“Atravessar hoje a Porta Santa nos compromete a adotar a misericórdia do bom samaritano”: com estas palavras, no dia 8 de dezembro de 2015 – Solenidade de Nossa Senhora da Conceição -, o Papa Francisco abriu a Porta Santa na Basílica de São Pedro, no Vaticano, e inaugurou oficialmente o Ano Santo Jubilar da Misericórdia. Este Ano Santo extraordinário foi iniciado no 50º aniversário do encerramento do Concílio Vaticano II, o que foi ressaltado pelo Papa em sua homilia: “Trata-se, pois, de um impulso missionário que, depois destas décadas, retomamos com a mesma força e o mesmo entusiasmo. O Jubileu exorta-nos a esta abertura e obriga-nos a não esquecer o espírito que surgiu do Vaticano II, o do Samaritano, como recordou o Beato Paulo VI na conclusão do Concílio”.
Sob o lema “Misericordiosos como o Pai” (Lc 6,36), o Ano Santo convoca à conversão e ao aprofundamento da fé por meio da vivência da misericórdia. “Há momentos em que somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar na misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos sinal eficaz do agir do Pai”, afirmou o Sumo Pontífice na bula Misericordiae Vultus, documento que anunciou o Ano Jubilar.
Após o início do Ano Santo, também serão abertas as portas das quatro maiores basílicas de Roma: São Pedro, São João Latrão, São Paulo Fora dos Muros e Santa Maria Maior. Em todo o mundo, as catedrais ou santuários designados pelas dioceses, também abriram a própria Porta da Misericórdia dentro da celebração eucarística do terceiro domingo do Advento (13 de dezembro). Entre elas, estão as catedrais brasileiras, o Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, em Aparecida, SP, e o Santuário de Maria Auxiliadora de Corumbá, MS, que é atendido pelos salesianos.
Sinal e instrumento da misericórdia
Conforme explicou o Papa Francisco ao anunciar o Ano Santo da Misericórdia, sua decisão de convocar um Ano Jubilar com este tema foi motivada porque, em tempos de grandes mudanças como o que vivemos atualmente, a Igreja é chamada a oferecer com mais vigor os sinais da presença de Deus. “Este não é um tempo para distrações, mas para que permaneçamos vigilantes e despertemos em nós a capacidade de fixarmos o essencial”, disse.
Outro motivo é para que a Igreja cumpra a missão dada a ela por Jesus: ser sinal e instrumento da misericórdia do Pai a todos os homens e mulheres. “Por isso que o Ano Santo deverá manter vivo em nós o desejo de levá-la aos que sofrem, aos que estão sem esperança de serem perdoados, de serem amados pelo Pai”, ressaltou Francisco.
No texto da bula Misericordiae Vultus, é destacado o papel da Igreja e de cada cristão no cumprimento dessa missão: “A primeira verdade da Igreja é o amor de Cristo. E, deste amor que vai até ao perdão e ao dom de si mesmo, a Igreja faz-se serva e mediadora junto dos homens. Por isso, onde a Igreja estiver presente, aí deve ser evidente a misericórdia do Pai. Nas nossas paróquias, nas comunidades, nas associações e nos movimentos – em suma, onde houver cristãos –, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia”.
O caminho do perdão
No Ano Santo, é concedida a indulgência – ou seja, o perdão de todos os pecados – aos que desejarem essa graça. Para isso, os fiéis são chamados a realizar uma breve peregrinação rumo à Porta Santa, aberta em cada catedral ou nas igrejas estabelecidas pelo bispo diocesano, e nas quatro Basílicas Papais em Roma, como sinal do profundo desejo de verdadeira conversão: “Esta peregrinação será sinal de que a própria misericórdia é uma meta a alcançar que exige empenho e sacrifício. Por isso, a peregrinação será um estímulo à conversão: ao atravessar a Porta Santa, nos deixaremos abraçar pela misericórdia de Deus e nos comprometeremos a ser misericordiosos com os outros como o Pai o é conosco”.
O Papa Francisco chama também a que, neste Ano Santo, cada um abra o coração àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais e pede que os cristãos se deem conta de tantas situações de precariedade e sofrimento presentes no mundo atual. “Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda. (...) Que o seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a barreira de indiferença que frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo”.
O Pontífice afirma ainda que a misericórdia ultrapassa as fronteiras da Igreja Católica, pois é considerada pelo judaísmo e pelo islamismo um dos atributos mais marcantes de Deus. “Possa este Ano Jubilar, vivido na misericórdia, favorecer o encontro com estas religiões e com as outras nobres tradições religiosas; que ele nos torne mais abertos ao diálogo, para melhor nos conhecermos e compreendermos; elimine todas as formas de fechamento e desprezo e expulse todas as formas de violência e discriminação”, considera.
A bula papal termina com o desejo de que, neste Ano Jubilar, a Igreja se faça eco da Palavra de Deus “que ressoa, forte e convincente, como uma palavra e um gesto de perdão, apoio, ajuda, amor”. Acesse a íntegra da bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia no link: http://goo.gl/5Vgsib
O Jubileu
A celebração do Jubileu se origina no judaísmo. A cada 50 anos, os escravos eram libertados, restituíam-se as propriedades às pessoas que as haviam perdido, perdoavam-se as dívidas, as terras permaneciam sem cultivo para descansar. Era um ano de reconciliação, de perdão e de paz.
A Igreja católica deu ao jubileu judaico um significado mais espiritual. Consiste em um perdão geral, uma indulgência aberta a todos e uma possibilidade de renovar a relação com Deus e com o próximo. Assim, o Ano Santo é sempre uma oportunidade para aprofundar a fé e viver com renovado empenho o testemunho cristão.
A Igreja Católica iniciou a tradição do Ano Santo com o Papa Bonifácio VIII, em 1300. Ele planejou um jubileu por século. A partir de 1475, para possibilitar que cada geração vivesse pelo menos um Ano Santo, o jubileu ordinário passou a acontecer a cada 25 anos. Um jubileu extraordinário pode ser realizado em ocasião de um acontecimento de importância especial.
Paz, misericórdia e reconciliação
“Hoje, Bangui se transforma na capital espiritual do mundo. O Ano Santo da Misericórdia chega antes a esta terra, uma terra que há muitos anos sofre com a guerra, o ódio, a incompreensão, a falta de paz”, disse o Papa Francisco antes de abrir a Porta Santa - de madeira e vidro -, na Catedral de Nossa Senhora da Conceição de Bangui, na República Centro-Africana, na noite de 29 de novembro de 2015.
O gesto simbólico do Pontífice ocorreu durante a sua viagem apostólica à África e reforçou o apelo de paz do Papa Francisco por todos os países que sofrem com a guerra. “Nesta terra sofredora estão todos os países que viveram a cruz da guerra (...). Todos pedimos paz, misericórdia, reconciliação, perdão, amor. Por Bangui, por toda a República Centro-Africana e por todos os países que sofrem com a guerra, pedimos a paz!”, conclamou.
Em seguida, falando em idioma local, Francisco pediu a todos os fiéis para que repetissem com ele a seguinte oração: “Ndoye siriri (Todos juntos pedimos) amor e paz! E agora, com esta oração, começamos o Ano Santo aqui, nesta capital espiritual do mundo hoje”. O Pontífice então voltou-se à porta principal da catedral, abriu-a e, por alguns instantes, permaneceu com os braços abertos, enquanto dentro da igreja fiéis aplaudiam e se ajoelhavam.
Fontes: Rádio Vaticana, Vaticano News, Canção Nova, InfoANS, ACI Digital, Jubileu da Misericórdia.