Educomunicação: educar para o transcendente

Segunda, 21 Janeiro 2019 11:03 Escrito por 
Educomunicação: educar para o transcendente iStock.com
“Possa cada ambiente educativo ser lugar de abertura ao transcendente e aos outros; lugar de diálogo, coesão e escuta, onde o jovem se sinta valorizado nas suas capacidades e riquezas interiores e aprenda a apreciar os irmãos”. (Papa Bento XVI)    

A Educomunicação é um novo paradigma que busca relacionar a educação e a comunicação com o objetivo de formar ecossistemas educomunicativos, ricos de diálogo, participação e construção do conhecimento de forma colaborativa, crítica e voltada para a prática cidadã.

 

Enquanto prática educomunicativa, existem várias áreas de intervenção, que partem das múltiplas linguagens para a construção e consolidação do ecossistema educativo, como: educar para a comunicação, educar para a mediação tecnológica, educar para a expressão e arte, educar para a cidadania e recentemente começa-se a falar em educar para a transcendência.

 

Quando Dom Bosco fundamenta o Sistema Preventivo em razão, amorevolezza e religião, ele aponta para a necessidade de educar para a transcendência, ou seja, para além daquilo que o conhecimento científico em si pode trazer. Isso implica a capacidade de ver a si mesmo como mais que um indivíduo qualquer, mas como pessoa, imagem e semelhança de Deus, querida e amada por Ele. Da mesma forma, o outro não pode ser visto como objeto, ou “instrumento” para algo, mas é também imagem e semelhança de Deus.

 

Olhar além

É esta capacidade de olhar além que permite ao ser humano construir o sentido de humanidade, em que cada pessoa carrega em si traços do divino, pois há um sentido de filiação que nos leva a uma irmandade além de qualquer barreira cultural, étnica, social, política ou econômica.

 

O ambiente educativo tem grande responsabilidade no educar para a transcendência, conforme afirma o Papa Bento XVI na mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2012: “Possa cada ambiente educativo ser lugar de abertura ao transcendente e aos outros; lugar de diálogo, coesão e escuta, onde o jovem se sinta valorizado nas suas capacidades e riquezas interiores e aprenda a apreciar os irmãos. Possa ensinar a saborear a alegria que deriva de viver dia após dia a caridade e a compaixão para com o próximo e de participar ativamente na construção de uma sociedade mais humana e fraterna”.

 

Este processo educativo é algo que a escola não pode fazer sozinha; é necessário que famílias, paróquias e sociedade em geral estejam também dispostas a ajudar as crianças, os adolescentes e os jovens a fazerem esse caminho de alteridade e descoberta do outro. Uma educação pautada unicamente na razão é deficitária; só na relação com Deus, o ser humano compreende o verdadeiro sentido da liberdade, da justiça social e da paz.

 

Liberdade verdadeira

Ao tecer uma relação com Deus, o “Totalmente Outro”, é que a pessoa é capaz de entender que, para viver a liberdade, é preciso reconhecer e lutar pela liberdade do outro, indo, portanto, além do ser “independente”. A verdadeira liberdade surge de uma relação sadia e respeitosa entre o eu, o outro, a comunidade e o próprio Deus.

 

Da mesma forma, educar para a transcendência leva o ser humano a resgatar o conceito de justiça, partindo de uma visão integral da pessoa que se contrapõe à ideologia individualista da atual sociedade. A justiça não pode ser dissociada da caridade e da solidariedade. Um cristão não pode dormir tranquilo enquanto há pessoas vivendo na marginalidade, pobreza, violência e exclusão.

 

Como resultado da educação para o transcendente encontramos também a paz, não como sentido de serenidade, mas como fruto da justiça. A paz é certamente um dom de Deus, mas não é “um pacote” que chega pronto. É uma construção conjunta que se concretiza pela vivência dos valores cristãos, tais como: solidariedade, ética, respeito, compaixão, fraternidade e diálogo.

 

A vivência da fé

Em um mundo relativista, em que tudo é descartável e incerto, educar para a transcendência significa olhar para o ser humano, cuidar da vida, fazer reverência ao Criador, afastando-se de qualquer forma de idolatria, inclusive do próprio “eu”. Dom Bosco foi de grande sabedoria ao insistir que a fé é um dos elementos essenciais do Sistema Preventivo e em nosso tempo, marcado por forte laicismo, não podemos perder esse tesouro que nos foi legado.

 

Educar para a vivência da fé, ou para a relação com o transcendente, é uma necessidade. Quando esta tarefa é negligenciada, facilmente a fé é banida como se fosse incompatível com a razão científica, ou pior, é instrumentalizada em favor de interesses próprios. Usar o nome de Deus e de Jesus Cristo para justificar atitudes conservadoras, discriminatórias e, muitas vezes, contra a liberdade e a própria justiça, é um risco que corremos.

 

Abrir espaço para a discussão da educação para o transcendente como uma das áreas de intervenção da Educomunicação é urgente. Não significa que se deva fazer catequese dentro de sala de aula; é muito mais que isso. A abertura para o outro e para a comunidade só é completa se permeada pela abertura a Deus. E nessa relação de escuta, acolhida e Palavra que se faz vida é que o homem se reconhece em sua dignidade e se torna verdadeiramente humano.

 

Irmã Márcia Koffermann, FMA, é diretora-executiva da Rede Salesiana Brasil de Comunicação (RSB-Comunicação)

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“Possa cada ambiente educativo ser lugar de abertura ao transcendente e aos outros; lugar de diálogo, coesão e escuta, onde o jovem se sinta valorizado nas suas capacidades e riquezas interiores e aprenda a apreciar os irmãos”. (Papa Bento XVI)    

A Educomunicação é um novo paradigma que busca relacionar a educação e a comunicação com o objetivo de formar ecossistemas educomunicativos, ricos de diálogo, participação e construção do conhecimento de forma colaborativa, crítica e voltada para a prática cidadã.

 

Enquanto prática educomunicativa, existem várias áreas de intervenção, que partem das múltiplas linguagens para a construção e consolidação do ecossistema educativo, como: educar para a comunicação, educar para a mediação tecnológica, educar para a expressão e arte, educar para a cidadania e recentemente começa-se a falar em educar para a transcendência.

 

Quando Dom Bosco fundamenta o Sistema Preventivo em razão, amorevolezza e religião, ele aponta para a necessidade de educar para a transcendência, ou seja, para além daquilo que o conhecimento científico em si pode trazer. Isso implica a capacidade de ver a si mesmo como mais que um indivíduo qualquer, mas como pessoa, imagem e semelhança de Deus, querida e amada por Ele. Da mesma forma, o outro não pode ser visto como objeto, ou “instrumento” para algo, mas é também imagem e semelhança de Deus.

 

Olhar além

É esta capacidade de olhar além que permite ao ser humano construir o sentido de humanidade, em que cada pessoa carrega em si traços do divino, pois há um sentido de filiação que nos leva a uma irmandade além de qualquer barreira cultural, étnica, social, política ou econômica.

 

O ambiente educativo tem grande responsabilidade no educar para a transcendência, conforme afirma o Papa Bento XVI na mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2012: “Possa cada ambiente educativo ser lugar de abertura ao transcendente e aos outros; lugar de diálogo, coesão e escuta, onde o jovem se sinta valorizado nas suas capacidades e riquezas interiores e aprenda a apreciar os irmãos. Possa ensinar a saborear a alegria que deriva de viver dia após dia a caridade e a compaixão para com o próximo e de participar ativamente na construção de uma sociedade mais humana e fraterna”.

 

Este processo educativo é algo que a escola não pode fazer sozinha; é necessário que famílias, paróquias e sociedade em geral estejam também dispostas a ajudar as crianças, os adolescentes e os jovens a fazerem esse caminho de alteridade e descoberta do outro. Uma educação pautada unicamente na razão é deficitária; só na relação com Deus, o ser humano compreende o verdadeiro sentido da liberdade, da justiça social e da paz.

 

Liberdade verdadeira

Ao tecer uma relação com Deus, o “Totalmente Outro”, é que a pessoa é capaz de entender que, para viver a liberdade, é preciso reconhecer e lutar pela liberdade do outro, indo, portanto, além do ser “independente”. A verdadeira liberdade surge de uma relação sadia e respeitosa entre o eu, o outro, a comunidade e o próprio Deus.

 

Da mesma forma, educar para a transcendência leva o ser humano a resgatar o conceito de justiça, partindo de uma visão integral da pessoa que se contrapõe à ideologia individualista da atual sociedade. A justiça não pode ser dissociada da caridade e da solidariedade. Um cristão não pode dormir tranquilo enquanto há pessoas vivendo na marginalidade, pobreza, violência e exclusão.

 

Como resultado da educação para o transcendente encontramos também a paz, não como sentido de serenidade, mas como fruto da justiça. A paz é certamente um dom de Deus, mas não é “um pacote” que chega pronto. É uma construção conjunta que se concretiza pela vivência dos valores cristãos, tais como: solidariedade, ética, respeito, compaixão, fraternidade e diálogo.

 

A vivência da fé

Em um mundo relativista, em que tudo é descartável e incerto, educar para a transcendência significa olhar para o ser humano, cuidar da vida, fazer reverência ao Criador, afastando-se de qualquer forma de idolatria, inclusive do próprio “eu”. Dom Bosco foi de grande sabedoria ao insistir que a fé é um dos elementos essenciais do Sistema Preventivo e em nosso tempo, marcado por forte laicismo, não podemos perder esse tesouro que nos foi legado.

 

Educar para a vivência da fé, ou para a relação com o transcendente, é uma necessidade. Quando esta tarefa é negligenciada, facilmente a fé é banida como se fosse incompatível com a razão científica, ou pior, é instrumentalizada em favor de interesses próprios. Usar o nome de Deus e de Jesus Cristo para justificar atitudes conservadoras, discriminatórias e, muitas vezes, contra a liberdade e a própria justiça, é um risco que corremos.

 

Abrir espaço para a discussão da educação para o transcendente como uma das áreas de intervenção da Educomunicação é urgente. Não significa que se deva fazer catequese dentro de sala de aula; é muito mais que isso. A abertura para o outro e para a comunidade só é completa se permeada pela abertura a Deus. E nessa relação de escuta, acolhida e Palavra que se faz vida é que o homem se reconhece em sua dignidade e se torna verdadeiramente humano.

 

Irmã Márcia Koffermann, FMA, é diretora-executiva da Rede Salesiana Brasil de Comunicação (RSB-Comunicação)

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