No dia 15 de outubro celebra-se Santa Teresa de Ávila, (1515-1582), monja carmelita, cujas experiências e ensinamentos foram reconhecidos pela Igreja através de São Paulo VI que, em 1970, a proclamou, primeira mulher na história, Doutora da Igreja. Santa Teresa viveu uma singular experiência de oração que renovou toda a sua vida numa dinâmica unitária de ação e contemplação.
Dom Bosco a quis padroeira do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora precisamente por esta sua singular capacidade de conjugar oração e atividade numa harmônica síntese fundada no amor. A doutrina de Teresa, fundada na experiência e na pesquisa pessoal, orientou gerações de fiéis que encontraram nela uma mestra de vida espiritual.
Para Teresa, o meio imprescindível para o “Caminho de perfeição” é a meditação. Escreve: “De fato, estou persuadida de que, se com a graça de Deus o principiante se esforça para chegar ao ápice da perfeição, já não entrará no céu sozinho, mas colocando-se atrás de muita gente, como bom capitão a quem Deus confiou um forte exército”. (Livro da Vida 11,4)
Para ela “a meditação sobre o conhecimento de si nunca deve ser negligenciada” (Livro da Vida 13, 15), pois a meta final é a configuração a Cristo. Trata-se de uma metamorfose que se compara à das lagartas em borboleta: “Vejamos agora como se transforma este pequeno verme, que é o objetivo de tudo o que disse. Isto, quando nesta oração morre a todas as coisas do mundo, transforma-se numa pequena borboleta branca”. (Castelo interior V 2, 7)
“Para mim, de fato, viver é Cristo e morrer um ganho. O mesmo, parece-me, possa agora dizer a alma, porque é aqui onde a borboletinha de que falávamos, morre, e com extrema alegria, já sendo Cristo a sua vida. (Castelo Interior VII 2, 5)
Para Santa Teresa, a meditação não é um fato privado, que produz efeitos relevantes na vida daqueles que, de algum modo, são confiados àquele/àquela que ainda apenas começa a praticá-la. Na Caminho de perfeição, afirma que, antes de falar da oração, dirá algumas “coisas tão necessárias que, com elas, sem ser espíritos contemplativos, poder-se-á progredir muito no serviço do Senhor, enquanto, se não se possuem, é impossível ser grandes almas contemplativas” e prossegue:
“Limitar-me-ei a falar-vos apenas de três coisas inerentes às próprias Constituições, sendo muito importante entender a obrigação rigorosa de observá-las para ter a paz interna e externa, que o Senhor tanto nos recomendou: a primeira é o amor recíproco, a segunda, o desapego de todas as criaturas, a terceira, a verdadeira humildade que, embora a tenha nomeado por último, é a virtude principal e as abraço todas”. (Caminho de Perfeição 4,4)
A oração se prepara com a vida, a vida se santifica com a oração num círculo virtuoso que tende a absorver todas as dimensões da vida da pessoa.
Santa Teresa é uma atualidade desarmante, pois é grande conhecedora da alma humana e por isso não hesita em admoestar: “Recomendo muito de nunca deixar a oração, porque com ela se conhece o nosso estado, nos arrependemos da ofensa feita a Deus e se conquista força para nos reerguer. Sim, sim, acredite: quem se afasta da oração encontra-se em gravíssimo perigo» (Livro da Vida 15,3).
Pelo contrário, quem persevera no caminho da oração e da meditação revigora e desenvolve os próprios dons a ponto de expressar a criatividade e a audácia da caridade: “Este é o fim da oração, minhas filhas; é para isso que serve o matrimônio espiritual, para fazer nascer sempre novas obras” (Castelo Interior VII 4,6).
De Santa Maria Mazzarello a Madre Chiara Cazzuola, as Superioras gerais do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora dedicaram uma ou mais Circulares para recomendar a meditação.
Madre Antônia Colombo, por exemplo, repetidamente se debruça sobre o tema, chegando a afirmar: “Estou convencida de que a maior parte das dificuldades que encontramos nas nossas relações e que tornam às vezes problemática a possibilidade de tecer unidade na diversidade nascem da superficialidade e da dispersão derivadas da menor capacidade de viver no silêncio. Isto é fundamental na existência de cada criatura que quer crescer na ordem, unificando-se em torno do núcleo central das próprias escolhas. Ainda mais para o crente em Cristo, chamado a entrar em contato com a Palavra saída do silêncio do Pai, a conservá-la no coração, a confrontar com ela cada acontecimento”. (Circ. n.º 800, 24 de abril de 1998).
A Circular nº 816, de 24 de dezembro de 1999, relembra o relatório de Theresa Ee-Chooi à Assembleia inter-religiosa apresentada na Cidade do Vaticano em Outubro de 1999: “A abordagem por ela apresentada comporta em primeiro lugar uma mudança de nós mesmos porque quando mudamos solicitamos uma mudança também nos outros. Consiste na utilização de um instrumento que a maior parte das religiões possui e que dá às pessoas a capacidade de escolher o bem, de criar vínculos de unidade no respeito recíproco. Trata-se da meditação e da consequente prática da atenção consciente, acompanhada da arte de escutar”.
Em substância, a arte da meditação é condição imprescindível da transformação interior e, portanto, de toda mudança real na comunidade e na sociedade, mas é também terreno de confronto e de diálogo entre as religiões e as culturas, tão necessários à paz.
Fonte: Portal FMA