Santo Artêmides Zatti: Um anjo se tornou enfermeiro Destaque

Quarta, 02 Novembro 2022 12:07 Escrito por  BS Itália - Tradução: Pe. Geraldo Martins Lisboa, SDB
Santo Artêmides Zatti: Um anjo se tornou enfermeiro Nino Musio
Em 13 de novembro, a Igreja celebra a memória de Santo Artêmides Zatti, Salesiano Irmão e enfermeiro que dedicou sua vida ao cuidado com os doentes, especialmente os mais pobres e desamparados. Conheça a história desse santo!  

Dom Bosco foi para Deus em 1888. Um ano depois, em Boretto di Reggio Emilia, Itália, um menino de 9 anos começa a trabalhar. Não sabe quem é Dom Bosco, mas um dia, na Argentina, chamá-lo-ão o “Dom Bosco dos pobres”. E agora, sem saber. Renova a dura experiência de Joãozinho Bosco no sítio dos Moglia. Numa vasta feitoria agrícola é o “criado” aprendiz. Levantar às três horas da manhã, uma porção de polenta para comer e acordar totalmente, e depois ao campo. “Rapaz trabalhador” até os 16 anos, com o dia de sol a sol, rosto magro, o medo de acabar como tantos trabalhadores mortos aos vinte anos de pelagra ou de malária.

 

Chama-se Artêmides Zatti, aquele rapaz, e quando volta à família ouve que papai e mamãe falam em partir para a América. Há um tio emigrado para Bahia Blanca, na Argentina, que escreve dizendo que lá quem tem vontade de trabalhar pode viver bem. Na Itália, pelo contrário, naqueles anos, um trabalhador braçal tinha poucas possibilidades de viver: há a crise agrícola, o desemprego, o latifúndio, a miséria que abate os camponeses como espigas.

 

Em 1897 (Artêmides já tem 17 anos) os Zatti partem. Bahia Blanca, como toda a Argentina, naqueles anos, está cheia de italianos emigrantes, que trabalham duramente e em silêncio. O tio os espera, e ajuda o pai a montar uma barraca no mercado. Artêmides trabalha fabricando tijolos.

 

A vida de Dom Bosco e uma ideia

Havia muitos anticlericais em Bahia Blanca, mas os Zatti aos domingos estão todos na igreja. A igreja era mantida pelos Salesianos de Dom Bosco, que eram missionários chegados à Argentina, 22 anos antes. O pároco se chamava Carlos Cavalli, e Artêmides lhe deu uma ajuda para ter em ordem a igreja, acompanhando-o na visita aos doentes, quando não estava ocupado com a fábrica de tijolos. Padre Carlos lhe colocou nas mãos a Vida de Dom Bosco, e Artêmides a leu de uma só vez. E veio-lhe à cabeça uma ideia: “E se eu também me fizesse salesiano?”.

 

Já tem 19 anos, e fala com seu pai. O bravo homem o abraça: “Já és grande, podes decidir a tua vida. Mas, pensa bem, porque se começas um caminho deves ir até o fim”.

 

As casas salesianas na Argentina já eram numerosas e espalhadas. Aquela que reunia os jovens que queriam preparar-se para a vida salesiana estava em Bernal, próximo de Buenos Aires.

 

A Bernal chegou um jovem salesiano doente com tuberculose. E Artêmides se oferece para cuidar dele, dando-lhe assistência. O salesiano, consumido pela tuberculose, faleceu. Artêmides, 22 anos, é acometido por uma tosse insistente e atacado por uma febre que o acometia todos os dias, pela tarde. Foi visitado por um médico que diagnostica tuberculose e pergunta aos superiores: “Os senhores têm uma casa nos Andes, com ar suave e oxigenado? Pois bem, se quiserem salvá-lo, mandem-no para lá”.

 

Para chegar à casa, Artêmides deve empreender uma viagem de 600 quilômetros para voltar a Bahia Blanca, e daí enfrentar uma segunda viagem em direção ao leste de 700 quilômetros. Uma viagem que poderia arrasá-lo. Os primeiros 600 quilômetros, que Zatti viajou num duro assento de terceira classe, levaram-no à casa e à paróquia salesiana.

 

Estava extenuado. Padre Carlos escreveu imediatamente aos Superiores, e depois de pouquíssimos dias anunciou à família: “Artêmides não irá para os Andes, mas para a casa salesiana de Viedma. Ali há um bom ar e um ótimo médico. Ele vai sarar. Os recursos para a viagem estão aqui”.

 

Em Viedma surgiu a única obra salesiana dotada de um hospital e de uma farmácia. Os missionários tiveram que construí-la havia catorze anos. A cidade era um amontoado de pobres barracas onde se ajuntavam aventureiros, indígenas, soldados. Qualquer doença podia ser mortal, porque faltavam também os remédios mais elementares.

 

Um padre salesiano, Evasio Garrone, tinha sido enfermeiro no exército italiano, e Dom Cagliero o encarregou de montar uma farmácia. Ele fez também o papel de médico e, na farmácia, começou uma estranha contabilidade: os ricos pagavam os remédios a um preço dobrado e os pobres não pagavam nada. Ao lado da farmácia havia uma cavalariça. Foi limpa, desinfetada, fornecida de uma cama e um colchão. Surgiu assim também o hospital para os doentes que não podiam se curar em suas casas.

 

Não padre, mas “médico”

Março de 1902. Artêmides chega a Viedma e escreve à sua mãe: “Com grande alegria encontrei os meus caros irmãos salesianos. Quanto à saúde, me visitou o médico padre Garrone, e me garantiu que dentro de um mês estarei curado”. Na realidade a cura da enfermidade não durou um mês, mas dois anos.

 

Em 1908, aos 28 anos de idade, Artêmides faz os seus votos definitivos: é salesiano para sempre. Depois de consultar os superiores, decidiu deixar os estudos para o sacerdócio e se dedicar à ajuda ao padre Garrone.

 

No dia 8 de janeiro de 1911, padre Garrone faleceu. De repente, Artêmides Zatti se encontra sozinho na direção da “Farmácia de S. Francisco” e do “Hospital de S. José”. Para estar em dia diante da lei, o superior salesiano recebe um médico formado que se torna responsável legal frente às autoridades. Mas na realidade o médico de todos é ele, Artêmides Zatti, com os estudos escassos, mas com muito amor por todos os doentes.

 

Em 1913, os desejos de Artêmides começam a realizar-se: é lançada a pedra fundamental de um novo hospital. Por enquanto se construiria somente o andar térreo; assim que o dinheiro foi chegando, depois se construiu o segundo andar. As paredes são sólidas e seguras.

 

A fadiga maior é sempre a de aplicar junto o dinheiro necessário para que o hospital e a farmácia continuem com a costumada gestão: quem tem, paga; quem não tem, não paga. Quando as contas estão em vermelho, Zatti monta na bicicleta, põe um chapéu na cabeça e sai para procurar esmola. Bate às portas das raras casas dos ricos: “Dom Pedro, poderia emprestar cinquenta mil pesos ao Senhor?”.

 

“Ao Senhor?”, pergunta admirado o homem rico. “Sim, dom Pedro. O Senhor disse que tudo o que fizermos aos doentes, estaremos fazendo a Ele. É um bom negócio emprestar ao Senhor”.

 

O Banco Nacional tinha aberto uma agência em Viedma, e destina a Zatti a conta corrente n. 226. Artêmides gasta o que tem e o que não tem. E um dia o banco manda chamá-lo. Há uma conta grande para saldar já, do contrário, acabarão os recursos para garantir o hospital. Zatti fica ali, diante do presidente do banco, assustado. Chora, suplica e não sabe o que fazer. Não tem mais dinheiro. A única coisa que tem são outros débitos.

 

Alguém do banco telefonou para o bispo, dom Esandi. O bispo resmunga, diz que de um jeito ou de outro providenciará. Chama o seu vigário: “Estão me telefonando que Zatti está no banco e chora porque tem que pagar uma grande quantia descoberta. Sempre a mesma coisa! Temos alguma coisa em caixa?”.

 

“O dinheiro para imprimir o próximo número do jornal diocesano”.

 

“Leva-o depressa ao presidente do banco e salva aquele pobre homem”.

 

Com pesar, Artêmides Zatti deve admitir que os bancos não “emprestam nada ao Senhor”. Fazem negócios e basta. Mas, como cristão obstinado, conclui: “Eles é que erram, não eu”. E continuou assim.

 

Chegou ao hospital um pobretão coberto de lacerações, foi cuidado e curado, mas não pôde voltar sendo atacado novamente pelas feridas. Zatti vai a uma família: “Não tendes uma roupa para emprestar ao Senhor?”. Trazem uma roupa muito usada. E ele: “Não tendes uma mais bonita? Ao Senhor devemos dar o melhor que temos”.

 

Chegou um índio sujo e aleijado. Zatti gritou para a enfermeira: “Irmã, prepara um leito para o Senhor”. E quando chegou um menininho faminto e ferido, perguntou à irmã: “Há uma sopa quente e uma roupa para um Jesus de dez anos?”.

 

Diante do hospital apareceu uma farmácia verdadeira, com um farmacêutico diplomado. Por lei, a farmácia do Hospital dever-se-ia fechar. Mas Zatti sabe que na nova farmácia todos deverão pagar tudo. Os pobres assim não terão medicamento. Ele combina com os superiores, passa dias e noites por testes de farmácia, e vai a La Plata para prestar os exames necessários. Ele volta fornecido também de diploma regular. E a farmácia do Hospital pôde continuar tranquila o seu serviço aos pobres. Disseram-lhe muitas vezes que tinha lucro dobrado, e ele respondeu: “Mas eu já tenho. No bolso direito ponho o dinheiro que recebo, e no esquerdo as contas a pagar. Mais lucro dobrado assim”.

 

E olhou para o alto

19 de julho de 1950. A caixa d’água tem um estrago. Debaixo de chuva, Artêmides Zatti (70 anos) subiu numa longa escada para consertar. Um pé escorregou, a escada inclinou. Uma queda grave, a cabeça ferida, todo o corpo esmagado. Tentou dizer: “Não é nada”, mas ele mesmo sabe que não é verdadeiro.

 

Os velhos móveis parecem sólidos e eternos. Mas se caem, mesmo que seja uma vez, se tornam uma chiadeira. E Zatti sente de repente que se tinha tornado velho e doente. Sente uma dor insistente do lado esquerdo, distúrbios contínuos. Sabe bastante de medicina para dizer: “É um tumor no pâncreas. Não vos preocupeis, porque não preciso de nenhum remédio”.

 

Alguém o surpreendeu chorando em silêncio, e subitamente esconde as lágrimas como uma culpa. “Sofre?”, perguntaram-lhe. E ele: “Não é isto. É que sou ferro velho, já inútil”.

 

Pediu a Unção dos Enfermos, renovou os votos batismais e os votos religiosos. A quem perguntava “Como vai?”, respondia de uma maneira estranha: “Para cima”. E olhava para o alto.

 

O Senhor veio buscá-lo no dia 15 de março de 1951. Aquele Senhor ao qual Artêmides Zatti não tinha emprestado a vida; tinha-a dado.

 

Hoje a Igreja universal o honra como santo. 

 

Publicado originalmente no Bollettino Salesiano Itália, em maio de 2022.

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Última modificação em Quarta, 13 Novembro 2024 13:32

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Quarta, 02 Novembro 2022 12:07 Escrito por  BS Itália - Tradução: Pe. Geraldo Martins Lisboa, SDB
Santo Artêmides Zatti: Um anjo se tornou enfermeiro Nino Musio
Em 13 de novembro, a Igreja celebra a memória de Santo Artêmides Zatti, Salesiano Irmão e enfermeiro que dedicou sua vida ao cuidado com os doentes, especialmente os mais pobres e desamparados. Conheça a história desse santo!  

Dom Bosco foi para Deus em 1888. Um ano depois, em Boretto di Reggio Emilia, Itália, um menino de 9 anos começa a trabalhar. Não sabe quem é Dom Bosco, mas um dia, na Argentina, chamá-lo-ão o “Dom Bosco dos pobres”. E agora, sem saber. Renova a dura experiência de Joãozinho Bosco no sítio dos Moglia. Numa vasta feitoria agrícola é o “criado” aprendiz. Levantar às três horas da manhã, uma porção de polenta para comer e acordar totalmente, e depois ao campo. “Rapaz trabalhador” até os 16 anos, com o dia de sol a sol, rosto magro, o medo de acabar como tantos trabalhadores mortos aos vinte anos de pelagra ou de malária.

 

Chama-se Artêmides Zatti, aquele rapaz, e quando volta à família ouve que papai e mamãe falam em partir para a América. Há um tio emigrado para Bahia Blanca, na Argentina, que escreve dizendo que lá quem tem vontade de trabalhar pode viver bem. Na Itália, pelo contrário, naqueles anos, um trabalhador braçal tinha poucas possibilidades de viver: há a crise agrícola, o desemprego, o latifúndio, a miséria que abate os camponeses como espigas.

 

Em 1897 (Artêmides já tem 17 anos) os Zatti partem. Bahia Blanca, como toda a Argentina, naqueles anos, está cheia de italianos emigrantes, que trabalham duramente e em silêncio. O tio os espera, e ajuda o pai a montar uma barraca no mercado. Artêmides trabalha fabricando tijolos.

 

A vida de Dom Bosco e uma ideia

Havia muitos anticlericais em Bahia Blanca, mas os Zatti aos domingos estão todos na igreja. A igreja era mantida pelos Salesianos de Dom Bosco, que eram missionários chegados à Argentina, 22 anos antes. O pároco se chamava Carlos Cavalli, e Artêmides lhe deu uma ajuda para ter em ordem a igreja, acompanhando-o na visita aos doentes, quando não estava ocupado com a fábrica de tijolos. Padre Carlos lhe colocou nas mãos a Vida de Dom Bosco, e Artêmides a leu de uma só vez. E veio-lhe à cabeça uma ideia: “E se eu também me fizesse salesiano?”.

 

Já tem 19 anos, e fala com seu pai. O bravo homem o abraça: “Já és grande, podes decidir a tua vida. Mas, pensa bem, porque se começas um caminho deves ir até o fim”.

 

As casas salesianas na Argentina já eram numerosas e espalhadas. Aquela que reunia os jovens que queriam preparar-se para a vida salesiana estava em Bernal, próximo de Buenos Aires.

 

A Bernal chegou um jovem salesiano doente com tuberculose. E Artêmides se oferece para cuidar dele, dando-lhe assistência. O salesiano, consumido pela tuberculose, faleceu. Artêmides, 22 anos, é acometido por uma tosse insistente e atacado por uma febre que o acometia todos os dias, pela tarde. Foi visitado por um médico que diagnostica tuberculose e pergunta aos superiores: “Os senhores têm uma casa nos Andes, com ar suave e oxigenado? Pois bem, se quiserem salvá-lo, mandem-no para lá”.

 

Para chegar à casa, Artêmides deve empreender uma viagem de 600 quilômetros para voltar a Bahia Blanca, e daí enfrentar uma segunda viagem em direção ao leste de 700 quilômetros. Uma viagem que poderia arrasá-lo. Os primeiros 600 quilômetros, que Zatti viajou num duro assento de terceira classe, levaram-no à casa e à paróquia salesiana.

 

Estava extenuado. Padre Carlos escreveu imediatamente aos Superiores, e depois de pouquíssimos dias anunciou à família: “Artêmides não irá para os Andes, mas para a casa salesiana de Viedma. Ali há um bom ar e um ótimo médico. Ele vai sarar. Os recursos para a viagem estão aqui”.

 

Em Viedma surgiu a única obra salesiana dotada de um hospital e de uma farmácia. Os missionários tiveram que construí-la havia catorze anos. A cidade era um amontoado de pobres barracas onde se ajuntavam aventureiros, indígenas, soldados. Qualquer doença podia ser mortal, porque faltavam também os remédios mais elementares.

 

Um padre salesiano, Evasio Garrone, tinha sido enfermeiro no exército italiano, e Dom Cagliero o encarregou de montar uma farmácia. Ele fez também o papel de médico e, na farmácia, começou uma estranha contabilidade: os ricos pagavam os remédios a um preço dobrado e os pobres não pagavam nada. Ao lado da farmácia havia uma cavalariça. Foi limpa, desinfetada, fornecida de uma cama e um colchão. Surgiu assim também o hospital para os doentes que não podiam se curar em suas casas.

 

Não padre, mas “médico”

Março de 1902. Artêmides chega a Viedma e escreve à sua mãe: “Com grande alegria encontrei os meus caros irmãos salesianos. Quanto à saúde, me visitou o médico padre Garrone, e me garantiu que dentro de um mês estarei curado”. Na realidade a cura da enfermidade não durou um mês, mas dois anos.

 

Em 1908, aos 28 anos de idade, Artêmides faz os seus votos definitivos: é salesiano para sempre. Depois de consultar os superiores, decidiu deixar os estudos para o sacerdócio e se dedicar à ajuda ao padre Garrone.

 

No dia 8 de janeiro de 1911, padre Garrone faleceu. De repente, Artêmides Zatti se encontra sozinho na direção da “Farmácia de S. Francisco” e do “Hospital de S. José”. Para estar em dia diante da lei, o superior salesiano recebe um médico formado que se torna responsável legal frente às autoridades. Mas na realidade o médico de todos é ele, Artêmides Zatti, com os estudos escassos, mas com muito amor por todos os doentes.

 

Em 1913, os desejos de Artêmides começam a realizar-se: é lançada a pedra fundamental de um novo hospital. Por enquanto se construiria somente o andar térreo; assim que o dinheiro foi chegando, depois se construiu o segundo andar. As paredes são sólidas e seguras.

 

A fadiga maior é sempre a de aplicar junto o dinheiro necessário para que o hospital e a farmácia continuem com a costumada gestão: quem tem, paga; quem não tem, não paga. Quando as contas estão em vermelho, Zatti monta na bicicleta, põe um chapéu na cabeça e sai para procurar esmola. Bate às portas das raras casas dos ricos: “Dom Pedro, poderia emprestar cinquenta mil pesos ao Senhor?”.

 

“Ao Senhor?”, pergunta admirado o homem rico. “Sim, dom Pedro. O Senhor disse que tudo o que fizermos aos doentes, estaremos fazendo a Ele. É um bom negócio emprestar ao Senhor”.

 

O Banco Nacional tinha aberto uma agência em Viedma, e destina a Zatti a conta corrente n. 226. Artêmides gasta o que tem e o que não tem. E um dia o banco manda chamá-lo. Há uma conta grande para saldar já, do contrário, acabarão os recursos para garantir o hospital. Zatti fica ali, diante do presidente do banco, assustado. Chora, suplica e não sabe o que fazer. Não tem mais dinheiro. A única coisa que tem são outros débitos.

 

Alguém do banco telefonou para o bispo, dom Esandi. O bispo resmunga, diz que de um jeito ou de outro providenciará. Chama o seu vigário: “Estão me telefonando que Zatti está no banco e chora porque tem que pagar uma grande quantia descoberta. Sempre a mesma coisa! Temos alguma coisa em caixa?”.

 

“O dinheiro para imprimir o próximo número do jornal diocesano”.

 

“Leva-o depressa ao presidente do banco e salva aquele pobre homem”.

 

Com pesar, Artêmides Zatti deve admitir que os bancos não “emprestam nada ao Senhor”. Fazem negócios e basta. Mas, como cristão obstinado, conclui: “Eles é que erram, não eu”. E continuou assim.

 

Chegou ao hospital um pobretão coberto de lacerações, foi cuidado e curado, mas não pôde voltar sendo atacado novamente pelas feridas. Zatti vai a uma família: “Não tendes uma roupa para emprestar ao Senhor?”. Trazem uma roupa muito usada. E ele: “Não tendes uma mais bonita? Ao Senhor devemos dar o melhor que temos”.

 

Chegou um índio sujo e aleijado. Zatti gritou para a enfermeira: “Irmã, prepara um leito para o Senhor”. E quando chegou um menininho faminto e ferido, perguntou à irmã: “Há uma sopa quente e uma roupa para um Jesus de dez anos?”.

 

Diante do hospital apareceu uma farmácia verdadeira, com um farmacêutico diplomado. Por lei, a farmácia do Hospital dever-se-ia fechar. Mas Zatti sabe que na nova farmácia todos deverão pagar tudo. Os pobres assim não terão medicamento. Ele combina com os superiores, passa dias e noites por testes de farmácia, e vai a La Plata para prestar os exames necessários. Ele volta fornecido também de diploma regular. E a farmácia do Hospital pôde continuar tranquila o seu serviço aos pobres. Disseram-lhe muitas vezes que tinha lucro dobrado, e ele respondeu: “Mas eu já tenho. No bolso direito ponho o dinheiro que recebo, e no esquerdo as contas a pagar. Mais lucro dobrado assim”.

 

E olhou para o alto

19 de julho de 1950. A caixa d’água tem um estrago. Debaixo de chuva, Artêmides Zatti (70 anos) subiu numa longa escada para consertar. Um pé escorregou, a escada inclinou. Uma queda grave, a cabeça ferida, todo o corpo esmagado. Tentou dizer: “Não é nada”, mas ele mesmo sabe que não é verdadeiro.

 

Os velhos móveis parecem sólidos e eternos. Mas se caem, mesmo que seja uma vez, se tornam uma chiadeira. E Zatti sente de repente que se tinha tornado velho e doente. Sente uma dor insistente do lado esquerdo, distúrbios contínuos. Sabe bastante de medicina para dizer: “É um tumor no pâncreas. Não vos preocupeis, porque não preciso de nenhum remédio”.

 

Alguém o surpreendeu chorando em silêncio, e subitamente esconde as lágrimas como uma culpa. “Sofre?”, perguntaram-lhe. E ele: “Não é isto. É que sou ferro velho, já inútil”.

 

Pediu a Unção dos Enfermos, renovou os votos batismais e os votos religiosos. A quem perguntava “Como vai?”, respondia de uma maneira estranha: “Para cima”. E olhava para o alto.

 

O Senhor veio buscá-lo no dia 15 de março de 1951. Aquele Senhor ao qual Artêmides Zatti não tinha emprestado a vida; tinha-a dado.

 

Hoje a Igreja universal o honra como santo. 

 

Publicado originalmente no Bollettino Salesiano Itália, em maio de 2022.

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