Para o projeto pessoal de vida (PPV) é muito importante a escuta. A Igreja foi convocado pelo Papa Francisco a parar um pouco do acelerado corre-corre para escutar as juventudes. Uma assembleia com bispos representantes de todas as conferências, leigos e leigas, certamente jovens, assessores, especialistas em juventude: será um grande mutirão de escuta e reflexão para aprimorar mais ainda o PPV de muitos jovens. O anos de 2018 será então, para a Igreja, um tempo de muita reflexão, com certeza, uma continuação do Sínodo sobre a família, agora debruçado sobre os frutos que brotam dentro da vida de um casal e da sociedade. Quero contribuir com artigos a partir do tema do Sínodo: os jovens, a fé, o discernimento vocacional.
Jovens na sociedade
Quando o Papa Francisco esteve no Brasil durante a Jornada Mundial da Juventude, ele se referiu aos jovens na sociedade de forma muito significativa:
“A juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo. É a janela e, por isso, nos impõe grandes desafios. A nossa geração se demonstrará à altura da promessa contida em cada jovem quando souber abrir-lhe espaço. Isso significa: tutelar as condições materiais e imateriais para o seu pleno desenvolvimento; oferecer a ele fundamentos sólidos, sobre os quais construir a vida; garantir-lhe segurança e educação para que se torne aquilo que ele pode ser; transmitir-lhe valores duradouros pelos quais a vida mereça ser vivida, assegurar-lhe um horizonte transcendente que responda à sede de felicidade autêntica, suscitando nele a criatividade do bem; entregar-lhe a herança de um mundo que corresponda à medida da vida humana; despertar nele as melhores potencialidades para que seja sujeito do próprio amanhã e corresponsável do destino de todos. Com essas atitudes precedemos hoje o futuro que entra pela janela dos jovens” (discurso de acolhida).
Preparação do Sínodo
Esse pensamento do Papa retorna agora com muita força na preparação do Sínodo. Parafraseando, eu digo: as juventudes, usando da complexidade do fenômeno juvenil, são a janela pela qual o futuro entra na sociedade e no mundo. Uma janela nem sempre aberta, nem sempre acolhedora, nem sempre sensível aos jovens. Esta janela somos nós Igreja, instituições, grupos, pastorais, movimentos, comunidades. Às vezes nos sentimos incomodados com os jovens ou temos dificuldade de nos aproximar da linguagem verbal e não verbal que eles usam para comunicar o que sentem e o que desejam da sociedade e da Igreja. São juventudes inquietas segundo os tempos de hoje. Quais inquietudes?
Perplexidade
Primeiro, a inquietação da perplexidade: a sociedade e a Igreja de hoje mudaram. É uma sociedade muito mais pragmática, virtual, escondida atrás dos meios de comunicação, acelerada e com mudanças profundas que geram ansiedade, o mal do século. Na América Latina estamos sem projeto político, sobretudo no Brasil, e salta aos olhos a crise da moral e da ética, violentadas pela corrupção e pela descrença na classe política. Com tantos bilhões roubados dos cofres públicos está provado que nosso problema não é o financeiro, mas o moral. A ganância e a roubalheira deixam muitos jovens à margem de um protagonismo social. A Igreja, por sua vez, encolhe, sobretudo o catolicismo. No Brasil a mobilidade religiosa juvenil aumenta. A busca por sensações imediatas e respostas rápidas está na crista da onda. Não dá para esperar um novo dia, faz-se urgente criar o novo dia. Infelizmente sem pensar. A Igreja está apática demais, calada demais, fria demais.
Indiferença
Segundo, a inquietude da indiferença: há uma enorme dificuldade de vencer a indiferença que tomou conta da sociedade e da Igreja. As coisas acontecem e não nos tocam vitalmente. Francisco afirmava no final da JMJ no Rio que os jovens deveriam fazer barulho quando voltassem às suas dioceses e comunidades. A indiferença de muitas lideranças religiosas calou os gritos, sufocou as falas e fez vista grossa à contribuição dos jovens.
Espiritualidade
Por fim, a inquietude religiosa: as juventudes buscam espiritualidade, mas isto não quer dizer que aquela institucionalizada pela religião seja a mais agradável. Também não significa que as juventudes querem apenas cantar e dançar. O que falta é a presença de pessoas com forte experiência de Deus que estejam com os jovens, dialogando com eles e propondo novos céus e nova terra.
Para o projeto pessoal de vida dos jovens será necessário escutar. O Sínodo se perfila como uma forma de reflexão e participação. Oxalá não percamos como agentes de pastoral este momento, e que os jovens sejam estimulados a participar.