Esse evento se justifica porque a missão da Família Salesiana é evangelizar a juventude e, não há como evangelizar os jovens sem “encarnar” o Evangelho em cada realidade juvenil. Só pode ser transformado pelo Evangelho aquele contexto (existencial dos jovens) que o acolheu e assumiu o projeto de vida que nos trouxe Jesus Cristo.
No livro do Êxodo também temos o mesmo dinamismo divino com seu projeto libertador; para libertar os oprimidos da escravidão no Egito Deus se faz presente na história deles contemplando a realidade, conhecendo os seus sofrimentos, descendo para libertá-los (cf. Ex 3,7-10). A proposta pastoral de Deus, com dinamismo libertador, parte da realidade existencial do povo!
Deus liberta o povo porque sabe que a situação existencial dele se chocava com o seu projeto de vida digna. Deus não nos criou para a escravidão, nem para o sofrimento, mas “para que tenhamos vida e vida em abundância” (Jo 10,10). Portanto, não é bem-vinda uma “evangelização” alienante e alienada, uma vez que o ato de evangelizar é a resposta ao amor de Deus que nos salva libertando de todos os males.
Habitar a cultura dos jovens
O primeiro capítulo do Quadro Referencial da Pastoral Juvenil Salesiana (QRPJS, Roma 2014), estimula insistentemente os educadores salesianos a habitarem a cultura dos jovens. O que significa isso? O verbo “habitar” nos inspira a ideia de presença permanente em meio ao contexto existencial dos jovens.
Essa atitude nos leva a conhecer de fato a realidade em que eles vivem: os modelos de família, a situação socioeconômica e cultural, os estilos de vida, os valores, as virtudes e sonhos; os problemas, frustrações, medos, ameaças e tendências; sinais de vida, sinais de morte e esperanças!
É somente “habitando a cultura dos jovens”, ou seja, estando antenados ao complexo mundo juvenil contemporâneo, que podemos perceber as verdadeiras demandas que necessitam de uma resposta encarnada, concreta e específica da pastoral juvenil salesiana em cada contexto. Sem essa atitude de escuta, diálogo e discernimento, corremos o risco da perda da significatividade das nossas propostas pastorais.
Novas realidades juvenis
Dentre as mais significativas interpretações da era contemporânea, batizada pelo pensador francês Francois Lyotard de “era pós-moderna”, é aquela que a define como “tempo de liquidez”. Para o filósofo Zigmunt Bauman estamos na era da “modernidade líquida”. Para ele a forma imprevisível de uma substância líquida, que se ajusta a qualquer estrutura, pode nos ajudar a entender melhor o dinamismo e as características da sensibilidade cultural da era contemporânea.
Estamos na era da indefinição das formas, onde tudo é possível. Estamos em tempos de incertezas e insegurança; aquilo que era sólido (as instituições do passado) se desmanchou, se flexibilizou e assumiu formas variadas.
Estamos na era da ausência de padrões, de modelos, de moldes, de critérios, de formas definidas para tudo, sobretudo, no comportamento humano. Tudo é bem-vindo e não deve ser questionado! Mas nem tudo é novo. A atualidade é como um baú cheio de coisas inéditas, renovadas e antigas. Tudo isso constitui o “grande novo” ou “combinado” (mosaico) da época contemporânea. Na era da liquidez temos muitos desafios para “evangelizar educando e educar evangelizando” a juventude.
Encarar desafios como bons pastores
Num mundo grávido de ideologias, que contesta profundamente os valores éticos universais e as propostos da fé cristã, enquanto educadores-pastores somos chamados à reflexão “para saber discernir o que é agradável ao Senhor” (cf. Ef 5,10). Conscientes de nossa vocação e missão, somos chamados a examinar os espíritos para saber o que vem de Deus (cf. 1Jo 4,1).
Os educadores salesianos somos chamados então, antes de tudo, a cultivarmos uma atitude de empatia, abertura, diálogo, discernimento, otimismo, perspicácia, criatividade, cuidado... precisamos cultivar a virtude da reflexibilidade diante dos desafios juvenis.
Será a contemplação da sociedade que nos levará a ver a realidade em sua profundidade. Assim estaremos aptos a dar a nossa contribuição para a mudança da cultura juvenil, ou ao menos, temos a oportunidade para testemunhar a beleza da nossa fé, o dinamismo da nossa esperança e a força transformadora da Caridade Cristã. O Ressuscitado caminha conosco, somos seus servidores!
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