Desde os tempos do fundador, Dom Bosco, os oratórios se caracterizam como espaços socioeducativos abertos, nos quais crianças e adolescentes podem participar com alegria, especialmente nos finais de semana, de práticas esportivas, brincadeiras, momentos de oração e celebrações. Os oratórios promovem o intercâmbio cultural e social, propiciam momentos de lazer e sociabilidade sadia para jovens muitas vezes excluídos de qualquer outra oportunidade para tal, envolvem a comunidade local e voluntários externos, integram educadores leigos e religiosos. São, assim, uma das expressões mais fortes da proposta educativa e pastoral salesiana.
Mas como foi possível manter viva a proposta do oratório diante das restrições ao convívio social, provocadas pela pandemia da Covid-19? Tanto no Brasil como em outros países, a Família Salesiana mostrou, com criatividade e empenho, que o espírito oratoriano está no coração, e não em um espaço físico determinado.
Oratório em casa
O Centro Local dos Salesianos Cooperadores Santa Teresinha, na capital paulista, se reinventou para continuar perto dos jovens atendidos e criou o Oratório em Casa.
Tudo começou, em março de 2020, com a entrega de cestas básicas às famílias dos assistidos que sentiram mais fortemente o impacto financeiro da pandemia. Mas logo os participantes perceberam que não se vive somente do pão que alimenta o corpo e que é preciso também alimentar a alma. Assim, em agosto de 2020, mês de Dom Bosco, os voluntários entregaram junto com as cestas um livro de colorir narrando a história do fundador dos salesianos. Desde então, o projeto do Oratório em Casa se expandiu e já propôs várias ações que unem diversão e fé, como o desenvolvimento de pequenos vídeos nos quais os participantes partilhavam a interpretação de trechos bíblicos, por meio de desenhos, encenação e leitura; a confecção de brinquedos a partir de material reciclável; e a construção coletiva de uma Via-Sacra, entre outras.
Para que as ações tivessem ainda mais a cara da juventude, os Salesianos Cooperadores contaram com o apoio do Grupo de Animação Missionária (GAM), que atuou em diversas frentes, ajudando desde o contato com os assistidos até a elaboração de vídeos dinâmicos e explicativos. Assim, por meio do Oratório em Casa, o Centro Local Santa Teresinha procurou criar pontes que superassem os muros da indiferença e do individualismo, como demonstram os vídeos-testemunhos que você pode assistir no final desta reportagem.
De longe ou de perto
Outros exemplos de como os oratórios se adaptaram para continuar acompanhando os jovens podem ser vistos em todas as regiões do país. No Oratório Diário Madre Madalena Morano, em Barbacena, MG, as ações e metas planejadas em 2020 foram adequadas e, durante o período de isolamento social, o envolvimento de crianças, adolescentes e suas famílias aconteceu por meio das redes sociais. WhatsApp, Instagram, Facebook, Google Meet e outras plataformas se tornaram pátios virtuais de encontro e desenvolvimento de atividades.
Em Primavera do Leste, MT, o Centro Social Dom Bosco transformou em vídeoaulas as atividades de capoeira, dança, violão/coral e informática, entre outras oficinas oferecidas pela obra social, para que os educandos conseguissem acompanhar as aulas de forma remota. Também foram implementadas outras ações, como concurso de poesia, atividades de motivação e orientações de segurança.
Já o Centro Juvenil Dom Bosco, em Fortaleza, CE, encontrou novas formas de manter o acompanhamento e apoio aos atendidos e seus familiares com ações que vão do “Lanche Solidário”, uma atividade que representa a atenção e o cuidado com as crianças ao mesmo tempo em que oferece complemento alimentar às famílias que estão em situação de vulnerabilidade social, até as lives de formação e incentivo aos educadores.
Em todo o mundo
E não é só no Brasil que a Família Salesiana se desdobrou para manter os oratórios em atividade, mas em todos os países nos quais está presente o espírito salesiano de educar e evangelizar com alegria. Um dos exemplos mais emblemáticos da força que têm os oratórios salesianos para o bem da juventude aconteceu na Índia, onde cinco meninos de uma favela nas proximidades de Mumbai sentiram tão intensamente a necessidade de retomar as atividades oratorianas que criaram o E-Oratório. A iniciativa online hoje é “frequentada” diariamente por cerca de 250 crianças e adolescentes, mesmo morando a quilômetros de distância uns dos outros.
O grupo inicial frequentava o oratório salesiano de Navi Mumbai que, assim como todas as escolas e centros juvenis da região, foi fechado durante meses por causa da pandemia. Em uma das ações de distribuição de alimentos a famílias carentes, feita por voluntários salesianos, as crianças pediram que enviassem para elas alguns vídeos e sugestões de atividades, no que foram logo atendidas. Os garotos pegaram emprestado o celular de um dos pais para realizar as atividades, que incluíam a gravação de vídeos, danças e brincadeiras. Ao verem como os pequenos se divertiam, alguns vizinhos se interessaram em participar também.
“Na medida em que o número de crianças e grupos aumentava, contamos com a ajuda de um grupo fixo de voluntários. Atualmente, a equipe organiza regularmente atividades recreativas e programas de aprendizagem. Eles contam histórias, ensinam Matemática, Gramática, Desenho, Yoga e Dança. Também oferecem oficinas digitais de artesanato e origami, falam às crianças sobre seus direitos, ensinam boas maneiras e animam concursos e competições”, conta um dos salesianos participantes.
A pandemia da Covid-19 atingiu todos os países, trazendo grandes desafios para o atendimento da população mais vulnerável. Na Eslováquia, uma realidade diferente da encontrada na Índia, os Salesianos e as Filhas de Maria Auxiliadora se uniram em diversas iniciativas digitais para ajudar os jovens a viver este período difícil. Uma delas foi a criação do #oratkoonline, em março de 2020. A iniciativa, realizada através do Facebook e do Instagram, conta com o apoio dos voluntários do Movimento Juvenil Salesiano.
Pelas redes sociais são transmitidas a oração da manhã, o pensamento bíblico na hora do almoço, a ‘boa noite’ e a exibição direta da celebração eucarística. Nos períodos da tarde ainda ocorrem discussões animadas por voluntários, salesianos e pelo bispo sobre diversos temas como: saúde, respeito das normas ministeriais, o ‘ficar em casa’, a oração… Além disso, também são transmitidas as atividades do Clube de Futebol “SDM Domino”, que veicula instruções para as atividades físicas.
Assim, citamos aqui alguns, entre muitos projetos que mantêm viva a ideia original de Dom Bosco, de que atender às crianças e aos jovens mais vulneráveis socialmente vai além da ajuda material. Retomando a questão do início deste texto, as restrições ao convívio social provocadas pela pandemia da Covid-19 foram superadas pelos oratórios salesianos porque eles não são apenas espaços físicos, mas sim uma proposta educativa e pastoral que está no cerne da Família Salesiana.
A experiência do Oratório em Casa
A Salesiana Cooperadora Maria de Fátima G. C. Sanchez e o jovem Cleverson Alves Rocha falam sobre como tem sido a experiência do Oratório em Casa, promovida pelo Centro Local dos Salesianos Cooperadores Santa Teresinha, em São Paulo.
SC Maria de Fátima G. C. Sanchez
Cleverson Alves Rocha