Cerca de 50 pessoas participaram do evento entre jovens, crianças, membros de pastorais sociais, organismos da igreja, movimentos, partidos e sindicatos. “Esse encontro foi um divisor de águas na minha vida. Eu participo da igreja há anos e já estou cansada da mesmice dos eventos, retiros e reuniões. A gente fica sentada, ouve e reza. Aqui eu vi a importância de ver, julgar e, também, agir. Ser solidário com meu irmão, pôr em prática o bem viver”.
Palavras de Crislane Fernandes de Souza, que tem 21 anos e atua no Cursilho e nas pastorais Familiar e da Catequese da Comunidade São Mateus, pertencente à paróquia acolhedora. Ela também faz o 4º semestre do curso universitário de Biomedicina.
É colega de Matheus Lucas de Souza Matos, de 18 anos, que atua na Catequese e no grupo de jovens Guerreiros de Cristo, da Comunidade São Paulo Apóstolo, da mesma paróquia. “Também já estou acostumado a contemplar as mesmas coisas. O que vi aqui foi algo fora do eixo normal de viver e conviver. E percebi que esse encontro nos ajudou a entender o momento atual do Brasil e a nossa realidade e eu gostei de ver isso”. Matheus está no 1º ano do curso universitário de Administração.
Bem viver
Os depoimentos foram uma resposta às dinâmicas presentes no encontro, que teve assessoria do geógrafo e secretário-adjunto do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Gilberto Vieira dos Santos. Giba, como é mais conhecido, veio de Brasília e falou sobre o bem viver, que se trata de uma visão de mundo de povos indígenas andinos presentes na Bolívia (Aimara e Quechua), Equador (Quechua), Brasil e Paraguai (Guarani). Entre os Aimara chama-se Suma Qamaña, para os Quechua denomina-se Sumak Kawsay e para os Guarani, Teko Porã.
“O conceito e a prática do bem viver existem para além das igrejas e desde nossos antepassados mais antigos. Correspondem à relação com o que está no nosso entorno, valorizando o respeito e o cuidado. É saber conviver. Está presente em muitos lugares e culturas. Coloca-se contra o capitalismo e também deve ir além das alternativas socialistas tradicionais”, resumiu Giba.
Uma experiência concreta de bem viver mencionada no encontro com a Juventude foi a Festa da Troca de Sementes Crioulas, que ocorre há 16 anos no município mato-grossense de Jangada. O evento tem o apoio das comunidades rurais e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), organismo da igreja católica. Esse tipo de semente é desenvolvido, adaptado ou produzido por pequenos produtores, quilombolas e indígenas. Valoriza a soberania alimentar e o respeito aos recursos naturais.
“Além da troca de mudas e sementes crioulas, a gente discute o que significa ser camponês. Porque não basta morar no campo, é preciso se sentir parte dele, estar interligado com ele. É uma forma de louvar e agradecer nosso alimento e nossa tradição”, explicou Daiane Pereira Nunes, de 18 anos. Ela mora em Jangada, atua no grupo de jovens da Comunidade Ribeirão das Pedras Acima, nas CEBs e na CPT.
Reivindicação
O encontro foi resultado de uma reivindicação que há tempos aparece nas CEBs: aproximar-se das juventudes, compreender suas formas de viver e se expressar para comunicar um Cristo Libertador ao mundo de hoje. Por isso a programação foi bem diversificada. Começou na sexta à noite na praça ao lado da igreja, com uma mística em círculo recheada de cantos, colorido, luzes e orações.
No sábado pela manhã houve análise de conjuntura com apoio do sociólogo Roberto Rossi, da assessoria regional das CEBs, e da jovem Amandla Sousa, do Levante Popular. A partir do período da tarde o foco foi o bem viver e a encíclica Laudato Si´ (Louvado sejas), escrita pelo papa Francisco, que enxerga a Terra como nossa casa comum. Houve palestras, dinâmicas, cantos, danças, grupos de trabalho e socialização de ideias, refeições partilhadas, além de oficinas sobre mídia e redes sociais alternativas, agroecologia, economia solidária, cultura e arte popular.
E que venham os próximos!
No sábado à noite ocorreu a noite cultural. A cantora de rap Karla Vecchia trouxe canções sobre a força do feminismo e a luta contra a dependência química. A irmã salesiana e assessora das CEBs, Maria de Nazaré Gonçalves de Lima, lembrou do Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. E também houve danças circulares.
No domingo pela manhã os participantes apontaram compromissos a serem seguidos. Entre eles: manter o grupo formado no encontro; fazer mais encontros com a juventude; criar formas de partilhar o jeito de ser igreja das CEBs; estudar e difundir o bem viver e a Laudato Si´; fortalecer as experiências de bem viver existentes e criar outras.
Fonte: CEBs/Arquidiocese Cuiabá