“Se tenho uma pessoa doente em família e preciso gastar para cuidar dela, não orientarei todos os meus recursos para cuidar desse meu familiar? Não quero banalizar, mas neste momento de mudança epocal devemos saber para onde encaminhar os recursos”. Com expressões muito claras, fruto de sua vasta competência acadêmica e profissional sobre economia, a irmã Alessandra Smerilli, Filha de Maria Auxiliadora, indicou em coletiva de imprensa, realizada no Vaticano, em 7 de julho, quais são as prioridades que se devem enfrentar no pós-pandemia.
Em 20 de março, o Papa Francisco pediu ao Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (DSSUI, em italiano) que formasse uma comissão para exprimir a atenção da Igreja pela humanidade diante da Covid-19, sobretudo, mediante a reflexão acerca dos desafios futuros nos âmbitos socioeconômicos e culturais e apresentassem propostas sobre como enfrentá-los.
A religiosa salesiana é coordenadora da Task Force ‘Economia’, criada dentro do segundo grupo de trabalho da comissão vaticana, intitulada “Olhar para o futuro com criatividade”.
Foi exatamente para dar sequência a essa solicitação que na conferência de imprensa – intitulada “Preparar o futuro –, construir a paz durante a Covid-19”, a irmã Smerilli falou junto com o cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, prefeito do DSSUI e presidente da Comissão Vaticana para a Covid-19, e com Alessio Pecorario, coordenador da Task-force Segurança, ilustrando propostas ousadas, mas possíveis.
Em primeiro lugar, procedeu a uma lúcida análise sobre a Covid-19 e os seus efeitos: “A pandemia tem revelado as nossas fragilidades… Provocou um aumento dramático de suprimentos médicos essenciais… Revelou as verdadeiras proporções da nossa interconexão… A recessão econômica que está atravessando, e que atravessará todo o mundo, provocará desorientação nos milhões e milhões de lugares de trabalho. A crise econômica e social poderia atingir dimensões desastrosas”.
Por isso evidenciou: “soluções existem, mas requerem capacidade de visão, coragem e colaboração internacional... O Papa Francisco nos pediu soluções criativas. E então nos perguntamos: se ao invés de uma corrida às armas, fizéssemos uma corrida à segurança alimentar, sanitária e laboral?… Tem sentido continuar a fazer maciços investimentos em armas, se depois as vidas humanas não podem ser salvas, porque faltam estruturas sanitárias e cuidados adequados?”.
A irmã Smerilli não ignora que o tema é mais complexo do que parece. A corrida às armas só se explica ou por medo dos Estados ou por querer ser o primeiro, continuando a aumentar os próprios arsenais militares.
“Entretanto… tal tipo de corrida se detém por vontade coletiva de autolimitação. Temos necessidade de líderes corajosos que demonstrem acreditar no bem comum, que se empenhem por garantir aquilo de que hoje há maior necessidade. Há que haver um pacto coletivo para orientar os recursos para a segurança na saúde e visando o bem-estar”.