Nos aeroportos pelos quais passei, era impossível não se deparar com um denominador comum: o Ebola. Cartazes, controles específicos a todos os que vêm da África Ocidental, a desinfecção obrigatória das mãos antes de apresentar os documentos. Se o vírus não está presente na maioria dos países, com certeza o medo está presente.
Recentemente, o Exmo Maite Nkoana-Mashabane, ministro dos Negócios Estrangeiros da África do Sul, que atualmente é o presidente da União dos Países Africanos, apelou aos governos para que se unam com a máxima prudência e a máxima cooperação. Equilíbrio difícil: a tendência a trancar-se em casa e alçar as pontes levadiças em âmbito internacional responde ao imperativo de não entrar na lista de países afetados, nem mesmo por uma pessoa infectada sequer em seu território.
Mas se isso significa isolar completamente os que já se encontram em extremas dificuldades, por uma emergência que já seria difícil para qualquer país, o risco é que países como a Libéria, Serra Leoa e Guiné afundem em uma espiral de crise geral, econômica, social e política, até o fim. E isso seria uma perda para todos nós, para toda a África, para todo o mundo. O vírus não precisa exibir um passaporte para viajar de uma fronteira para outra e, se a situação global se tornar incontrolável, não haverá mais fronteiras que o contenham.
Quando nos escondemos na defensiva, nos tornamos indiferentes ao vizinho que morre perto de nós e o efeito bumerangue não tarda a chegar. Sempre foi assim. A diferença é que, nesta crise, as consequências de uma "não-ação" seriam muito mais pesadas e mais abrangentes do que as de outras crises do passado.
De Monrovia, Josephat, o líder do grupo "Domingos Sávio & Dom Bosco" avisa que hoje a situação é tal, que o governo e a FIFA (Federação Internacional de Futebol ) estão pensando em usar um de seus estádios como centro de isolamento para pacientes afetados, uma vez que nõ há mais leitos disponíveis nos hospitais. Faltam pelo menos 1.000 leitos".
Parece que a Organização das Nações Unidas (ONU) assumirá a responsabilidade direta pela gestão dos cuidados de saúde de emergência em Monrovia, como também reativará algumas de suas aeronaves e algumas das conexões entre a Capital, Monróvia, e os países vizinhos (outras companhias aéreas interromperam seus voos). Este é certamente um sinal positivo. Como também é positivo o fato de que, se houver uma assistência sanitária adequada desde os primeiros sintomas da doença, além de uma boa nutrição, a possibilidade de cura pode chegar a até 50% (contra os 90% de "inevitabilidade" que se registrava no início).
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