Muitos dos primeiros salesianos foram acompanhados de perto por Mamãe Margarida, que demonstrou total disponibilidade à vontade do Senhor ao se fazer presença materna no Oratório de Dom Bosco. Além do mais, se hoje acreditamos, como Dom Bosco, que a educação é “coisa do coração”, é porque ele experimentou esta verdade em sua família, com sua mãe: “Margarida tornou-se dona da vontade dos filhos e depois dos netos, de tal maneira que bastava uma palavra para ser obedecida prontamente e com amor indizível”, afirma Lemoyne, no livro Escenas morales de familia.
A profunda relação entre mãe e filho teve um papel determinante na vida de João Bosco. Ele foi acompanhado pelas palavras e pelo exemplo de Mamãe Margarida, pela confiança construída através da relação com ela e através de orientações diversas e constantes, sobretudo para que buscasse sempre a vontade de Deus na própria vida. Aldo Fantozzi apresenta uma descrição inspiradora de Mamãe Margarida, principalmente para aquelas pessoas que acompanham, de tantas formas, a vida das juventudes: “Mulher de consciência reta, nobre nos seus afetos, nos seus pensamentos, segura nos seus julgamentos sobre os homens e as coisas, confiante nos seus modos, franca na sua linguagem e não sabia o que era duvidar ou ter medo”.
Margarida e a infância de Joãozinho
Falar da infância e adolescência de Joãozinho é também “olhar” para a dor que ele passou. Morte do pai, escassez, dificuldades para poder estudar e tantas outras dificuldades. Porém, a sua mãe estava sempre ao lado. Quando Joãozinho perde o pai, por exemplo, ela o “pega pela mão e nunca mais o soltará”. Sair de casa para estudar também significou dor para João e Margarida. A divisão de bens, como única forma de Joãozinho ter liberdade para estudar, foi um momento de conflito que a família teve que passar. Por outro lado, a vida de oração foi sempre zelada por Mamãe Margarida, conforme o próprio Dom Bosco nos conta nas Memórias do Oratório: “Quando eu era pequeno, ela mesma me ensinou a rezar, mas quando consegui fazer isso com meus irmãos, me fazia ajoelhar de manhã e à noite com eles, e todos juntos rezávamos as orações e a terceira parte do rosário”.
A primeira catequista
Nas Memórias do Oratório, Dom Bosco relata também a preparação para a sua primeira comunhão. Deste relato, algumas atitudes de Mamãe Margarida ajudam a compreender mais e melhor o significado do acompanhamento integral salesiano:
“Desejando, porém, que eu não continuasse crescendo sem fazer-me praticar este grande ato da nossa santa religião, ela mesma conseguiu preparar-me (assistir-me) da melhor maneira que podia e sabia”. Ela mesma: o reforço da palavra “mesma” equivale a “ninguém mais”, e indica uma “identidade”. Ela não tem muitos conhecimentos nem recursos, mas sente que dela depende o acompanhamento e a preparação do filho para a primeira comunhão, e se propõe a assisti-lo da melhor maneira. No acompanhamento, ela coloca toda a sua fé e a sua ternura de mãe.
“Era impossível evitar a dissipação no meio da multidão. Minha mãe tentou me acompanhar por vários dias”. A assistência torna-se acompanhamento: trata-se do “sacramento salesiano da presença”.
“Naquela manhã ela não me deixou falar com ninguém, acompanhou-me à mesa sagrada e fez comigo a preparação e a ação de graças, que o Vigário Foraneo – cujo nome era Sismondi – conduziu com grande zelo, alternando com todos em voz alta”. Não me deixou falar com ninguém: criou um clima de silêncio e recolhimento. Me acompanhou até a mesa sagrada: tornou-se próxima, íntima, testemunhal. Fez comigo a preparação de ação de graças: comungou com ele, tornou-se uma só com o filho, ensinando-lhe mais com o que era e fazia, do que com as suas instruções.
Margarida e o Oratório
No dia 3 de novembro de 1846, quando Dom Bosco propõe à sua mãe que o acompanhe no Oratório, ela responde: “Se você acha que é isso que o Senhor quer de mim, estou disposta a partir imediatamente. [...] Em casa eu me preocupava em administrar e organizar tudo; aqui estarei mais tranquila, porque não tenho nada com que dispor e ninguém para comandar”. A narração do primeiro menino órfão residente do Oratório mostra como Mamãe Margarida acompanha Dom Bosco: “Se ele quiser, interveio minha mãe, eu o acomodarei da melhor maneira possível; Deus dirá o que deve ser feito amanhã. [...] Minha mãe saiu com o pequeno órfão para trazer alguns pedaços de tijolos e na cozinha construiu com ele quatro muros de sustentação; começou a fazer o que seria a primeira cama do Oratório. Depois deu-lhe um pequeno sermão sobre a necessidade de trabalho, sobre honestidade e algo sobre religião. Então ela o convidou para rezar conosco”.
Inspirados por Mamãe Margarida, concluímos com uma pergunta para ajudar na reflexão sobre o acompanhamento integral salesiano: a espiritualidade eucarística, aprendida de Mamãe Margarida e central, na compreensão de Dom Bosco, para a santidade juvenil, é hoje um dos critérios de revisão da missão salesiana. O que essa compreensão implica e como amadurecê-la nas comunidades educativo-pastorais?
Texto elaborado a partir de anotações pessoais e material de apoio do curso “Escola Salesiana de Acompanhamento Integral”, realizado em novembro de 2024, na cidade de Quito, Equador.