Raimundo Marcelo Cardoso Maciel é natural de Breves, na ilha de Marajó, distante 221,60 km de Belém. Sua origem, onde ainda moram seus pais, é o Bairro da Cidade Nova, na periferia. A cidade, com cerca de 95 mil habitantes, fervilha de motos e bicicletas, como transporte mais recorrente, pois no centro urbano não existe o transporte de ônibus que só funciona para as comunidades do interior. Marcelo é povão. E é o primeiro salesiano sacerdote de Marajó, ilha famosa em todo mundo por sua importância antropológica, por seu potencial econômico e, mesmo assim, relegada ao abandono governamental.
A comunidade paroquial e os familiares se prepararam com muita antecedência para o evento singular de sua ordenação. A população simples assumiu a ordenação com sua fé viva e apresentou o melhor na preparação e realização do evento. Na Paróquia de São José e Santa Teresinha, a comunidade católica vivenciou, na semana que antecedeu a ordenação, uma semana de Adoração ao Santíssimo.
Para a ordenação vieram visitantes do Sul: salesianos, padres seculares, estudantes de Teologia, amigos, jovens. A viagem entre Belém e Breves durou 6 horas e foi feita em lancha voadeira, para espanto dos visitantes que, a todo o momento, perguntavam “mas já estamos chegando ao mar?”.
Eu já escuto os teus sinais
A ordenação aconteceu no dia 23 de janeiro de 2016, na quadra da Escola Municipal Margarida Nemer. Começou às 19 h, com a chuva da tarde que amenizou o forte calor do dia. A ordenação foi presidida por dom Flávio Giovenale, salesiano, bispo de Santarém. Concelebraram os padres salesianos Francisco Alves, inspetor da Inspetoria Salesiana Missionária da Amazônia, e diversos padres salesianos e seculares. A presença do padre Rosalvino Moran Viñayo assumiu destaque especial porque poucas vezes ele se afasta da Obra Social Dom Bosco de Itaquera, em São Paulo. Foi em Itaquera que Marcelo fez um dos seus exercícios pastorais, e afirmou ter sido a melhor experiência pastoral de sua vida.
Foco na celebração
A procissão inicial acolheu, junto com o bispo e os padres, uma turma de 18 coroinhas. A homilia foi feita no habitual clima comunicativo de dom Flávio, com oportunas doses de humor e permanentes interpelações à participação da comunidade presente. Ao comentar o Evangelho do dia, o bispo ordenante reafirmou com ênfase: “Marcelo, a messe é de Deus. Vai pra frente!” e “Jesus pode contar contigo”. A homilia uniu profundidade de apelo pastoral com brevidade.
Chamou a atenção a emoção dos pais, Marcelino Ferreira Maciel e Maria de Jesus Cardoso Wanzeler, de seus quatro irmãos e duas irmãs. Um dos seus tios, pastor da Igreja Assembleia de Deus, esteve presente tanto na celebração da ordenação quanto na primeira missa.
A comunidade São Benedito, pertencente à Paróquia São José e Santa Teresinha, foi presença de permanente ajuda e participação em todas as inúmeras atividades no antes, durante e no depois da ordenação e da primeira missa. O local da ordenação acolheu cerca de 1.200 pessoas.
O agradecimento salesiano foi feito pelo padre Chicão em nome da Inspetoria com acenos especiais: o dia de São Francisco de Sales; a importância de que o ordenando sempre olhe para suas raízes e o apelo à especial presença entre as crianças, adolescentes e jovens; a referência oracional diária a Maria.
A primeira missa
A primeira missa foi celebrada no domingo, 24 de janeiro, na capela de São Benedito, comunidade do Marcelo, às 9 hs. A igreja, construída quando seu pai era o vice-coordenador da comunidade, estava lotada. Cantos bem animados e executados pelo grupo de música da mesma comunidade. A homilia foi feita pelo padre Antônio Neto, agostiniano, que foi o primeiro catequista de Marcelo. A convocação litúrgica final foi com o canto missionário de grande apelo eclesial “Igreja Marajoara”: Igreja Marajoara, formada por todos nós. Igreja Marajoara, levanta tua voz!
Ao final da celebração, a comunidade São Benedito ofereceu três presentes: uma cruz, uma canoa e um banner com o lema sacerdotal do padre Marcelo: “Eu vim para servir” (Mc 10,45).
Depois da celebração da missa, a confraternização comunitária: a comunidade que partilhou a mesa da doação do filho da terra e a mesa do pão sagrado, também partilhou a mesa da confraternização popular. Um almoço foi servido na casa do padre Marcelo, no dia 24, e dois dias depois da ordenação, a comunidade organizou dois passeios para um banho de igarapé.
“Vou te oferecer a vida e tudo o que já sei viver...”
Ainda em Belém, o padre Marcelo participou de cerimônia de profissão perpétua do salesiano Leomar, no dia 31 de janeiro, em Ananindeua. Em breve, Marcelo voltará a Manaus e, de novo, estará subindo e descendo as ladeiras do Bairro do Zumbi, Zona Leste, onde fez um ano de Tirocínio no então Pré-Noviciado. Vai acompanhar os jovens do Aspirantado, que passou a funcionar na localidade, em 2016.
A semente salesiana, lançada há 100 anos na Amazônia, continua viva. A força das origens reafirma sua pujança nas raízes locais: o padre Marcelo é a mais nova raiz no quadro dos 14 salesianos sacerdotes paraenses. O recém ordenado Marcelo é um dos 49 salesianos nativos da Inspetoria. Estes números nos remetem à fidelidade amorosa de Deus e nos levam a um obrigado aos que nos precederam e animaram.