudo isso. Alguns, incrédulos, devem agora ficar se questionando: “Mas o que eu tenho a ver com tudo isso? Eu sou contra a corrupção, como posso ser culpado?”. A reposta é que os políticos não se elegem sozinhos: são eleitos por nós. Como apoiamos os políticos? Como os fiscalizamos? Será que nossas ações se limitam a “ativismos” de internet e às reclamações na mesa do café da manhã e na sala de espera?

A transformação social não é possível apenas pelo diálogo; é preciso ter ações efetivas. Precisamos “vestir a camisa da coragem” e, muito além de sair às ruas, realizar ações de controle daquilo que é nosso: a política. Quantos de nós, efetivamente, acompanhamos os políticos depois das eleições? Vocês se lembram em qual vereador votaram no ano passado? E o deputado estadual no qual votaram há quase quatro anos?

Além disso, sabemos os direitos que temos para controle das ações políticas e governamentais? Sabemos dos instrumentos legais e jurídicos pelos quais podemos “fazer acontecer”, como a Lei de Acesso à Informação, as Leis de Iniciativa Popular, ou a Ação Judicial Popular? Ora, a formação é um passo primaz – primordial, e antecedente – a toda e qualquer ação efetiva. É preciso que a população seja informada de seus direitos.

 

O papel da escola

E como a escola pode “mudar” isso tudo? Não há fórmula mágica para a solução de todos os problemas sociais, mas o aprimoramento do saber e dos conhecimentos é um forte instrumento para capacitar os jovens a uma inserção cada vez maior na na sociedade.

O que se observa, contudo, é que seguimos um caminho inverso. Seja na roda de conversa ou nas redes sociais, cada vez mais temos um “formar de opinião” muito fácil, que parte de pouquíssimos elementos e trata sobre quase todos os assuntos. Temos pessoas se mostram cada vez menos suscetíveis ao diálogo, à compreensão e à análise crítica de situações. Isso só demonstra uma grave falha da educação – fornecida pela escola e pela sociedade –, que tem ensinado as pessoas a ler, escrever e decorar fórmulas, mas não a refletir sobre informações.

Quando Dom Bosco pensou em uma educação para formar “bons cristãos e honestos cidadãos” tinha o desejo de que os jovens fossem capazes de seguir os mandamentos do Cristo e seu convite ao Reino, mas, também, que fossem capazes de questionar a sociedade que os rodeava para que, inseridos nela e dela participando, pudessem agir em prol de sua transformação (como também fez Jesus – cf. Lc 24, 19).

Muito além do discurso da necessidade – ou seja, da consciência sobre o que é preciso fazer –, precisamos nos conscientizar sobre nossas falhas, procurando formas de supera-las. A escola, hoje, tem cumprido sua finalidade de possibilitar ao jovem um contato com o Divino (“bons cristãos”) e de questionar sua realidade (“honestos cidadãos”)?

 

Iago Rodrigues Ervanovite, 24 anos, é advogado formado pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo, secretário nacional da Pastoral da Juventude Estudantil (PJE) e membro da Coordenação da Pastoral Juvenil Nacional da CNBB.

 

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Última modificação em Quarta, 12 Julho 2017 16:50

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Educação, chave para formar bons cristãos e honestos cidadãos

Quarta, 12 Julho 2017 15:28 Escrito por  Iago Rodrigues Ervanovite
Educação, chave para formar bons cristãos e honestos cidadãos Foto: iStock.com
O ideal da educação, para Dom Bosco, foi traduzido em uma frase emblemática da missão primordial de uma escola: formar “bons cristãos e honestos cidadãos”. Não por outra razão, a educação das casas salesianas deve ser – e assim já é – muito mais profunda do que uma simples leitura superficial de textos, cálculos ou fórmulas; perpassa, necessariamente, por um olhar crítico da sociedade.  

Veja que este ideal salesiano para a educação, que deveria ser tido como universal, está em sintonia com o que pensa o episcopado latinoamericano e caribenho, que, reunido em Aparecida, há 10 anos, conclamava a Igreja a “investir no autêntico fim da escola”, a qual “é chamada a se transformar, antes de mais nada, em lugar privilegiado de formação e promoção integral, mediante a assimilação sistemática e crítica da cultura, fato que consegue mediante um encontro vivo e vital com o patrimônio cultural. [...] Na realidade, a cultura, para ser educativa, deve se inserir nos problemas do tempo no qual se desenvolve a vida do jovem. Desta maneira, as diferentes disciplinas precisam apresentar não só um saber por adquirir, mas valores por assimilar e verdades por descobrir” (DAp, 329).

 

 

Educação como instrumento

Assim, Igreja e sociedade devem apostar na educação como instrumento de inserção e transformação social. Mas é sempre válida a observação de que a educação deve ser vista como instrumento de transformação de pessoas, por meio das quais se concretizará a transformação social, e não como fim em si mesma. E nisso já lembrava Paulo Freire, segundo o qual “educação não transforma o mundo; educação muda pessoas; pessoas transformam o mundo”.

A sociedade brasileira, por meio de sua Constituição Federal de 1988, também vê na educação um instrumento de meio. O texto de seu artigo 205 prevê a educação como “direito de todos e dever do Estado e da família”, a qual “será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Voltando à nossa temática: o ideal salesiano de educação, aparentemente abraçado por toda a Igreja e pela sociedade brasileira, lança a nós, jovens, um desafio: o de sermos “bons cristãos e honestos cidadãos”. Mas como podemos sê-lo? Ou melhor, como a escola, efetivamente, pode nos capacitar para isso?

 

Transformação social e pessoal

Ora, a transformação da sociedade que tanto desejamos deve passar por nós, começando por pequenos gestos e ações, tanto no seio de nossa família e de nossa religião (ou seja, no âmbito privado), como no relacionamento “com o outro” e com a sociedade (ou seja, nas esferas públicas).

Tanto questionamos as ações dos políticos, os incontáveis casos de corrupção, descaso com os problemas da sociedade, pensamento diuturno nos interesses privados sobre os interesses públicos, enfim, tantos problemas político-sociais que quase nos esquecemos de nossa parcela de culpa em tudo isso. Alguns, incrédulos, devem agora ficar se questionando: “Mas o que eu tenho a ver com tudo isso? Eu sou contra a corrupção, como posso ser culpado?”. A reposta é que os políticos não se elegem sozinhos: são eleitos por nós. Como apoiamos os políticos? Como os fiscalizamos? Será que nossas ações se limitam a “ativismos” de internet e às reclamações na mesa do café da manhã e na sala de espera?

A transformação social não é possível apenas pelo diálogo; é preciso ter ações efetivas. Precisamos “vestir a camisa da coragem” e, muito além de sair às ruas, realizar ações de controle daquilo que é nosso: a política. Quantos de nós, efetivamente, acompanhamos os políticos depois das eleições? Vocês se lembram em qual vereador votaram no ano passado? E o deputado estadual no qual votaram há quase quatro anos?

Além disso, sabemos os direitos que temos para controle das ações políticas e governamentais? Sabemos dos instrumentos legais e jurídicos pelos quais podemos “fazer acontecer”, como a Lei de Acesso à Informação, as Leis de Iniciativa Popular, ou a Ação Judicial Popular? Ora, a formação é um passo primaz – primordial, e antecedente – a toda e qualquer ação efetiva. É preciso que a população seja informada de seus direitos.

 

O papel da escola

E como a escola pode “mudar” isso tudo? Não há fórmula mágica para a solução de todos os problemas sociais, mas o aprimoramento do saber e dos conhecimentos é um forte instrumento para capacitar os jovens a uma inserção cada vez maior na na sociedade.

O que se observa, contudo, é que seguimos um caminho inverso. Seja na roda de conversa ou nas redes sociais, cada vez mais temos um “formar de opinião” muito fácil, que parte de pouquíssimos elementos e trata sobre quase todos os assuntos. Temos pessoas se mostram cada vez menos suscetíveis ao diálogo, à compreensão e à análise crítica de situações. Isso só demonstra uma grave falha da educação – fornecida pela escola e pela sociedade –, que tem ensinado as pessoas a ler, escrever e decorar fórmulas, mas não a refletir sobre informações.

Quando Dom Bosco pensou em uma educação para formar “bons cristãos e honestos cidadãos” tinha o desejo de que os jovens fossem capazes de seguir os mandamentos do Cristo e seu convite ao Reino, mas, também, que fossem capazes de questionar a sociedade que os rodeava para que, inseridos nela e dela participando, pudessem agir em prol de sua transformação (como também fez Jesus – cf. Lc 24, 19).

Muito além do discurso da necessidade – ou seja, da consciência sobre o que é preciso fazer –, precisamos nos conscientizar sobre nossas falhas, procurando formas de supera-las. A escola, hoje, tem cumprido sua finalidade de possibilitar ao jovem um contato com o Divino (“bons cristãos”) e de questionar sua realidade (“honestos cidadãos”)?

 

Iago Rodrigues Ervanovite, 24 anos, é advogado formado pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo, secretário nacional da Pastoral da Juventude Estudantil (PJE) e membro da Coordenação da Pastoral Juvenil Nacional da CNBB.

 

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