Estamos no Ano Santo da Misericórdia, que tem como lema: “Misericordiosos como o Pai!”. O Papa Francisco decretou este Ano Santo porque celebramos em 2016 o cinquentenário da conclusão do Concílio Ecumênico Vaticano II: somos convidados a manter viva a memória desse extraordinário evento eclesial. O Concílio foi um forte sopro do Espírito Santo sobre a Igreja; um sinal da bondade de Deus!
A misericórdia é a síntese de todas as exigências do mistério da fé cristã. Deus Pai é “rico em misericórdia” (Ef2,4); Ele se revelou a Moisés como o “Deus misericordioso e clemente, lento na ira, cheio de bondade e fidelidade” (Ex34,6). Sua justiça se identifica com o amor que salva, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).
Jesus de Nazaré, indo ao encontro dos mais excluídos do seu tempo, mostrou-nos que o testemunho da misericórdia de Deus-Pai era a sua missão. Jesus é a misericórdia em pessoa! Somos, portanto, como discípulos de Jesus Cristo, chamados à prática da misericórdia, imitando as atitudes do nosso mestre e Senhor (cf. Jo 13,14).
Um compromisso
Ao longo deste ano, todas as grandes celebrações da Igreja Católica são ocasiões oportunas para o aprofundamento do tema da misericórdia. Dentre os eventos em âmbito mundial, temos a XXXI Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que acontecerá no mês de julho em Cracóvia, na Polônia, e tem como lema: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia”.
A devoção a Jesus Misericordioso começou justamente em Cracóvia, quando Santa Faustina, uma das grandes místicas da Igreja Católica, narrou em seu diário ter recebido instruções de Jesus, através de visões, para que propagasse por todo o mundo a Sua divina misericórdia. Desde então, essa cidade é conhecida como a terra da misericórdia, para onde acorrem todos os anos multidões de peregrinos.
Os jovens participantes da JMJ de Cracóvia terão, através da oração, das catequeses, dos momentos de intercâmbio cultural e celebrações sacramentais, a oportunidade de aprofundar, em diversas perspectivas, a grandeza e a urgência da misericórdia.
O mundo está carente de misericórdia
Na bula O rosto da misericórdia, o Papa Francisco faz um sério apelo ao mundo para que reflita e pratique a misericórdia. Afirma que atualmente a nossa cultura está carente de perdão e, cada vez mais, vai se tornando rara a experiência da misericórdia, do perdão e da tolerância entre as pessoas. “A mentalidade contemporânea tende a separar da vida e a tirar do coração humano a própria ideia da misericórdia.”
Essa denúncia do Papa Francisco tem profunda consistência e são justamente os fatos sociais que a comprovam: pena de morte, tortura, guerras, violência familiar, injustiça, ódio, abusos, divisão entre povos e culturas, segregação racial e religiosa, terrorismo, atentados contra a dignidade humana. A humanidade sofre porque está perdendo o senso da misericórdia que nos leva a experimentar o perdão, a promover a tolerância e a cultivar a paz nas relações.
A ausência do amor gera na humanidade toda espécie de males que promovem o sofrimento e a morte. Ao contrário, a força da misericórdia produz as virtudes da acolhida, do respeito, do perdão, da tolerância, da justiça e da paz. “O amor nada faz de inconveniente”, diz a Palavra de Deus (cf. 1Cor 13,5) e gera tudo o que é bom.
Educar-se para a misericórdia
A prática do perdão e da misericórdia não acontece em nós espontaneamente. Somos naturalmente levados à experiência do conflito por causa da divergência dos nossos interesses, ideias, opções, gostos, paixões etc. A tendência do coração, muitas vezes, conflita com os parâmetros da razão que nos pedem equilíbrio, justiça, temperança e bom senso. Por isso, precisamos nos educar para sermos capazes da experimentar a alegria de perdoar.
A JMJ possibilita aos jovens a experiência do encontro fraterno na diversidade de povos, culturas, línguas, mentalidades, cores e etnias. Os jovens animados pela fé fazem experiência da fraternidade, da colhida, do respeito recíproco e da alegria de se sentirem unidos pela mesma humanidade universal, discípulos alicerçados na mesma fé em Jesus Cristo e irmãos em comunhão eclesial. A experiência educativa para os jovens não vem somente do encontro entre as pessoas, mas também das catequeses que visam o aprofundamento do tema de cada JMJ.
Juventude salesiana na JMJ
A JMJ tem tudo a ver com a Espiritualidade Juvenil Salesiana. Antes de tudo, por ser um evento de forte protagonismo juvenil, profundamente eclesial e festivo. Dessa forma, o Movimento Juvenil Salesiano (Articulação da Juventude Salesiana) dela participa com entusiasmo. A participação da juventude salesiana na JMJ é uma oportunidade para testemunhar ao mundo juvenil católico a riqueza dos valores humanos mais evidentes na espiritualidade salesiana: acolhida, simplicidade, espírito de família, amizade, criatividade, equilíbrio, otimismo e alegria.
Mas não só! A juventude salesiana participante da JMJ tem também a oportunidade de testemunhar, diante de outros jovens, as nossas convicções de fé: o amor à Igreja e à pessoa do Papa, nosso carinho filial para com Maria, o amor à Eucaristia e ao sacramento da Reconciliação!
Os estímulos do Papa Francisco
Percebemos um lindo percurso que a Igreja vem fazendo nos últimos anos para descobrir formas e caminhos de chegar ao coração das novas gerações. A Igreja acredita que para evangelizar a juventude é preciso conhecer a realidade e a cultura nas quais os jovens estão inseridos.
A figura o Papa Francisco representa um grande sinal de alegria e estímulo, tanto para o povo adulto, quanto para a juventude; seu sorriso, sua simpatia, sua abertura e sua proximidade fizeram com que os jovens logo se identificassem com o seu jeito de ser: simples, direto e despojado. Ao recordar constantemente os pobres e os marginalizados nos seus gestos e palavras, é reconhecido como um bom pastor a ser imitado pelos jovens.
A celebração da JMJ no Ano Santo da Misericórdia é, para a Família Salesiana, um sinal eloquente da bondade misericordiosa de Deus, pois Dom Bosco e Madre Mazzarello, no século XIX, fundaram duas congregações como expressão do amor de Deus para com os jovens.
A JMJ é também um tempo de despertar vocacional e missionário para a juventude. Que o Espírito Santo suscite, no coração dos jovens, o desejo de seguimento alegre e de comprometimento generoso com a causa do Reino de Deus.
Irmã Solange Sanches, FMA, e padre Antônio de Assis Ribeiro (Pe. Bira), SDB, são coordenadores da Comissão Nacional da Pastoral Juvenil Salesiana.