O arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB, dom Jaime Spengler, é um dos responsáveis pela elaboração do texto: “Estamos tentando levar em consideração primeiro a Ratio Fundamentalis. Além disso, nos foi pedido que levasse em consideração o magistério do papa Francisco”, explica.
A Ratio Fundamentalis Instituitionis Sacerdotalis é um documento elaborado pela Congregação para o Clero do Vaticano que dá pistas para a formação de seminaristas e do clero da Igreja. Publicado no dia 8 de dezembro de 2016, atualiza as orientações de 1985 e explicita às Igrejas locais como realizar a formação dos futuros presbíteros e a necessidade de formação permanente. O texto destaca que o futuro padre deve ser acompanhado na totalidade das quatro dimensões que interagem simultaneamente no processo formativo e na vida dos ministros ordenados: humana, espiritual, intelectual e pastoral.
As atuais Diretrizes para a Formação Presbiteral foram aprovadas na 48ª Assembleia Geral da CNBB, em 2010, e já visavam enriquecer a formação espiritual, humana, intelectual e pastoral dos futuros sacerdotes “com novos impulsos vitais, consoantes com a índole peculiar de nosso tempo”.
Quatro características
Dom Jaime Spengler ainda cita, a partir da Ratio Fundamentalis, quatro características que precisam de destaque: “a formação deve ser única, integral, comunitária e missionária”.
Quando falamos de uma formação única devemos recordar uma realidade muito presente em muitos de nossos seminários, ou seja, as formações paralelas, que, sem dúvida não ajudam esses homens no caminho de preparação em vista do ministério ordenado”, pontua o arcebispo. Sobre ser uma formação integral, indica que o processo formativo deve levar em consideração todos os aspectos que constituem a estrutura humana.
A característica comunitária diz respeito à realidade de os presbíteros fazem parte de um corpo maior, a comunidade dos presbíteros, também chamada de presbitério, da diocese a qual o seminarista será incardinado. “Isso é muito importante também: na medida em que você é integrado a um presbitério, não podemos esquecer que começa a fazer parte de uma família presbiteral e é corresponsável pela vida dessa família presbiteral. Nenhum padre é uma ilha no contexto de um presbitério. Ele faz parte de um corpo maior e é corresponsável por este corpo”, chama atenção.
No sentido de ser missionária, a formação deve suscitar nos futuros padres a disponibilidade, a abertura para as necessidades da Igreja onde for solicitado. “Em outras palavras, pronto para o que der e vier, com generosidade e alegria. Talvez pudéssemos até resumir estas características dizendo de homens verdadeiramente apaixonados pelo Evangelho do crucificado ressuscitado, homens entusiasmados pela proposta do Reino e por isso capazes de se lançar generosamente no trabalho apostólico”, afirma.
Coração do Bom Pastor
Perguntado se há uma indicação ou perfil esperado dos futuros padres do Brasil, o bispo auxiliar de São Paulo (SP) dom José Roberto Fortes Palau afirmou que a CNBB procura acolher as indicações da Igreja no âmbito mundial na formação brasileira. Dom José também explicou que os futuros padres devem ter um “coração semelhante ao coração de Cristo, o Coração do Bom Pastor, que sejam homens misericordiosos, que tenham espírito de serviço, se dedicam com todo seu ser a serviço da evangelização, tenham amor pelo povo, forme comunidades maduras e adultas na fé, que colabore com a graça de Deus para o advento do reino”.
Outra característica é que os padres sejam movidos unicamente pela caridade pastoral, que para dom Roberto é o fio condutor de toda a espiritualidade presbiteral. “O seminário tem essa missão de configurando o coração do jovem seminarista para que tenha o coração semelhante ao de Cristo Bom Pastor”.