O dia 20 de novembro como Dia da Consciência Negra foi declarado pelo Movimento Negro Unificado (MNU) em 1978. Mas a data surgiu a partir de uma proposta do Grupo Palmares, de Porto Alegre – RS, que em 1971 propôs que essa data deveria ser comemorada pela população negra em contraposição ao dia 13 de maio, data em que se comemora a abolição da escravidão em uma perspectiva de que ela foi concedida pela “bondosa” princesa Isabel. A escolha da data é uma homenagem ao guerreiro Zumbi, líder histórico do Quilombo de Palmares, que foi brutalmente assassinado, em 1695, após ser traído e entregue a Domingos Jorge Velho e seus bandeirantes. Alçado a ícone da resistência contra o racismo e a discriminação, Zumbi faz parte, desde 1995, do Panteão de Heróis da Pátria.
O Dr. Carlos Alves Moura. Bacharel em Direito, Secretário-executivo da Comissão Brasileira de Justiça e Paz da CNBB, certa vez afirmou “que é preciso ainda refletir sobre uma questão indefinida na sociedade: o racismo. Sabe-se grande parte dos brasileiros não aceita o negro diferente, rejeita, discrimina-o, é preconceituosa. Trata-se de um racismo disfarçado, escorregadio, sinuoso, mas tem a marca letal. É a associação da cor, da raça, da etnia, de qualquer segmento marcado pela negritude, ao pior. Na verdade faz necessário aceitar o diferente, conviver com o desigual, querer o outro, somente porque é um ser humano. Aí está a característica do racismo: negação do ser humano.”
Cada pessoa com sua dignidade e com seu universo pessoal tem o direito de ser respeitado, de respeitar, de ser aceito e de aceitar o outro. Aceitar o outro sem quaisquer restrições e/ou preconceitos. Simplesmente abrir-se para o semelhante em plena manifestação de chamada à parceria, ao diálogo, à compreensão. O combate ao racismo não é uma pauta só de negros e de indígenas, mas um dos mais graves entraves que precisa ser abolido pelo Estado e pela sociedade brasileira para que o conjunto do povo possa viver em condições mínimas de dignidade. Não há futuro promissor para um país quando mais da metade do seu povo vive em condições de subalternidade e de desumanidade.
Não se pode pensar a história e o futuro do País sem a presença do negro e da negra. Vibrar e viver a esperança, pois o povo negro é de muita esperança e tem demonstrado isso nas práticas diárias: movimentos negros, agentes de pastoral negros, cursos, encontros, articulação de padres, bispos e diáconos negros, aumento de vocações negras. Na Igreja a Pastoral Afro-brasileira é aceita em suas estruturas de serviço e recebe um novo alento por meio do Subsídio de estudo da CNBB (nº 85 – “A Pastoral Afro-Brasileira”). Esse espaço conquistado pelos Afro-brasileiros enriquece o catolicismo com sua forma de expressar a sua fé nas manifestações da religiosidade popular e nas celebrações inculturadas. Assim, o povo negro ressuscita sua memória histórica, sua autoestima, sua cultura, enfim, sua identidade.
Na Igreja Católica São João Paulo II, disse aos Afro-americanos, em 1992, em Santo Domingo: “A estima e o cultivo dos vossos valores afro-americanos, enriquecerão infalivelmente a Igreja”. No Brasil, no Documento 65 da CNBB, número 59: exorta a todo o Povo de Deus a colocar-se a serviço da vida e da esperança, “acolher, com abertura de espírito as justas reivindicações de movimentos – indígenas, da consciência negra, das mulheres e outros – (…) e empenhar-se na defesa das diferenças culturais, com especial atenção às populações afro-brasileiras e indígenas” (CNBB, Doc. 65, nº 59). Em outras palavras, a novidade que a Igreja deseja é a inclusão em sua Ação Evangelizadora, das riquezas culturais e espirituais que emanam do Patrimônio Africano e do Afro-brasileiro.
Os principais documentos da Igreja no Brasil registram o clamor do povo negro; negros e negras estão mais envolvidos nas diversas dimensões da vida e missão da Igreja, procurando conhecer e estimar o Dom de Deus presente na negritude; o Secretariado de Pastoral Afro-brasileira; o Grupo Atabaque; a valorosa caminhada dos CONENCs; as Romarias das Comunidades Negras; o Instituto Mariama: bispos, padres, diáconos, religiosos e leigos, estudantes, exercitando a inteligência e o coração, para proclamar as maravilhas de Deus; o Grupo de Educadoras Negras; o Encontro de Pastoral Afro-americano e os diversos subsídios produzidos pela Pastoral Afro-brasileira. Hoje é possível contemplar muitas iniciativas beneméritas de conhecimento, estudo, estima e defesa dos valores do povo negro.
O Dia Nacional da Consciência Negra adquire, a cada ano, uma importância cada vez maior. Basta acompanhar os diversos eventos que estão sendo realizados pelo Brasil para se ter à exata noção de como a data hoje mobiliza a sociedade, não só o movimento negro, mas a sociedade brasileira.
Jurandyr Azevedo Araujo
Membro da Pastoral Afro-brasileira
Secretaria de Pastoral Afro-americana