A segunda conferência, com o tema "Em que contexto educa a escola católica no século XXI na América?", elaborada pelo irmão Carlos Gómez, lassalista da Colômbia, foi iluminadora e ousada. Deixou-nos a sensação de que a questão não é tanto de quantidade de escolas ou de alunos, mas da qualidade da escola como agente transformador da realidade, inovadora, no contexto plural, como é o do nosso continente, e em nossos países.
Ficou claro que é preciso investir na formação dos educadores, para abrir novas perspectivas para a educação católica. Contudo, temos que nos perguntar sobre o desafio da escola católica de hoje. Para bem da verdade, afirmou Calos Gómez, o desafio somos nós mesmos. A mudança de mentalidade, a capacidade de sair do lugar de conforto, começa em nós. Precisamos recuperar o ânimo, a coragem de unir forças e mudar o paradigma da escola do século XXI.
Para tanto, segundo a conferência Quais mudanças e melhoras devem acontecer na educação católica na América do século XXI?, da irmã Monserrat del Pozo, é preciso cuidar de todos os recursos educativos para que todos tenham os mesmos direitos e deveres. São urgentes algumas transformações em nosso agir como escola: reformular o estilo de currículo, avaliação e pedagogia à luz das inteligências múltiplas; ter o aluno como centro e não ouvinte; redefinir o papel do educador e do aluno no processo de aprendizagem; organizar a equipe de gestão para que seja capaz de desenvolver os processos educativos; criar espaços educativos como ambiente de ampla proposta e de relações. Esta conferência, fundamentada numa experiência concreta, abriu expectativas e pode mexer com nossas práticas, inclusive diante da era digital.
Sujeitos na escola
O padre João Ojeda, membro da OIEC (Organização Interamericana de Educação Católica), trouxe-nos o tema do papel dos sujeitos na escola católica. Para mim foi um dos grandes momentos de mergulho na proposta do congresso. É fundamental confiar nas pessoas; isto me fez lembrar a Carta de Roma de 1888. Nela, Dom Bosco recorda aos jovens e aos salesianos o valor da confiança.
Com isso assumimos também um risco, porque geramos autonomia. Entretanto, essa relação gera paixão educativa, criatividade, colaboração e iniciativa pedagógica. Temos que reinventar a escola enquanto organização e gestão partilhadas. A liderança se exerce com humildade e sem medo de errar, como nos ensina hoje o Papa Francisco. Inclusive a forma de colaboração não pode ser hierárquica – vertical – mas redárquica – circular. É preciso mudar o controle pela confiança através da inteligência coletiva, ou seja, a capacidade de diálogo e da busca do consenso. Nunca, porém, a imposição de ideias. Para tanto, temos de saber trabalhar em rede.
Na base dessa reflexão está a descentralização do poder na escola. Quando descentralizamos as ações educativas, quando o gestor não se torna a única referência e poder absoluto, então, criamos espaços cooperativos. É preciso, portanto, romper com o centralismo.
Evangelização
Percebi em todos os diálogos, sobretudo nos países de língua castelhana, que a herança evangelizadora na escola ainda é muito forte. No Brasil, perdemos um pouco este elo da educação-evangelização. Fomos cedendo a um processo laicizante, competitivo e mercadológico, que jogou os processos de evangelização para segundo plano. Nisto precisamos refletir e, quem sabe, retroceder, porque erramos. A ação evangelizadora na escola vai muito além da catequese, da missa, do ensino religioso. Trata-se do resultado do anúncio da pessoa de Jesus Cristo abrindo a escola a experiências do transcendente. A ninguém podemos negar essa oportunidade.
A conferência do padre brasileiro Vitor Mendes, sobre evangelização na escola, trouxe-nos uma mudança total de paradigma, inclusive do ambiente do congresso. Saímos da atitude passiva da escuta para a interação. Ele nos apresentou que vivemos uma crise na Igreja Católica e a mesma respinga na escola. É uma crise de identidade e enfrentar essa crise da escola só será possível com a mudança de nossas práticas.
O que ficou para mim deste congresso? Em cinco pontos eu sintetizo minhas esperanças:
- A descentralização do poder na escola. Dar a cada um e a todos a força da colaboração;
- Cuidar dos recursos educativos: avaliação, metodologia, conteúdos, organização;
- Acreditar e investir na formação e qualificação dos educadores;
- Vencer nosso medo de arriscar, ser escola em saída, parceira;
- Seguir os passos de Francisco para sair do lugar geográfico, investir em uma nova epistemologia e em uma pedagogia criativa.