O Santo Padre já havia decidido que em Temuco iria reservar um momento para um encontro, ainda que breve, com algumas pessoas de nacionalidade argentina que queriam vê-lo pessoalmente e ouvi-las por uns instantes.
Entre as pessoas recebidas pelo Pontífice, estava também Mario Cafiero, dirigente político; Eduardo Valdés, ex-embaixador argentino junto à Santa Sé; e Juan Namuncurá – que conta como longínquo tio o Bv. Zeferino Namuncurá, por sua vez filho do chefe indígena Manuel Namuncurá – . A eles se uniram depois, a convite dos três primeiros, também Juan Carlos Reinao Marilao, médico, político e líder mapuche chileno, que, desde 2017, é ‘alcaide’ do município de Renaico e presidente da Associação dos Municípios Chilenos com Prefeitos Mapuches.
A poucos meses da visita do Papa ao Chile, Juan Namuncurá decidira escrever uma carta ao Papa. Mario Cafiero e Eduardo Valdés colaboraram como facilitadores, para que a carta – de quase quatro páginas – chegasse ao Papa.
“Querido e respeitável Francisco, sou Juan Namuncurá, precedido pela fama dos meus antepassados – o mais famoso e amado dos quais, por quanto se refere aos últimos tempos, é um meu tio-bisavô, Zeferino, ou ‘Safirinha’, o nosso «Safirinha»”. Assim iniciava a carta que o Papa recebeu e leu. A seguir, o remetente explicava a finalidade do escrito: “Desejo ser ‘uma ponte para os seus irmãos’ que, em nível pessoal e como consequência dos tempos, não são somente aqueles que, um tempo, moravam nas comunidades (hoje popularmente chamadas ‘mapuches’) mas toda a sociedade”.
Em sua carta, Juan Namuncurá manifestou ao Papa o seu desejo de continuar “a herança e o empenho da linhagem familiar”, buscando, junto “com um pequeno grupo de irmãos (...), novos caminhos e pontes, fundados na paz e na harmonia”, baseados no conceito de “democratização das populações indígenas”.
Lida a carta, o Papa convidou Namuncurá para um encontro no Chile a fim de tratar pessoalmente – fora da agenda oficial – dos problemas relativos. Esse foi o tema do diálogo na improvisado sacristia de Temuco.
Juan Namuncurá descreveu o diálogo como “muito concreto e profundo”, embora não tenha especificado seus termos. Falou também da sua surpresa ao ver como o Papa se lembrava dos detalhes da carta, observando que alguns dos temas e expressões tinham sido usados também na homilia pronunciada pouco antes. “Fiquei maravilhado – disse Namuncurá – pela enorme agilidade intelectual de Francisco”, de quem espera receber apoio à sua iniciativa e com o qual manterá contatos futuramente, para fazer avançar as conversações iniciadas em Temuco.