Cidadania passo a passo

Sábado, 03 Novembro 2012 12:58 Escrito por 
  Márcia Raquel Rolon, ex-aluna salesiana do Centro de Estudos Imaculada Conceição (CENIC), é fundadora e diretora do Moinho Cultural Sul-americano, entidade que promove a inserção social por meio da cultura e da arte.   Quando fundou o Moinho Cultural Sul-americano, em 2004, Márcia Raquel Rolon tinha um objetivo claro: diminuir o risco social para crianças e adolescentes que vivem na fronteira entre Brasil e Bolívia, promovendo a cidadania por meio da arte, da música e da dança. Hoje ela colhe os frutos desse trabalho. A entidade é reconhecida como um dos principais centros de promoção cultural e social da América do Sul, e Márcia foi eleita vice-prefeita de Corumbá, MS, nas últimas eleições realizadas em outubro, com a proposta de levar essa ação em defesa da juventude para o âmbito governamental. Nesta entrevista, a ex-aluna salesiana fala do Moinho Cultural e da influência da pedagogia salesiana em sua vida.  

Boletim Salesiano – Você estudou em uma escola salesiana. Como a pedagogia salesiana influenciou sua vida e o Moinho Cultural?

Márcia Raquel Rolon – A ação que realizamos no Moinho está muito ligada ao que vivi como aluna do Centro de Estudos Imaculada Conceição (CENIC). Minha mãe (Sônia Rolon) também é ex-aluna da escola e temos ainda uma ligação muito forte com o Colégio Dom Bosco (dos padres salesianos) e com a Cidade Dom Bosco (obra social salesiana), pelos trabalhos que ela realizava nessas instituições desde que eu era pequena. Eu fazia balé desde menina e uma vez, quando tinha 10 ou 11 anos, uma irmã me chamou para realizar com as colegas a coreografia de um salmo. Foi meu primeiro trabalho como coreógrafa. Um ponto importante é que tanto minha mãe como eu sempre tivemos esse movimento de utilizar a arte como educação e também de trazer uma referência muito forte da catequese com os jovens.

 

BS – O que é o Moinho Cultural Sul-americano?

Márcia – Sou uma das fundadoras do Moinho Cultural, que começou em 2004 como parte do Instituto Homem Pantaneiro. O trabalho cresceu, criou uma identidade própria e neste ano de 2012, passou a ser um Instituto independente, com foco na diminuição do risco social por meio do acesso a bens culturais em uma região de fronteira, na qual há um problema sério na juventude em relação às drogas.

Atualmente 20 mil pessoas têm acesso a bens culturais por meio do Moinho, com palestras, cursos e rodas de conversa. No atendimento direto, são 370 alunos, brasileiros e bolivianos, de famílias com baixa renda. Há cinco jovens provenientes da Bolívia e que foram contratados pela prefeitura de Porto Soares, naquele país, como monitores em uma escola que atende outros 40 alunos. Oferecemos uma formação profissionalizante em dança e música, com um ciclo de 8 anos – a criança entra no instituto entre 8 e 10 anos de idade e fica até os 18 anos. Há dois anos abrimos um novo núcleo, que é o Tecnológico, voltado aos meninos que trabalham com documentários, filmagens, pesquisa etc. Nesse núcleo, a faixa etária é dos 12 aos 18 anos.

 

BS – Como é o trabalho realizado no Moinho Cultural?

Márcia – O primeiro efeito que vemos nos alunos é o reconhecer-se e o valorizar-se. Porque a música e a dança trabalham diretamente com a autoestima. Só em se arrumar para a aula de dança, lidar com sua imagem no espelho, romper diariamente as limitações do próprio corpo, a criança já se vê de uma maneira diferente. Focamos muito também a suavidade, o sorriso, o fazer com que eles se amem. Na música, trabalhamos o solo e a orquestra, em que cada um precisa estar alinhado com o outro; e na dança também. Então a formação aqui inclui a valorização pessoal, o trabalho em equipe, a disciplina e, principalmente, o romper barreiras.

Os educadores são orientados a valorizar o progresso dos alunos e procuramos mostrar a eles que, com esforço, é possível superar desafios. O aluno começa a conquistar espaço, a ter autonomia, a perceber que ele tem de fazer sempre melhor e que ele pode fazer sempre mais. E a gente acredita que é com essa consciência que esse aluno vai voltar para a sociedade e torná-la melhor.

 

BS – É feito também um trabalho com as famílias?

Márcia – Sim, fizemos uma pesquisa com as famílias dos alunos para ver o que elas queriam desenvolver. Surgiram assim os projetos de gastronomia e de corte e costura. Fundamos uma cooperativa com esses familiares que hoje trabalha o corte e costura e a reciclagem, e que também é responsável por todos os uniformes e figurinos do Moinho. Na gastronomia, hoje o grupo tem o próprio instituto, com uma mini-padaria e uma cozinha.

 

BS – E qual é a importância do trabalho cultural em uma região de fronteira?

Márcia – Quando criamos o Moinho, uma das prioridades era dialogar com a fronteira. Porque o apelo para que a criança e o adolescente entrem no tráfico nessa região é muito grande, e precisamos oferecer um outro caminho para eles. Mas até hoje, arcamos com a maior parte dos custos de trazer esses alunos da Bolívia, pois há uma dificuldade em conseguir parcerias para o financiamento. Sabemos que o nosso trabalho de prevenção para que as crianças não entrem no tráfico de drogas é importante, mas só depois da divulgação na mídia de que as crianças do Brasil e da Bolívia estavam falando a mesma língua – a língua da arte – é que começaram alguns intercâmbios com as prefeituras dos dois lados da fronteira. Mas a gente não desanima. Já temos alguns convênios com prefeituras e uma escola na Bolívia que segue os mesmos moldes do Moinho. Estamos trabalhando em conjunto com a obra social Cidade Dom Bosco, para trazer um número maior de alunos. Há a proposta de um coral na cidade de Corumbá... Temos muitos sonhos para o futuro, sim. Porque a gente sonha, sempre, e é assim que conseguimos realizar.

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Última modificação em Quinta, 28 Agosto 2014 17:52

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Cidadania passo a passo

Sábado, 03 Novembro 2012 12:58 Escrito por 
  Márcia Raquel Rolon, ex-aluna salesiana do Centro de Estudos Imaculada Conceição (CENIC), é fundadora e diretora do Moinho Cultural Sul-americano, entidade que promove a inserção social por meio da cultura e da arte.   Quando fundou o Moinho Cultural Sul-americano, em 2004, Márcia Raquel Rolon tinha um objetivo claro: diminuir o risco social para crianças e adolescentes que vivem na fronteira entre Brasil e Bolívia, promovendo a cidadania por meio da arte, da música e da dança. Hoje ela colhe os frutos desse trabalho. A entidade é reconhecida como um dos principais centros de promoção cultural e social da América do Sul, e Márcia foi eleita vice-prefeita de Corumbá, MS, nas últimas eleições realizadas em outubro, com a proposta de levar essa ação em defesa da juventude para o âmbito governamental. Nesta entrevista, a ex-aluna salesiana fala do Moinho Cultural e da influência da pedagogia salesiana em sua vida.  

Boletim Salesiano – Você estudou em uma escola salesiana. Como a pedagogia salesiana influenciou sua vida e o Moinho Cultural?

Márcia Raquel Rolon – A ação que realizamos no Moinho está muito ligada ao que vivi como aluna do Centro de Estudos Imaculada Conceição (CENIC). Minha mãe (Sônia Rolon) também é ex-aluna da escola e temos ainda uma ligação muito forte com o Colégio Dom Bosco (dos padres salesianos) e com a Cidade Dom Bosco (obra social salesiana), pelos trabalhos que ela realizava nessas instituições desde que eu era pequena. Eu fazia balé desde menina e uma vez, quando tinha 10 ou 11 anos, uma irmã me chamou para realizar com as colegas a coreografia de um salmo. Foi meu primeiro trabalho como coreógrafa. Um ponto importante é que tanto minha mãe como eu sempre tivemos esse movimento de utilizar a arte como educação e também de trazer uma referência muito forte da catequese com os jovens.

 

BS – O que é o Moinho Cultural Sul-americano?

Márcia – Sou uma das fundadoras do Moinho Cultural, que começou em 2004 como parte do Instituto Homem Pantaneiro. O trabalho cresceu, criou uma identidade própria e neste ano de 2012, passou a ser um Instituto independente, com foco na diminuição do risco social por meio do acesso a bens culturais em uma região de fronteira, na qual há um problema sério na juventude em relação às drogas.

Atualmente 20 mil pessoas têm acesso a bens culturais por meio do Moinho, com palestras, cursos e rodas de conversa. No atendimento direto, são 370 alunos, brasileiros e bolivianos, de famílias com baixa renda. Há cinco jovens provenientes da Bolívia e que foram contratados pela prefeitura de Porto Soares, naquele país, como monitores em uma escola que atende outros 40 alunos. Oferecemos uma formação profissionalizante em dança e música, com um ciclo de 8 anos – a criança entra no instituto entre 8 e 10 anos de idade e fica até os 18 anos. Há dois anos abrimos um novo núcleo, que é o Tecnológico, voltado aos meninos que trabalham com documentários, filmagens, pesquisa etc. Nesse núcleo, a faixa etária é dos 12 aos 18 anos.

 

BS – Como é o trabalho realizado no Moinho Cultural?

Márcia – O primeiro efeito que vemos nos alunos é o reconhecer-se e o valorizar-se. Porque a música e a dança trabalham diretamente com a autoestima. Só em se arrumar para a aula de dança, lidar com sua imagem no espelho, romper diariamente as limitações do próprio corpo, a criança já se vê de uma maneira diferente. Focamos muito também a suavidade, o sorriso, o fazer com que eles se amem. Na música, trabalhamos o solo e a orquestra, em que cada um precisa estar alinhado com o outro; e na dança também. Então a formação aqui inclui a valorização pessoal, o trabalho em equipe, a disciplina e, principalmente, o romper barreiras.

Os educadores são orientados a valorizar o progresso dos alunos e procuramos mostrar a eles que, com esforço, é possível superar desafios. O aluno começa a conquistar espaço, a ter autonomia, a perceber que ele tem de fazer sempre melhor e que ele pode fazer sempre mais. E a gente acredita que é com essa consciência que esse aluno vai voltar para a sociedade e torná-la melhor.

 

BS – É feito também um trabalho com as famílias?

Márcia – Sim, fizemos uma pesquisa com as famílias dos alunos para ver o que elas queriam desenvolver. Surgiram assim os projetos de gastronomia e de corte e costura. Fundamos uma cooperativa com esses familiares que hoje trabalha o corte e costura e a reciclagem, e que também é responsável por todos os uniformes e figurinos do Moinho. Na gastronomia, hoje o grupo tem o próprio instituto, com uma mini-padaria e uma cozinha.

 

BS – E qual é a importância do trabalho cultural em uma região de fronteira?

Márcia – Quando criamos o Moinho, uma das prioridades era dialogar com a fronteira. Porque o apelo para que a criança e o adolescente entrem no tráfico nessa região é muito grande, e precisamos oferecer um outro caminho para eles. Mas até hoje, arcamos com a maior parte dos custos de trazer esses alunos da Bolívia, pois há uma dificuldade em conseguir parcerias para o financiamento. Sabemos que o nosso trabalho de prevenção para que as crianças não entrem no tráfico de drogas é importante, mas só depois da divulgação na mídia de que as crianças do Brasil e da Bolívia estavam falando a mesma língua – a língua da arte – é que começaram alguns intercâmbios com as prefeituras dos dois lados da fronteira. Mas a gente não desanima. Já temos alguns convênios com prefeituras e uma escola na Bolívia que segue os mesmos moldes do Moinho. Estamos trabalhando em conjunto com a obra social Cidade Dom Bosco, para trazer um número maior de alunos. Há a proposta de um coral na cidade de Corumbá... Temos muitos sonhos para o futuro, sim. Porque a gente sonha, sempre, e é assim que conseguimos realizar.

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