O Milagre continua

Quarta, 21 Fevereiro 2018 17:29 Escrito por 
O Evangelho está vivo. Sempre. Assim pode acontecer de vivermos em nosso cotidiano uma página evangélica. Pessoalmente muitas vezes vivi uma das páginas mais encantadoras do Evangelho, aquela em que Jesus elogia a mísera oferta (insignificante aos olhos humanos) da pobre viúva que lança no tesouro do Templo tudo aquilo que tinha para viver. Aos olhos de Deus era uma oferta total.  

A última vez, aconteceu-me no regresso das intensas e belíssimas Jornadas de Espiritualidade da Família Salesiana em Valdocco (Turim, na Itália), da qual participaram 367 pessoas pertencentes a 22 dos 31 grupos oficiais, como ramos, desta grande árvore que é a Família Salesiana de Dom Bosco.

 

Na minha mesa de trabalho, encontrei um envelope com uma carta. Vinha de uma pequena cidade francesa. Espero que, respeitando o devido anonimato, a remetente da carta goste que eu fale dela, porque tudo aquilo que é belo e bom deve ser conhecido. Quem me escrevia era uma senhora com muita idade, 92 anos, natural da Itália, esposa e mãe de família, que recentemente enviuvou.

 

O que distinguia esta carta das centenas de outras semelhantes que chegam diariamente? A remetente a tinha tornado especial com a sua caligrafia grande e clara, “toda do seu punho”. A carta era acompanhada de uma oferta para os mais pobres em qualquer lugar das Missões Salesianas no mundo.

 

Nada de excecional também nisto, dado que há muitas pessoas que enviam os seus humildes donativos para os mais pobres e, com isto, se consegue fazer muito bem. Aquilo que tornava especial o gesto da senhora era o que ela oferecia. Tratava-se de algo verdadeiramente seu e de fortíssimo valor sentimental. Oferecia as alianças de casamento, a sua e a do seu falecido marido, juntante com a caixa de prata que tinha servido para lhe levar a Santíssima Eucaristia em casa durante a doença.

 

Confesso que fiquei muito comovido. Reli a carta várias vezes e contemplei as duas alianças, humilde e precioso sinal do amor de duas pessoas.

 

Prometi que levaria pessoalmente aquela oferta, transformada em dinheiro, a uma das nossas missões mais pobres. Servirá para as necessidades básicas das famílias mais pobres e para a educação de uma menina, a fim de lhe dar um futuro mais digno e feliz. Creio que, como mulher, a senhora ficaria feliz por saber que os símbolos do seu amor se transformaram na possibilidade de um futuro mais sereno para uma menina necessitada. Estou convencido que também a alimentação que for adquirida com este donativo terá um valor muito especial.

 

Finalmente uma “boa notícia”

Estamos todos desconcertados com a crônica diária desta nossa sociedade global. É inquietante ver com que facilidade nos habituamos à morte. A morte da natureza, destruída pela poluição industrial; a morte nas estradas; a morte pela violência; a morte daqueles que não chegam a nascer; a morte das almas.

 

É insuportável ver com que indiferença escutamos cifras aterradoras que nos falam da morte de milhões de famintos no mundo, e com que passividade contemplamos a violência silenciosa, mas eficaz e constante, de estruturas injustas que fazem os mais fracos afundarem na marginalização.

 

E eu pensava: por que um gesto tão profundamente humano e repleto de sentimentos verdadeiros a favor dos outros como o daquela viúva não pode ser uma notícia? A sua mensagem silenciosa e discreta é uma verdadeira e grande “boa notícia”.

 

O escritor  Alessandro d’Avenia narra a história de um menino que, na escola, tinha desenhado um céu estrelado. Indicando o desenho, a professora perguntou-lhe, com um grande sorriso: “De que são feitas as estrtelas?”.

“De luz”, respondeu o menino seguro, sem compreender muito bem o que estava dizendo.

“E porquê?”, perguntou a professora, levada pelo entusiasmo.

Ela fixava o menino, que olhava para ela em busca de uma resposta a uma coisa que ninguém sabe. “Porquê, André?”, perguntou com doçura.

“Porque a Terra está cheia de escuridão”, respondeu ele.

 

Se este mundo está cheio de gente que “vive na escuridão”, a viúva francesa acendeu uma luz. E estou certo que vocês também, como eu, sentiram-se felizes com isso.

 

Um augúrio do Timor Leste

Estou escrevendo do Timor Leste, no meio de pessoas muito simples, que vivem de modo modesto, mas são amáveis e generosas, dotadas de uma grande fé, embora provadas pelo sofrimento e pelo sacrifício.

 

Celebramos há pouco a Festa de Dom Bosco. Em breve, em Fatumaca, celebrarei com milhares de pessoas um encontro e uma Eucaristia com os membros da Associação Devotos de Maria Auxiliadora. E vejo como o carisma salesiano continua a lançar raízes nesta nação boa, religiosa e acolhedora.

 

Este também é o nosso mundo. Estas também são notícias. A todos vocês, o meu augúrio de toda a graça e bênção.

 

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O Milagre continua

Quarta, 21 Fevereiro 2018 17:29 Escrito por 
O Evangelho está vivo. Sempre. Assim pode acontecer de vivermos em nosso cotidiano uma página evangélica. Pessoalmente muitas vezes vivi uma das páginas mais encantadoras do Evangelho, aquela em que Jesus elogia a mísera oferta (insignificante aos olhos humanos) da pobre viúva que lança no tesouro do Templo tudo aquilo que tinha para viver. Aos olhos de Deus era uma oferta total.  

A última vez, aconteceu-me no regresso das intensas e belíssimas Jornadas de Espiritualidade da Família Salesiana em Valdocco (Turim, na Itália), da qual participaram 367 pessoas pertencentes a 22 dos 31 grupos oficiais, como ramos, desta grande árvore que é a Família Salesiana de Dom Bosco.

 

Na minha mesa de trabalho, encontrei um envelope com uma carta. Vinha de uma pequena cidade francesa. Espero que, respeitando o devido anonimato, a remetente da carta goste que eu fale dela, porque tudo aquilo que é belo e bom deve ser conhecido. Quem me escrevia era uma senhora com muita idade, 92 anos, natural da Itália, esposa e mãe de família, que recentemente enviuvou.

 

O que distinguia esta carta das centenas de outras semelhantes que chegam diariamente? A remetente a tinha tornado especial com a sua caligrafia grande e clara, “toda do seu punho”. A carta era acompanhada de uma oferta para os mais pobres em qualquer lugar das Missões Salesianas no mundo.

 

Nada de excecional também nisto, dado que há muitas pessoas que enviam os seus humildes donativos para os mais pobres e, com isto, se consegue fazer muito bem. Aquilo que tornava especial o gesto da senhora era o que ela oferecia. Tratava-se de algo verdadeiramente seu e de fortíssimo valor sentimental. Oferecia as alianças de casamento, a sua e a do seu falecido marido, juntante com a caixa de prata que tinha servido para lhe levar a Santíssima Eucaristia em casa durante a doença.

 

Confesso que fiquei muito comovido. Reli a carta várias vezes e contemplei as duas alianças, humilde e precioso sinal do amor de duas pessoas.

 

Prometi que levaria pessoalmente aquela oferta, transformada em dinheiro, a uma das nossas missões mais pobres. Servirá para as necessidades básicas das famílias mais pobres e para a educação de uma menina, a fim de lhe dar um futuro mais digno e feliz. Creio que, como mulher, a senhora ficaria feliz por saber que os símbolos do seu amor se transformaram na possibilidade de um futuro mais sereno para uma menina necessitada. Estou convencido que também a alimentação que for adquirida com este donativo terá um valor muito especial.

 

Finalmente uma “boa notícia”

Estamos todos desconcertados com a crônica diária desta nossa sociedade global. É inquietante ver com que facilidade nos habituamos à morte. A morte da natureza, destruída pela poluição industrial; a morte nas estradas; a morte pela violência; a morte daqueles que não chegam a nascer; a morte das almas.

 

É insuportável ver com que indiferença escutamos cifras aterradoras que nos falam da morte de milhões de famintos no mundo, e com que passividade contemplamos a violência silenciosa, mas eficaz e constante, de estruturas injustas que fazem os mais fracos afundarem na marginalização.

 

E eu pensava: por que um gesto tão profundamente humano e repleto de sentimentos verdadeiros a favor dos outros como o daquela viúva não pode ser uma notícia? A sua mensagem silenciosa e discreta é uma verdadeira e grande “boa notícia”.

 

O escritor  Alessandro d’Avenia narra a história de um menino que, na escola, tinha desenhado um céu estrelado. Indicando o desenho, a professora perguntou-lhe, com um grande sorriso: “De que são feitas as estrtelas?”.

“De luz”, respondeu o menino seguro, sem compreender muito bem o que estava dizendo.

“E porquê?”, perguntou a professora, levada pelo entusiasmo.

Ela fixava o menino, que olhava para ela em busca de uma resposta a uma coisa que ninguém sabe. “Porquê, André?”, perguntou com doçura.

“Porque a Terra está cheia de escuridão”, respondeu ele.

 

Se este mundo está cheio de gente que “vive na escuridão”, a viúva francesa acendeu uma luz. E estou certo que vocês também, como eu, sentiram-se felizes com isso.

 

Um augúrio do Timor Leste

Estou escrevendo do Timor Leste, no meio de pessoas muito simples, que vivem de modo modesto, mas são amáveis e generosas, dotadas de uma grande fé, embora provadas pelo sofrimento e pelo sacrifício.

 

Celebramos há pouco a Festa de Dom Bosco. Em breve, em Fatumaca, celebrarei com milhares de pessoas um encontro e uma Eucaristia com os membros da Associação Devotos de Maria Auxiliadora. E vejo como o carisma salesiano continua a lançar raízes nesta nação boa, religiosa e acolhedora.

 

Este também é o nosso mundo. Estas também são notícias. A todos vocês, o meu augúrio de toda a graça e bênção.

 

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