"Myanmar tinha despertado para uma grande aurora de esperança em 2010", assim começa o bispo, citando os progressos realizados nos últimos anos com a democratização gradual - (...) Infelizmente, acontecimentos recentes têm levado medo e ansiedade às mentes do povo de Myanmar".
O cardeal refere-se ao chamado pacote de leis em defesa da raça e religião, promovido facções radicais fora do Parlamento. "Em agosto de 2015, enquanto milhares de nossos homens e mulheres no país estavam lutando contra inundações de proporções históricas, o Parlamento foi forçado por uma facção de uma elite religiosa a publicar quatro leis negras, praticamente rompendo o sonho de uma Birmânia unida".
Por isso, "mais uma vez Myanmar encontra-se em meio a uma encruzilhada entre a esperança e o desespero." Recordando a importância de aprender com a História, o cardeal Bo salienta que em lugares onde foram adotadas medidas semelhantes, sempre tiveram como resultado "guerras e ondas de refugiados"; enquanto a história da independência do país, liderada pelo general Aung San, com tropas de todos os grupos étnicos e religiões, convida para a unidade; e a tradição do budismo Theravada que padronizou o país, chama para o amor (Metta Bhavana), a compaixão universal (Karuna) e misericórdia para com todos (Metta).
A quem pede leis para evitar conversões, o cardeal pergunta se tem conhecimento das taxas de pobreza no país (30% do total, 70% nos estados Rakhine e Chin, nos quais é muito elevada a presença de minorias); a quem se preocupa com o crescimento da população de certos grupos étnico-religiosos, o prelado recordou a alta taxa de mortalidade infantil. A quem coloca restrições em casamentos mistos, o salesiano destaca os problemas do casamento infantil e outros flagelos que afligem os jovens: o tráfico de pessoas, drogas, subdesenvolvimento ...
"O povo de Myanmar, de todas as culturas e religiões, busca a paz e a prosperidade. Somente a paz pode trazer prosperidade. (...) Espero que o presidente e os partidos políticos desta grande nação tenham a visão e a coragem para resistir às políticas eleitorais míopes e os discursos nacionalistas exclusivistas", conclui o prelado.