Não nos deixemos roubar o entusiasmo missionário

Sábado, 23 Agosto 2014 19:21 Escrito por 
A exortação apostólica Alegria do Evangelho “também enfatiza a idolatria do dinheiro com o crescimento do lucro de poucos enquanto uma massa sobra. É o novo bezerro de ouro que o jogo econômico produz e toma posse do coração de todos, sobretudo dos jovens às vezes impedindo o empenho missionário”.

Na continuação de nossa leitura da exortação apostólica Alegria do Evangelho, encontramos outra expressão forte do papa Francisco que nos alerta para a fragilidade atual da Evangelização (n. 80).

O papa contextualiza o problema dentro do grande panorama do mundo atual em crise. Há uma economia de exclusão, diz o papa (n. 53). que mata e que considera o ser humano como descartável. Aliás, Francisco bate nesta tecla do descartável e insistiu, no encontro com os seminaristas, noviças e noviços de Roma, sobre isto: “Ouvi um seminarista, um bom seminarista, que dizia que queria seguir Cristo, mas por dez anos, e depois pensará em começar outra vida... Isto é perigoso! Ouçam bem: todos nós, também nós mais velhos, também nós, estamos sob a pressão desta cultura do provisório; e isto é perigoso, porque não se joga a vida de uma vez para sempre. Eu caso-me enquanto o amor dura; eu faço-me freira, mas por um ‘tempinho...’, ‘um pouco de tempo’, e depois verei; eu faço-me seminarista para ser padre, mas não sei como vai acabar a história. Não pode ser assim com Jesus! Eu não vos reprovo, reprovo esta cultura do provisório, que nos fustiga a todos, porque não nos faz bem: porque uma escolha definitiva hoje é muito difícil. Na minha juventude era mais fácil, porque a cultura favorecia uma escolha definitiva quer para a vida matrimonial, quer para a vida consagrada ou sacerdotal. Mas nesta época não é fácil uma opção definitiva. Somos vítimas desta cultura do provisório”.

Trata-se, pois, de uma cultura das “sobras” humanas. No projeto pessoal de vida precisamos reagir a esta tendência para que o entusiasmo da missão não esmoreça diante dos desafios.

 

Lucro de poucos

Francisco também enfatiza a idolatria do dinheiro com o crescimento do lucro de poucos enquanto uma massa sobra. É o novo bezerro de ouro que o jogo econômico produz e toma posse do coração de todos, sobretudo dos jovens, às vezes impedindo o empenho missionário porque isto seria uma perda em vista do lucro. Esse ídolo cria o consumismo, quer dizer, comprar, possuir e nunca está satisfeito com nada e com ninguém. Tudo “que é exterior, imediato, visível, rápido, superficial, provisório” (n. 62) é mais forte que o real. Gera, inclusive, um estilo de movimento religioso fundamentalista e individualista onde “predomina o aspecto administrativo sobre o pastoral” (n. 63), tornando a prática religiosa algo profundamente intimista, sem valor missionário. Então, a família é afetada, não se consegue mais transmitir a fé entre as gerações e crescem os desafios dentro da sociedade urbana.

Os agentes pastorais (leigos, religiosos. religiosas, padres, bispos etc), que são muitos e empenhados na ação missionária e fazem um bem enorme, também são vítimas e alguns até se escondem e “temem que alguém os convide a realizar alguma tarefa evangelizadora” e, com isso, se paralisa a ação missionária (n. 81). Faltam ousadia, criatividade, esperança, mística. Para reagir a tudo isso, fazem-se urgentes espiritualidade missionária, motivações adequadas, alegria, encontro com o outro.

 

O que é espiritualidade missionária?

No contexto vocacional o que entendemos por espiritualidade missionária? Dom Bosco tinha como lema de vida presbiteral a expressão: Dai-me as almas e ficai com o resto. A espiritualidade missionária é exatamente a busca das pessoas. Estar ao lado dos que mais precisam; anunciar com a vida e a palavra Jesus Cristo; desapegar-se do próprio tempo, das seguranças e da fuga do encontro para vencer o declínio do fervor missionário. O resto, então, é o que dizia São Paulo: lixo. É lixo porque não serve mais para nada e se for carregado no projeto de vida causará peso, incômodo e frustrações. É preciso então saber reciclar esse lixo para dar novo sentido dentro da ação missionária, senão ele contaminará nossas vidas e ficaremos doentes do espírito.

As motivações adequadas se inspiram em atividades planejadas, desejadas sem aquela pressa de querer os resultados imediatos. Tudo tem seu tempo! Tem hora para preparar o campo, hora para semear e hora para colher (n. 82). Querer tudo ao mesmo tempo, fácil e sem espera, é cair na tentação do provisório. Para tanto, fazem-se urgentes motivações profundas que tornem congruentes nossas atitudes e opções de vida.

Alegria e encontro com o outro são fontes de energia para qualquer projeto de vida. Viver “uma eterna Quaresma sem Páscoa” ou uma “Páscoa sem Quaresma” é uma contradição. Precisamos de ambas para viver intensamente a vida como vocação e significado. Lutemos contra a cultura do provisório que mata a missionariedade, como bem disse Francisco aos jovens voluntários na JMJ: “Na cultura do provisório, do relativo, muitos pregam que o importante é ‘curtir’ o momento, que não vale a pena comprometer-se por toda a vida, fazer escolhas definitivas, ‘para sempre’, uma vez que não se sabe o que reserva o amanhã. Em vista disso eu peço que vocês sejam revolucionários, eu peço que vocês vão contra a corrente; sim, nisto peço que se rebelem: que se rebelem contra essa cultura do provisório que, no fundo, crê que vocês não são capazes de assumir responsabilidades, crê que vocêsnão são capazes de amar de verdade. Eu tenho confiança em vocês, jovens, e rezo por vocês. Tenham a coragem de ‘ir contra a corrente’. E tenhamtambém a coragem de ser felizes!” 

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Não nos deixemos roubar o entusiasmo missionário

Sábado, 23 Agosto 2014 19:21 Escrito por 
A exortação apostólica Alegria do Evangelho “também enfatiza a idolatria do dinheiro com o crescimento do lucro de poucos enquanto uma massa sobra. É o novo bezerro de ouro que o jogo econômico produz e toma posse do coração de todos, sobretudo dos jovens às vezes impedindo o empenho missionário”.

Na continuação de nossa leitura da exortação apostólica Alegria do Evangelho, encontramos outra expressão forte do papa Francisco que nos alerta para a fragilidade atual da Evangelização (n. 80).

O papa contextualiza o problema dentro do grande panorama do mundo atual em crise. Há uma economia de exclusão, diz o papa (n. 53). que mata e que considera o ser humano como descartável. Aliás, Francisco bate nesta tecla do descartável e insistiu, no encontro com os seminaristas, noviças e noviços de Roma, sobre isto: “Ouvi um seminarista, um bom seminarista, que dizia que queria seguir Cristo, mas por dez anos, e depois pensará em começar outra vida... Isto é perigoso! Ouçam bem: todos nós, também nós mais velhos, também nós, estamos sob a pressão desta cultura do provisório; e isto é perigoso, porque não se joga a vida de uma vez para sempre. Eu caso-me enquanto o amor dura; eu faço-me freira, mas por um ‘tempinho...’, ‘um pouco de tempo’, e depois verei; eu faço-me seminarista para ser padre, mas não sei como vai acabar a história. Não pode ser assim com Jesus! Eu não vos reprovo, reprovo esta cultura do provisório, que nos fustiga a todos, porque não nos faz bem: porque uma escolha definitiva hoje é muito difícil. Na minha juventude era mais fácil, porque a cultura favorecia uma escolha definitiva quer para a vida matrimonial, quer para a vida consagrada ou sacerdotal. Mas nesta época não é fácil uma opção definitiva. Somos vítimas desta cultura do provisório”.

Trata-se, pois, de uma cultura das “sobras” humanas. No projeto pessoal de vida precisamos reagir a esta tendência para que o entusiasmo da missão não esmoreça diante dos desafios.

 

Lucro de poucos

Francisco também enfatiza a idolatria do dinheiro com o crescimento do lucro de poucos enquanto uma massa sobra. É o novo bezerro de ouro que o jogo econômico produz e toma posse do coração de todos, sobretudo dos jovens, às vezes impedindo o empenho missionário porque isto seria uma perda em vista do lucro. Esse ídolo cria o consumismo, quer dizer, comprar, possuir e nunca está satisfeito com nada e com ninguém. Tudo “que é exterior, imediato, visível, rápido, superficial, provisório” (n. 62) é mais forte que o real. Gera, inclusive, um estilo de movimento religioso fundamentalista e individualista onde “predomina o aspecto administrativo sobre o pastoral” (n. 63), tornando a prática religiosa algo profundamente intimista, sem valor missionário. Então, a família é afetada, não se consegue mais transmitir a fé entre as gerações e crescem os desafios dentro da sociedade urbana.

Os agentes pastorais (leigos, religiosos. religiosas, padres, bispos etc), que são muitos e empenhados na ação missionária e fazem um bem enorme, também são vítimas e alguns até se escondem e “temem que alguém os convide a realizar alguma tarefa evangelizadora” e, com isso, se paralisa a ação missionária (n. 81). Faltam ousadia, criatividade, esperança, mística. Para reagir a tudo isso, fazem-se urgentes espiritualidade missionária, motivações adequadas, alegria, encontro com o outro.

 

O que é espiritualidade missionária?

No contexto vocacional o que entendemos por espiritualidade missionária? Dom Bosco tinha como lema de vida presbiteral a expressão: Dai-me as almas e ficai com o resto. A espiritualidade missionária é exatamente a busca das pessoas. Estar ao lado dos que mais precisam; anunciar com a vida e a palavra Jesus Cristo; desapegar-se do próprio tempo, das seguranças e da fuga do encontro para vencer o declínio do fervor missionário. O resto, então, é o que dizia São Paulo: lixo. É lixo porque não serve mais para nada e se for carregado no projeto de vida causará peso, incômodo e frustrações. É preciso então saber reciclar esse lixo para dar novo sentido dentro da ação missionária, senão ele contaminará nossas vidas e ficaremos doentes do espírito.

As motivações adequadas se inspiram em atividades planejadas, desejadas sem aquela pressa de querer os resultados imediatos. Tudo tem seu tempo! Tem hora para preparar o campo, hora para semear e hora para colher (n. 82). Querer tudo ao mesmo tempo, fácil e sem espera, é cair na tentação do provisório. Para tanto, fazem-se urgentes motivações profundas que tornem congruentes nossas atitudes e opções de vida.

Alegria e encontro com o outro são fontes de energia para qualquer projeto de vida. Viver “uma eterna Quaresma sem Páscoa” ou uma “Páscoa sem Quaresma” é uma contradição. Precisamos de ambas para viver intensamente a vida como vocação e significado. Lutemos contra a cultura do provisório que mata a missionariedade, como bem disse Francisco aos jovens voluntários na JMJ: “Na cultura do provisório, do relativo, muitos pregam que o importante é ‘curtir’ o momento, que não vale a pena comprometer-se por toda a vida, fazer escolhas definitivas, ‘para sempre’, uma vez que não se sabe o que reserva o amanhã. Em vista disso eu peço que vocês sejam revolucionários, eu peço que vocês vão contra a corrente; sim, nisto peço que se rebelem: que se rebelem contra essa cultura do provisório que, no fundo, crê que vocês não são capazes de assumir responsabilidades, crê que vocêsnão são capazes de amar de verdade. Eu tenho confiança em vocês, jovens, e rezo por vocês. Tenham a coragem de ‘ir contra a corrente’. E tenhamtambém a coragem de ser felizes!” 

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