O Professor Antonio S. Romo, no artigo “Caminar com los jóvenes para ayudarmos a optar. Perspectivas educativas de la orientácion”, apresenta algumas orientações de enorme contemporaneidade para nossas ações educativas. Suas reflexões estão profundamente conectadas com o projeto salesiano de educação, apesar de possuírem uma identificação com o existencialismo cristão.
Este, no seu viés pedagógico, não representa para nós um mero conjunto de doutrinas e regras e, sim, um espírito que impregna todo o Projeto Educativo. Os traços mais importantes do existencialismo cristão presentes no Projeto de Dom Bosco, levando em consideração a relação do educador com o jovem, defendem:
· Oportunizar ações educativas centradas na pessoa, enfatizando a dimensão associativa, a espiritualidade/transcendência, os valores e o compromisso com a vida;
· Oportunizar a autoeducação e a personalização;
· Uma escola que não seja um mero espaço/ambiente de instrução ou de neutralidade;
· Um currículo alimentado pelo humanismo integral, baseado no reconhecimento da verdadeira dignidade e dos direitos do homem, aberto à solidariedade cultural, social e econômica entre pessoas, grupos e nações, na consciência de que uma mesma vocação reúne toda a humanidade (mensagem do Papa João Paulo II para a XVII Jornada Mundial das Comunicações Sociais);
· Relações revestidas de um profundo respeito ao mistério “do ser pessoa”/processo.
Ação educativa
Percebemos que toda ação educativa deve estar voltada para a formação de uma juventude amadurecida pessoalmente, com ideias bem definidas sobre a necessidade do desenvolvimento de uma vocação específica e com a capacidade de realizar uma opção fundamental pela vida. Para o sucesso da referida formação é preciso levar em consideração as orientações básicas defendidas pelo professor Antonio: ajudar o jovem na construção da sua identidade e acompanhar o jovem na sua caminhada.
Para Dom Bosco, no século XIX, e para o existencialismo, o jovem é um ser inacabado. Trata-se de um ser que vive um processo de socialização e de personalização voltado para a autorrealização e para o amadurecimento de si mesmo, de sua capacidade de desenvolver-se e crescer. Sendo assim, a autorrealização é fundamento para que o jovem possa ir definindo sua identidade, seu projeto de vida.
O jovem precisa da orientação de um educador, de alguém que possa acompanhá-lo e ajudá-lo em suas próprias opções fundamentais.
A ação do educador na convivência com o jovem deve ser entendida como parte de um processo, como um modelo de relação, onde o diálogo, a escuta do outro e o apoio na solução pessoal de conflitos constituam elementos de referência. A ajuda do educador éalgo contínuo e permanente na vida do jovem, para que ele possa assumir posições importantes em sua vida, viver sua caminhada para a construção de sua identidade e da autorrealização sem grandes e graves problemas.
Acompanhar o jovem
A presente orientação possui grande identificação com o Evangelho, a partir de duas passagens bíblicas significativas:
· Em João 10,11-18, podemos definir a figura do Educador que toma a iniciativa, colocando-se ao lado do jovem e demonstrando interesse por sua vida, suas inquietações, decepções e sonhos.
· Em Lucas 24,13-36, que aborda a caminhada dos discípulos de Emaús, vemos que a Pedagogia de Jesus Cristo realça a importância de verbos como caminhar, dialogar, escutar e partilhar, fundamentais para o estabelecimento de relações que permitam um amadurecido processo de conhecimento e de confiabilidade entre aqueles que caminham juntos.
Para um acompanhamento fundado na confiabilidade, é necessário que o educador construa, com autenticidade,e viva com autonomia e liberdade criadora, todas as suas relações com os jovens. Outro referencial importante diz respeito à necessidade de um trabalho que possibilite ao jovem optar por valores que permitam prepará-lo para a experiência da cidadania. O clima de afetividade e familiaridade, produto do compromisso do educador, é ideal para que o jovem possa viver seu processo de amadurecimento vocacional. Ele proporciona ao jovem as condições consideradas ideais para iniciar a definição de seu projeto de vida.
Comunicação
Karl Jaspers afirma que não existe educação exitosa sem uma excelente comunicação. Para ele, enquanto teórico, e para Dom Bosco, enquanto homem da prática, estabelecer canais de comunicação entre o educador e o jovem é garantir um diálogo transparente, capaz de oferecer as reflexões necessárias para a socialização e a personalização.
Apesar da importância dada à comunicação no acompanhamento do jovem para a construção de sua identidade e autorrealização, devemos estar atentos para as frequentes posturas equivocadas existentes por qualquer agenda comunicacional. Muitas vezes, o que é muito preocupante, o educador coloca-se no processo de acompanhamento do jovem como dono da verdade, estabelecendo uma comunicação unilateral e autoritária. Em outros momentos, o que é também muito grave, o educador impõe sua cosmovisão. Agindo assim, o educador está impedindo que o jovem possa desenvolver, com autonomia, suas percepções, sua capacidade de realizar múltiplas leituras da realidade, tornando-se alguém “determinado” e incapaz de viver a plenitude da experiência libertadora.
As posturas equivocadas são responsáveis também pela despersonalização do jovem, tornando-o sujeito da aceitação não crítica e do descompromisso com o pensar o novo.