“Deus foi preparando todo o caminho”

Domingo, 20 Agosto 2023 17:00 Escrito por 
Deus tem uma proposta de vida para cada pessoa. Mas como perceber se esse chamado é para a vida religiosa consagrada? Quais são os passos para discernir e aprofundar essa vocação? É o que reflete, nesta entrevista, a irmã Magda da Costa Marcelino, FMA.    

Irmã Magda da Costa Marcelino, FMA, vai completar 25 anos de vida religiosa consagrada no próximo dia 24 de janeiro. Atualmente, ela mora em Belém, PA, onde atua junto a 14 famílias de indígenas venezuelanos, da etnia Warao, no apoio para seu acolhimento e integração, com aulas de língua portuguesa, reforço escolar para as crianças e oficinas de artesanato – estas tanto para as famílias migrantes, quanto para as brasileiras, visando a integração social e a geração de renda. Sua trajetória, entretanto, é marcada pelo trabalho na área administrativa e pela ação pastoral. Nesta entrevista, ela nos conta sua história e reflete sobre como Deus prepara o caminho de cada pessoa, mesmo quando não percebemos.

 

Irmã, como e quando percebeu a sua vocação religiosa?

Irmã Magda da Costa Marcelino – Eu sou manauara, atuava bastante na minha comunidade, com a catequese, onde meu foco sempre foi nas crianças e nos adolescentes. Na minha comunidade, eu trabalhava na Pastoral da Juventude e na Catequese, sobretudo com crianças e adolescentes. Nesse grupo a gente já usava a metodologia dos oratórios, fazíamos a catequese, depois tinha a recreação e, quando podia, tinha o lanche, só que era inconsciente: eu não sabia que o que a gente fazia na catequese era uma espécie de oratório. Por isso afirmo que Deus foi preparando o caminho, sem que eu percebesse.

Nessa época, de meus 14 a 16 anos, eu conheci a Congregação das Irmãs do Preciosíssimo Sangue, então tinha um pouco de noção do que era a vida religiosa, eu tinha aquela inclinação, mas achava que faltava alguma coisa. E essa “alguma coisa”, quando conheci as Irmãs Salesianas, eu disse: “É aqui! É aqui que Deus me chama!”.

 

E como foi esse contato com as Filhas de Maria Auxiliadora?

Ir. Magda – Quando terminei o Ensino Médio, fui fazer um curso de Teologia Pastoral, e havia um padre salesiano na disciplina de Comunicação Social. Ele nos convidou para um encontro da juventude e nós fomos, eu e uma colega do curso. E naquele momento eu senti algo muito diferente, sabe? Senti que aquele era o meu espaço, pela metodologia, pelo contato que os salesianos e as salesianas tinham com os jovens. Me identifiquei muito. Eu vi as Irmãs, algumas jovens que eram formandas, e me aproximei delas, perguntei quem eram, onde moravam, se recebiam visitas... Elas ficavam na Escola Mazzarello, que é em um bairro bem perto de onde eu morava. Não passou nem um mês, chamei de novo minha colega: “Vamos lá na casa das Irmãs para a gente ver como é?” (risos). Naquele segundo semestre, uma vez por mês a gente ia lá. Eu comecei a me envolver, fui gostando do jeito, da alegria salesiana. No ano seguinte, antes de terminar o ano, perguntei se poderia fazer uma experiência vocacional com elas. Fiz a experiência, gostei, reafirmei a minha decisão – eu estava ali com 18 para 19 anos – e entrei no ano seguinte para o Aspirantado.

 

E como foi a sua trajetória de FMA? Em que serviços a senhora atuou?

Ir. Magda – Durante a formação toda sempre trabalhei com grupos de adolescentes e jovens. Depois, quando professei, trabalhei em escolas, mas na Pastoral. Confesso que em alguns momentos ia para a sala de aula, mas não era o meu forte. Eu gostava de estar com os jovens nos pátios, conversando, escutando; e nos oratórios. Ali era o meu chão, ali eu respirava o meu “ser salesiano”.

Depois que fiz os votos perpétuos, surgiu uma necessidade na Inspetoria na área administrativa-financeira. O meu Ensino Médio foi em Técnico de Administração, eu também tenho uma queda pela gestão, então fui estudar Administração e, quando terminei, já atuei na área, como ecônoma, primeiro em uma escola em Belém. Eu trabalhava no escritório, mas sem deixar a Pastoral. Depois de cinco anos, fui para um desafio bem maior: ser ecônoma da província e fiquei 11 anos em Manaus. Foi um laboratório, participei da junção das províncias, foi uma experiência muito grande, na qual amadureci bastante. Deus me pegou muito cedo para algumas responsabilidades, mas, com a graça dele, a gente foi conseguindo dar um sentido para tudo isso.

Hoje estou em Belém, PA, onde realizamos um trabalho com os migrantes venezuelanos indígenas, da etnia Warao. E, no momento, estou fazendo uma especialização em Espiritualidade e Orientação Espiritual pela FAJ, que é a faculdade dos Jesuítas em Belo Horizonte, MG. Somos um grupo de quase 50 pessoas de todo o Brasil. Leigos, religiosos e religiosas, seminaristas, padres diocesanos. É um enriquecimento bem grande.

 

E hoje? O que traz maior alegria em ser Filha de Maria Auxiliadora?

Ir. Magda – Hoje eu vivo um processo de redescoberta. O que eu vivi nesses 24 anos de vida religiosa consagrada foi uma confirmação daquilo que Deus me chamou a ser, a existir nesse mundo. É aquela questão do sentido da vida, né? Hoje para mim tem um sentido muito grande essa vida doada em favor do outro e, de modo particular, para os jovens. Mesmo que, como você percebe, a minha trajetória não foi diretamente com os jovens, mas a minha intenção sempre foi para eles. Há juventude em todos os espaços onde eu me encontro, e os jovens precisam da nossa ajuda, do nosso apoio, da nossa escuta.

 

Se uma jovem se sentir chamada para a vida religiosa consagrada, o que ela deve fazer?

Ir. Magda – Deus toca a todas as pessoas, cada uma, de uma maneira. Se uma jovem sentir esse chamado mais específico para a vida religiosa consagrada, para uma vida de entrega, ela pode nos procurar e iniciar um acompanhamento mais específico, para verificar se de fato é esse o estado de vida que Deus quer também para ela. Depois de um certo momento de convivência comunitária, de seis meses ou um ano, essa jovem pode entrar no processo de formação, que é o Aspirantado, depois o Postulado, o Noviciado e ela emitirá a sua primeira profissão como Filha de Maria Auxiliadora. Isso após essas etapas de estudo e de aprofundamento da sua pessoa, da sua vocação e da própria congregação enquanto carisma. Ela emite os primeiros votos e, já como Irmã FMA juniorista, tem mais seis anos para aprofundar a vocação, atuando em uma missão. E aí ela pode confirmar esse chamado e, livremente, fazer os votos perpétuos.

 

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“Deus foi preparando todo o caminho”

Domingo, 20 Agosto 2023 17:00 Escrito por 
Deus tem uma proposta de vida para cada pessoa. Mas como perceber se esse chamado é para a vida religiosa consagrada? Quais são os passos para discernir e aprofundar essa vocação? É o que reflete, nesta entrevista, a irmã Magda da Costa Marcelino, FMA.    

Irmã Magda da Costa Marcelino, FMA, vai completar 25 anos de vida religiosa consagrada no próximo dia 24 de janeiro. Atualmente, ela mora em Belém, PA, onde atua junto a 14 famílias de indígenas venezuelanos, da etnia Warao, no apoio para seu acolhimento e integração, com aulas de língua portuguesa, reforço escolar para as crianças e oficinas de artesanato – estas tanto para as famílias migrantes, quanto para as brasileiras, visando a integração social e a geração de renda. Sua trajetória, entretanto, é marcada pelo trabalho na área administrativa e pela ação pastoral. Nesta entrevista, ela nos conta sua história e reflete sobre como Deus prepara o caminho de cada pessoa, mesmo quando não percebemos.

 

Irmã, como e quando percebeu a sua vocação religiosa?

Irmã Magda da Costa Marcelino – Eu sou manauara, atuava bastante na minha comunidade, com a catequese, onde meu foco sempre foi nas crianças e nos adolescentes. Na minha comunidade, eu trabalhava na Pastoral da Juventude e na Catequese, sobretudo com crianças e adolescentes. Nesse grupo a gente já usava a metodologia dos oratórios, fazíamos a catequese, depois tinha a recreação e, quando podia, tinha o lanche, só que era inconsciente: eu não sabia que o que a gente fazia na catequese era uma espécie de oratório. Por isso afirmo que Deus foi preparando o caminho, sem que eu percebesse.

Nessa época, de meus 14 a 16 anos, eu conheci a Congregação das Irmãs do Preciosíssimo Sangue, então tinha um pouco de noção do que era a vida religiosa, eu tinha aquela inclinação, mas achava que faltava alguma coisa. E essa “alguma coisa”, quando conheci as Irmãs Salesianas, eu disse: “É aqui! É aqui que Deus me chama!”.

 

E como foi esse contato com as Filhas de Maria Auxiliadora?

Ir. Magda – Quando terminei o Ensino Médio, fui fazer um curso de Teologia Pastoral, e havia um padre salesiano na disciplina de Comunicação Social. Ele nos convidou para um encontro da juventude e nós fomos, eu e uma colega do curso. E naquele momento eu senti algo muito diferente, sabe? Senti que aquele era o meu espaço, pela metodologia, pelo contato que os salesianos e as salesianas tinham com os jovens. Me identifiquei muito. Eu vi as Irmãs, algumas jovens que eram formandas, e me aproximei delas, perguntei quem eram, onde moravam, se recebiam visitas... Elas ficavam na Escola Mazzarello, que é em um bairro bem perto de onde eu morava. Não passou nem um mês, chamei de novo minha colega: “Vamos lá na casa das Irmãs para a gente ver como é?” (risos). Naquele segundo semestre, uma vez por mês a gente ia lá. Eu comecei a me envolver, fui gostando do jeito, da alegria salesiana. No ano seguinte, antes de terminar o ano, perguntei se poderia fazer uma experiência vocacional com elas. Fiz a experiência, gostei, reafirmei a minha decisão – eu estava ali com 18 para 19 anos – e entrei no ano seguinte para o Aspirantado.

 

E como foi a sua trajetória de FMA? Em que serviços a senhora atuou?

Ir. Magda – Durante a formação toda sempre trabalhei com grupos de adolescentes e jovens. Depois, quando professei, trabalhei em escolas, mas na Pastoral. Confesso que em alguns momentos ia para a sala de aula, mas não era o meu forte. Eu gostava de estar com os jovens nos pátios, conversando, escutando; e nos oratórios. Ali era o meu chão, ali eu respirava o meu “ser salesiano”.

Depois que fiz os votos perpétuos, surgiu uma necessidade na Inspetoria na área administrativa-financeira. O meu Ensino Médio foi em Técnico de Administração, eu também tenho uma queda pela gestão, então fui estudar Administração e, quando terminei, já atuei na área, como ecônoma, primeiro em uma escola em Belém. Eu trabalhava no escritório, mas sem deixar a Pastoral. Depois de cinco anos, fui para um desafio bem maior: ser ecônoma da província e fiquei 11 anos em Manaus. Foi um laboratório, participei da junção das províncias, foi uma experiência muito grande, na qual amadureci bastante. Deus me pegou muito cedo para algumas responsabilidades, mas, com a graça dele, a gente foi conseguindo dar um sentido para tudo isso.

Hoje estou em Belém, PA, onde realizamos um trabalho com os migrantes venezuelanos indígenas, da etnia Warao. E, no momento, estou fazendo uma especialização em Espiritualidade e Orientação Espiritual pela FAJ, que é a faculdade dos Jesuítas em Belo Horizonte, MG. Somos um grupo de quase 50 pessoas de todo o Brasil. Leigos, religiosos e religiosas, seminaristas, padres diocesanos. É um enriquecimento bem grande.

 

E hoje? O que traz maior alegria em ser Filha de Maria Auxiliadora?

Ir. Magda – Hoje eu vivo um processo de redescoberta. O que eu vivi nesses 24 anos de vida religiosa consagrada foi uma confirmação daquilo que Deus me chamou a ser, a existir nesse mundo. É aquela questão do sentido da vida, né? Hoje para mim tem um sentido muito grande essa vida doada em favor do outro e, de modo particular, para os jovens. Mesmo que, como você percebe, a minha trajetória não foi diretamente com os jovens, mas a minha intenção sempre foi para eles. Há juventude em todos os espaços onde eu me encontro, e os jovens precisam da nossa ajuda, do nosso apoio, da nossa escuta.

 

Se uma jovem se sentir chamada para a vida religiosa consagrada, o que ela deve fazer?

Ir. Magda – Deus toca a todas as pessoas, cada uma, de uma maneira. Se uma jovem sentir esse chamado mais específico para a vida religiosa consagrada, para uma vida de entrega, ela pode nos procurar e iniciar um acompanhamento mais específico, para verificar se de fato é esse o estado de vida que Deus quer também para ela. Depois de um certo momento de convivência comunitária, de seis meses ou um ano, essa jovem pode entrar no processo de formação, que é o Aspirantado, depois o Postulado, o Noviciado e ela emitirá a sua primeira profissão como Filha de Maria Auxiliadora. Isso após essas etapas de estudo e de aprofundamento da sua pessoa, da sua vocação e da própria congregação enquanto carisma. Ela emite os primeiros votos e, já como Irmã FMA juniorista, tem mais seis anos para aprofundar a vocação, atuando em uma missão. E aí ela pode confirmar esse chamado e, livremente, fazer os votos perpétuos.

 

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