“Através desses dois documentos, a família das Nações reconhece a igual dignidade de cada pessoa humana, da qual derivam direitos e liberdades fundamentais que, arraigados na natureza da pessoa humana, unidade inseparável de corpo e alma, são universais, indivisíveis, interdependentes e inter-relacionados. Ao mesmo tempo, a Declaração de 1948 reconhece que o indivíduo tem deveres para com a comunidade na qual é possível o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade”, afirma o Pontífice.
Neste ano “em que se celebram os aniversários significativos desses instrumentos jurídicos internacionais”, o Papa afirma que é “oportuna uma reflexão profunda sobre o fundamento e o respeito dos direitos humanos no mundo atual”, esperando que dessa reflexão “possa surgir um compromisso renovado em favor da defesa da dignidade humana, com uma atenção especial aos membros vulneráveis da comunidade”.
Visões redutivas
“Observando com atenção as nossas sociedades contemporâneas, verificam-se muitas contradições que levam a nos perguntar se realmente a igual dignidade de todos os seres humanos, proclamada solenemente 70 anos atrás, é reconhecida, respeitada, protegida e promovida em toda circunstância”, considera o Papa
“Hoje, persistem no mundo várias formas de injustiça, alimentadas por visões antropológicas redutivas e por um modelo econômico baseado no lucro, que não hesita em explorar, descartar e até mesmo matar o ser humano. Enquanto uma parte da humanidade vive na riqueza, outra parte vê sua própria dignidade renegada, desprezada ou pisoteada e seus direitos fundamentais ignorados ou violados”, prossegue ele na mensagem.
“Penso nos nascituros aos quais são negados o direito de vir ao mundo, naqueles que não têm acesso aos meios indispensáveis para uma vida digna, nos que são excluídos de uma educação adequada, naqueles que são injustamente privados do trabalho ou forçados a trabalhar como escravos, nos que estão detidos em condições desumanas, nos que sofrem torturas ou não têm a possibilidade de se redimir, nas vítimas de desaparecimentos forçados e suas famílias”.
Suspeita e desprezo
O Papa recorda também as pessoas “que vivem num clima dominado por suspeita e desprezo, que são alvos de intolerância, discriminação e violência por causa de sua pertença racial, étnica, nacional e religiosa”.
Lembra “os que sofrem múltiplas violações de seus direitos fundamentais no contexto trágico dos conflitos armados, enquanto negociantes de morte sem escrúpulos se enriquecem com o preço do sangue de seus irmãos e irmãs”.
Coragem e determinação
Segundo o Pontífice, somos chamados em causa diante desses fenômenos graves. “Quando os direitos fundamentais são violados, ou quando se privilegiam alguns em detrimento de outros, ou quando os direitos são garantidos somente a determinados grupos, ocorrem injustiças graves que por sua vez alimentam conflitos com consequências sérias dentro das nações e em suas relações.”
“Cada um é chamado a colaborar com coragem e determinação, na especificidade de sua função, em prol do respeito dos direitos fundamentais de cada pessoa, especialmente as “invisíveis”: aquelas que têm fome e sede, que estão nuas, doentes, estrangeiras ou detidas, que vivem às margens da sociedade ou são descartadas”, conclama o Papa Francisco.
“Essa exigência de justiça e solidariedade tem um significado especial para nós cristãos, pois o Evangelho nos convida a voltar o olhar aos nossos irmãos e irmãs, a nos mover pela compaixão e nos comprometer concretamente para aliviar seus sofrimentos.”
Despertar as consciências
O Papa faz um apelo aos responsáveis de instituições, pedindo-lhes para que coloquem “os direitos humanos no centro de todas as políticas, incluindo as de cooperação ao desenvolvimento, mesmo se isso significa caminhar contracorrente”.
Francisco espera que esses dias de reflexão na Pontifícia Universidade Gregoriana possam “despertar as consciências e estimular iniciativas voltadas a tutelar e promover a dignidade humana”.
Fonte: Vatican News