Salesianos de Kafroun
(...) Durante todo o verão, a comunidade e o trabalho da obra de Kafroun foi dirigida pelo padre Luciano Buratti, missionário italiano, e pelo clérigo egípcio Gobràn, juntamente com o salesiano cooperador Johnny Ghazi e sua família. Estes últimos realizam toda a gestão das atividades da obra durante o ano. A área Kafroun foi, até agora, uma das mais silenciosas da Síria. Por este motivo, a nossa obra é frequentada tanto pelos jovens da região, como por muitos desabrigados, forçados a deixar suas casas por causa do perigo e destruição violenta em todo o país.
(...) Apesar de tanto sofrimento, destruição e morte, pude notar que a vontade de viver, de sentir alegria e esperança é cada vez mais forte e isso me encheu de alegria. As pessoas precisam e querem brincar, dançar, cantar, rezar, apesar das circunstâncias dramáticas levá-los a perguntar: "Onde está Deus? Por que Deus permite isso? Não basta todo o sangue que já foi derramado, toda essa destruição? Até quando ainda? Chega! Não aguento mais". Estas são perguntas sobre as quais procurei conversar com eles, falando sobre perdão, fé, esperança, mas não é fácil.
As pessoas estão cada vez mais cansadas, exaustas - moral, espiritual e materialmente falando. Todas as famílias, além da tragédia da destruição e da morte, agora vivem o drama da emigração, da fuga, da busca de uma vida melhor fora da Síria. (...) Eu tenho visto o sofrimento das pessoas que permanecem e a falta que sentem dos que partiram. (...) Este drama está mudando a fisionomia social do país em geral, mas também tem afetado muito a Igreja. A presença cristã, tão forte no passado, está enfraquecendo e se desintegrando, tanto em qualidade como em qualidade, dramaticamente.
A missa dominical foi um belo momento de meditação e comunhão. Cerca de 700 pessoas participaram, na presença de cristãos de diferentes ritos. Foi muito bom acolher todas essas pessoas, tão tocadas pela guerra que as levou a viver na dúvida e na incerteza em seu caminho de fé e para vê-las voltar a orar.
Em Aleppo
"A cada nova visita vejo uma cidade cada vez mais destruída. Esta grande cidade, uma das mais antigas do mundo, que até alguns anos atrás, contava com cerca de três milhões de habitantes, é atualmente considerada como um dos lugares mais perigosos do mundo". Com estas palavras, o padre Munir El Rai descreve Aleppo, sua cidade natal, que visitou no último mês de julho.
Assim que cheguei na casa salesiana, os salesianos e os jovens me acolheram com um espírito de alegria e otimismo cristão e salesiano. (...) Então, pude encontrar meus irmãos. Alegrei-me ao ver que, ainda hoje, nascem, desta obra, muitas vocações de salesianos consagrados e salesianos cooperadores. Agradeci aos salesianos de Aleppo pelo testemunho da vida religiosa e doação contínua realizada com grande sacrifício para a juventude de Aleppo. (...)
Foi em Aleppo que vivi um dos momentos mais emocionantes da minha vida, a ordenação de Pier Jabloyan, realizada no dia 11 de julho, em nossa igreja. (...) Apesar da morte, destruição e sofrimento que reinam na cidade, este foi um sinal precioso da vida, de doação e alegria. Um padre ordinário em um momento extraordinário: assim é Pier, um jovem criado no oratório, que após a ordenação, será destinado ao mesmo oratório de Aleppo.
Ainda em Aleppo, tomei parte nas atividades de verão dos jovens, maravilhosamente organizado e administrado. Este ano, a iniciativa contou com a participação de mais de 700 crianças e jovens de várias partes da cidade, aos quais foi oferecido um serviço de baldeação para poder alcançar a obra em segurança. Para eles, e para suas famílias, frequentar a obra significa respirar um ar de alegria e de esperança em um ambiente familiar: "Ghèr ‘alam", ou seja, (literalmente) "um outro mundo", um oásis de paz.
(...) Este ano, depois de quatro anos, a comunidade salesiana decidiu reorganizar os acampamentos de verão para as crianças e jovens que frequentam a obra. Após quatro anos de "cativeiro" dentro da cidade, 180 crianças do Ensino Fundamental e 140 estudantes do Ensino Médio, acompanhados por vários animadores e colaboradores puderam, finalmente reviver esta experiência. Eles passaram cinco dias nas montanhas, na obra de Kafroun. Pela primeira vez, eles puderam dormir sem sentir o perigo de guerra e viver juntos como uma grande família, compartilhando momentos de alegria e oração.
Aleppo, que contava com uma grande presença de cristãos de vários ritos e igrejas, tem assistido a um declínio contínuo dessas presenças, reduzidas a dois terços. Esta “hemorragia de cristãos” é consequência da extensão do conflito, das condições sócio- econômicas e o alta custo de vida, seja pela falta de oportunidades de trabalho e de gêneros de primeira necessidades, seja também, em terceiro lugar, para a destruição de bairros cristãos.
(...) A falta de água corrente e eletricidade obriga as pessoas a sobreviver com quantidades reduzidas de água, principalmente a potável, com graves consequências em termos de condições de saúde. Elas também têm de lidar com a escassez de eletricidade, dificultando a realização da maioria das atividades básicas diárias.
InfoANS