Reitor-mor: “Acredito muito na força dos jovens...”

Sexta, 18 Dezembro 2020 17:08 Escrito por  Agência Info Salesiana
Em entrevista ao jornal espanhol El Correo de Andalucía, o Reitor-mor, padre Ángel Fernández Artime, fala sobre o papel dos jovens na evangelização, o futuro da congregação, vocações e outros temas da atualidade. 


El Correo de Andalucía: como a Congregação Salesiana se adaptou a este período de pandemia?


Padre Ángel: acho justo dizer que nos adaptamos como todos, ou seja, como podíamos, e como fomos aprendendo aos poucos, seguindo as orientações das autoridades civis em todos os momentos e, ao mesmo tempo, observando, com criatividade, o que podíamos fazer para que a missão salesiana avançasse em todo o mundo e, naturalmente, em nossa Espanha. Devo dizer que estou muito surpreso com a criatividade educativa e pastoral que vi desenvolver ao meu redor e nos vários continentes do "mundo salesiano". Houve uma chuva de iniciativas de todos os tipos para que pudéssemos estar presentes de mil maneiras.


El Correo de Andalucía: que iniciativas os salesianos estão tomando para combater as consequências deste vírus?


Padre Ángel: uma primeira frente que tratamos e que queremos continuar fazer é assegurar a continuidade das iniciativas, as atividades educativas e os diversos serviços sociais, pastorais e de acompanhamento das pessoas, de qualquer modo e sob qualquer forma possível. Era muito comum encontrar, em nossas presenças, diversos grupos de jovens dispostos a sair a qualquer momento para distribuir alimentos, para se aproximar das famílias mais necessitadas, para oferecer aulas on-line aos que não conseguiam acompanhar. Distribuímos ajuda em 63 países, graças à generosidade de milhares de pessoas em favor da campanha que lançamos por causa da Covid-19. Publicamente, por videoconferência, divulguei os destinos e os projetos para os auxílios recebidos.


El Correo de Andalucía: qual é o papel das Missões Salesianas hoje?


Padre Ángel: quanto às Missões Salesianas, posso dizer com profundo sentido de verdade que, como salesianos de Dom Bosco no mundo, estamos fortemente comprometidos em chegar às verdadeiras periferias, aos lugares aonde geralmente as pessoas não querem ir. Sei muito bem que não somos os únicos na Igreja. Mas posso testemunhar que nós, filhos de Dom Bosco, queremos fazê-lo e o estamos fazendo. Neste sentido, o caminho que a Congregação está percorrendo em 134 países está em total sintonia com o que Dom Bosco desejou e com era o seu sonho. Não estou, claro, dizendo que estamos fazendo tudo bem, mas este é o caminho que estamos seguindo. Ao nosso lado há muitos leigos, homens e mulheres, com os quais partilhamos a missão educativa e evangelizadora, social e de humanização. É algo magnífico, e junto com os muitos jovens que vivem um voluntariado social ou missionário. São, portanto, tempos difíceis, mas cheios de esperança.


El Correo de Andalucía: se Dom Bosco vivesse hoje, qual seria, segundo o senhor, o seu sonho?


Padre Ángel: sem dúvida, seu grande sonho seria ver os jovens felizes, hoje e na eternidade, como costumava dizer aos seus jovens; e, a partir daí, sonharia não ver mais nenhum menino, menina ou jovem sem alguém que os acolha como amigo, como educador, como pai ou mãe. Obviamente, seu sonho continua a ser prepará-los para a vida e oferecer-lhes um sentido transcendente que, se o aceitarem livremente, é, em última instância, Deus; porque Dom Bosco sempre quis aproximar seus filhos do encontro com Deus. Seu sonho não mudou: é o mesmo de 162 anos atrás. E continuará igual enquanto houver jovens na humanidade e enquanto houver pessoas abandonadas, excluídas e pobres.


El Correo de Andalucía: qual dos sonhos de Dom Bosco mais o marcou?


Padre Ángel: mais do que escolher um sonho entre tantos, prefiro dizer que o que sempre me comoveu e ainda hoje me comove em Dom Bosco é, sem dúvida, sua paixão educativa para com os jovens; a sua radical convicção de dizer, a si mesmo, todos os dias “por ti estudo, por ti trabalho, por ti também estou pronto a dar a minha vida”. São palavras que, quando as fazemos nossas na dedicação cotidiana aos jovens, nos enchem de força e de alegria.


El Correo de Andalucía: o que o senhor sentiu no dia em que foi eleito como Reitor-mor?


Padre Ángel: senti que era algo maior do que eu, que não tinha que ser eu, que muitos outros salesianos presentes no Capítulo Geral 27º poderiam prestar este serviço com muito mais competência. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer, não esperava por isso. No entanto, assim que ficou mais do que evidente que a eleição dos meus irmãos salesianos pousava sobre mim, naquele dia 25 de março de 2014, num momento de oração simples, verdadeira e confiante, me "entreguei" a tudo que poderia ser. E, posso assegurar, fui inundado por uma grande paz, que me acompanha até hoje. Devo confessar que ainda hoje continuo a perguntar ao Senhor, em minha oração pessoal porque, através da mediação dos meus irmãos salesianos no Capítulo, seu «olhar» pousou sobre mim. E deixo aí. No silêncio confiante.


El Correo de Andalucía: onde o senhor acredita que está o futuro da Igreja?


Padre Ángel: na minha humilde opinião, devo dizer que o futuro da Igreja está em Deus, em viver autenticamente o Evangelho de Jesus Cristo. É uma Igreja dos pobres e para os pobres. O futuro da Igreja está longe de todas as tentações do poder. O futuro da Igreja passa pelo anonimato de tantos leigos, consagrados e sacerdotes que seguem dando suas vidas com simplicidade, todos os dias. Sem dúvida, o futuro da Igreja está em continuar a respeitar plenamente a dignidade da mulher. Enfim, são coisas que já sabemos, mesmo que às vezes, não raramente, incomodam muitos dos ouvidos que as escutam. Não posso deixar de dizer e reconhecer que o Papa Francisco nada mais faz do que nos convidar a viver o Evangelho com a consistência própria dos crentes tocados pela conversão a Jesus Cristo. E quanto muitas vezes é incômodo, porque é simplesmente um Pastor segundo o olhar de Deus.


El Correo de Andalucía: qual deve ser o papel dos jovens na evangelização?


Padre Ángel: direi isso apelando a Dom Bosco, aquele que fundou uma Congregação com os mesmos jovens que ajudava a criar. Quando chegou a hora, ele propôs que todos fizessem a mesma coisa juntos, para "sua própria salvação e o bem de seus companheiros". Em suma, ele propôs que eles fossem verdadeiros evangelizadores e apóstolos para outros jovens. Pessoalmente, acredito muito na força dos jovens em todas as coisas. E gostaria que tivéssemos mais confiança no que eles podem fazer em nome de Jesus.


El Correo de Andalucía: o que o senhor acha da evangelização por meio das congregações salesianas?


Padre Ángel: é uma realidade preciosa, especialmente no Sul da Espanha salesiana, mas também em outros lugares. Pelo que sei, constituem uma excelente contribuição do carisma salesiano para a evangelização no campo da religiosidade popular, que foi um verdadeiro antídoto para o crescente secularismo. É um espaço de compromisso eclesial onde os leigos têm um grande papel a desempenhar. Aprecio muito o progresso que estão fazendo na formação dos grupos juvenis com grande vitalidade e também na atenção aos mais pobres. Encorajo os meus irmãos salesianos a continuarem a acompanhar com zelo pastoral a formação e a espiritualidade destas congregações e a aprofundar a sua identidade salesiana.


El Correo de Andalucía: O senhor acha que a Congregação está em perigo devido ao declínio das vocações?


Padre Ángel: honestamente, não.


É verdade que falo e devo falar apenas da realidade que conheço; dos 14.500 salesianos de Dom Bosco presentes em 134 países, pertencentes a 90 inspetorias e visitadorias. Nossa Congregação Salesiana é abençoada todos os anos com cerca de 450 noviços em todo o mundo. É um grande dom. Ao mesmo tempo, devo dizer que a realidade vocacional na Europa é muito pobre também para nós. Todavia, a vida da Congregação não se mede por números, mas pela fidelidade dos salesianos de Dom Bosco ao carisma recebido de nosso fundador, São João Bosco. Enquanto a Congregação for fiel a este carisma, com predileção pelos meninos e meninas mais pobres e necessitados, pelos últimos, pelos humildes, e isso em nome de Jesus, a Congregação não corre algum risco. A organização, a cor da pele, as áreas geográficas podem mudar... Mas o carisma estará assegurado. Em outras palavras, o futuro da Congregação e a fidelidade ao carisma andam de mãos dadas.


El Correo de Andalucía: como deve ser o salesiano de hoje?


Padre Ángel: devo dizer que este foi o tema do Capítulo Geral 28º realizado em Turim-Valdocco nos meses de fevereiro e março. E a resposta é: um salesiano que seja um homem de fé, feliz com a sua vida e com a sua vocação, capaz de escutar, de dialogar e de ir ao encontro aos jovens de hoje. Um salesiano que construa pontes, que saiba acompanhar os processos de crescimento dos jovens. Um educador na fé, que disponibilize, na liberdade, o que nos preenche de sentido. Enfim, pessoas que queiram oferecer e compartilhar o que são e o que nos constitui como consagrados e crentes.

 

El Correo de Andalucía: como Reitor-mor, o que o senhor espera da Congregação nos próximos anos?


Padre Ángel: espero que sejamos tudo o que acabo de dizer e que, no final dos próximos seis anos, se Deus me der saúde, eu possa dizer a Dom Bosco algo assim: “Querido Dom Bosco, esta é a Congregação que te apresento após doze anos. Fizemos o melhor que sabíamos e pudemos fazer, em nome de Jesus e em benefício dos jovens. Eu espero que você possa se reconhecer nele. Se sim, terá valido a pena”.


El Correo de Andalucía: para concluir, que mensagem deseja enviar à Família Salesiana na Espanha?


Padre Ángel: com grande prazer, quero transmitir uma mensagem dupla. Uma parte dirigida às muitas pessoas que me lerão e que não têm nada a ver com a Família Salesiana na Espanha ou na Andaluzia, mas que olham para a figura de Dom Bosco com simpatia ou pelo menos com curiosidade: digo-lhes que continuem a acreditar que existem pessoas boas no mundo, muitas pessoas boas, como certamente também elas o são, e como nós salesianos de Dom Bosco procuramos ser, apesar de todas as nossas limitações; e as convido a se juntarem às muitas pessoas que transmitem esperança, e não negatividade. Porque o mundo se torna mais habitável com pessoas assim.


E, à Família Salesiana da Espanha e da Andaluzia, digo que me sinto muito orgulhoso pela família religiosa que somos: simples, mas com frescor; amiga do povo e desejosa de fazer o bem. Uma família de Dom Bosco que acredita nos jovens e, vos peço, continuem a acreditar nestes mesmos jovens, aqueles em carne e osso que vocês veem todos os dias. Digo para transmitir às pessoas que há motivos de esperança e que juntos, unindo-nos, podemos continuar a fazer algo de bom. Digo que Dom Bosco nos sonhou e nos fundou, não para nos concentrarmos em nós mesmos, mas para que sejamos uma família de portas abertas, para que as pessoas possam dizer que lá, onde estão aqueles "de Dom Bosco", há pessoas boas que, se não podem te ajudar em todos os momentos e em tudo, pelo menos te recebem, te escutam e te acompanham.


E eu diria a eles que nossa força está em sermos uma família, em sermos para os outros e em sermos quem somos em nome do Senhor. E, por fim, acrescentaria: que continuemos a acreditar, assim como Dom Bosco, que "tudo foi feito por Ela", a Mãe, que continua a fazer tudo até hoje.


Um abraço a todos os leitores, junto com meus votos de um bom e santo Natal.


A íntegra da entrevista foi publicada no site da Agência Info Salesiana, em duas partes. Clique nos links para acessar: parte 1 e parte 2


Fonte: Agência Info Salesana com El Correo de Andalucía

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Reitor-mor: “Acredito muito na força dos jovens...”

Sexta, 18 Dezembro 2020 17:08 Escrito por  Agência Info Salesiana
Em entrevista ao jornal espanhol El Correo de Andalucía, o Reitor-mor, padre Ángel Fernández Artime, fala sobre o papel dos jovens na evangelização, o futuro da congregação, vocações e outros temas da atualidade. 


El Correo de Andalucía: como a Congregação Salesiana se adaptou a este período de pandemia?


Padre Ángel: acho justo dizer que nos adaptamos como todos, ou seja, como podíamos, e como fomos aprendendo aos poucos, seguindo as orientações das autoridades civis em todos os momentos e, ao mesmo tempo, observando, com criatividade, o que podíamos fazer para que a missão salesiana avançasse em todo o mundo e, naturalmente, em nossa Espanha. Devo dizer que estou muito surpreso com a criatividade educativa e pastoral que vi desenvolver ao meu redor e nos vários continentes do "mundo salesiano". Houve uma chuva de iniciativas de todos os tipos para que pudéssemos estar presentes de mil maneiras.


El Correo de Andalucía: que iniciativas os salesianos estão tomando para combater as consequências deste vírus?


Padre Ángel: uma primeira frente que tratamos e que queremos continuar fazer é assegurar a continuidade das iniciativas, as atividades educativas e os diversos serviços sociais, pastorais e de acompanhamento das pessoas, de qualquer modo e sob qualquer forma possível. Era muito comum encontrar, em nossas presenças, diversos grupos de jovens dispostos a sair a qualquer momento para distribuir alimentos, para se aproximar das famílias mais necessitadas, para oferecer aulas on-line aos que não conseguiam acompanhar. Distribuímos ajuda em 63 países, graças à generosidade de milhares de pessoas em favor da campanha que lançamos por causa da Covid-19. Publicamente, por videoconferência, divulguei os destinos e os projetos para os auxílios recebidos.


El Correo de Andalucía: qual é o papel das Missões Salesianas hoje?


Padre Ángel: quanto às Missões Salesianas, posso dizer com profundo sentido de verdade que, como salesianos de Dom Bosco no mundo, estamos fortemente comprometidos em chegar às verdadeiras periferias, aos lugares aonde geralmente as pessoas não querem ir. Sei muito bem que não somos os únicos na Igreja. Mas posso testemunhar que nós, filhos de Dom Bosco, queremos fazê-lo e o estamos fazendo. Neste sentido, o caminho que a Congregação está percorrendo em 134 países está em total sintonia com o que Dom Bosco desejou e com era o seu sonho. Não estou, claro, dizendo que estamos fazendo tudo bem, mas este é o caminho que estamos seguindo. Ao nosso lado há muitos leigos, homens e mulheres, com os quais partilhamos a missão educativa e evangelizadora, social e de humanização. É algo magnífico, e junto com os muitos jovens que vivem um voluntariado social ou missionário. São, portanto, tempos difíceis, mas cheios de esperança.


El Correo de Andalucía: se Dom Bosco vivesse hoje, qual seria, segundo o senhor, o seu sonho?


Padre Ángel: sem dúvida, seu grande sonho seria ver os jovens felizes, hoje e na eternidade, como costumava dizer aos seus jovens; e, a partir daí, sonharia não ver mais nenhum menino, menina ou jovem sem alguém que os acolha como amigo, como educador, como pai ou mãe. Obviamente, seu sonho continua a ser prepará-los para a vida e oferecer-lhes um sentido transcendente que, se o aceitarem livremente, é, em última instância, Deus; porque Dom Bosco sempre quis aproximar seus filhos do encontro com Deus. Seu sonho não mudou: é o mesmo de 162 anos atrás. E continuará igual enquanto houver jovens na humanidade e enquanto houver pessoas abandonadas, excluídas e pobres.


El Correo de Andalucía: qual dos sonhos de Dom Bosco mais o marcou?


Padre Ángel: mais do que escolher um sonho entre tantos, prefiro dizer que o que sempre me comoveu e ainda hoje me comove em Dom Bosco é, sem dúvida, sua paixão educativa para com os jovens; a sua radical convicção de dizer, a si mesmo, todos os dias “por ti estudo, por ti trabalho, por ti também estou pronto a dar a minha vida”. São palavras que, quando as fazemos nossas na dedicação cotidiana aos jovens, nos enchem de força e de alegria.


El Correo de Andalucía: o que o senhor sentiu no dia em que foi eleito como Reitor-mor?


Padre Ángel: senti que era algo maior do que eu, que não tinha que ser eu, que muitos outros salesianos presentes no Capítulo Geral 27º poderiam prestar este serviço com muito mais competência. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer, não esperava por isso. No entanto, assim que ficou mais do que evidente que a eleição dos meus irmãos salesianos pousava sobre mim, naquele dia 25 de março de 2014, num momento de oração simples, verdadeira e confiante, me "entreguei" a tudo que poderia ser. E, posso assegurar, fui inundado por uma grande paz, que me acompanha até hoje. Devo confessar que ainda hoje continuo a perguntar ao Senhor, em minha oração pessoal porque, através da mediação dos meus irmãos salesianos no Capítulo, seu «olhar» pousou sobre mim. E deixo aí. No silêncio confiante.


El Correo de Andalucía: onde o senhor acredita que está o futuro da Igreja?


Padre Ángel: na minha humilde opinião, devo dizer que o futuro da Igreja está em Deus, em viver autenticamente o Evangelho de Jesus Cristo. É uma Igreja dos pobres e para os pobres. O futuro da Igreja está longe de todas as tentações do poder. O futuro da Igreja passa pelo anonimato de tantos leigos, consagrados e sacerdotes que seguem dando suas vidas com simplicidade, todos os dias. Sem dúvida, o futuro da Igreja está em continuar a respeitar plenamente a dignidade da mulher. Enfim, são coisas que já sabemos, mesmo que às vezes, não raramente, incomodam muitos dos ouvidos que as escutam. Não posso deixar de dizer e reconhecer que o Papa Francisco nada mais faz do que nos convidar a viver o Evangelho com a consistência própria dos crentes tocados pela conversão a Jesus Cristo. E quanto muitas vezes é incômodo, porque é simplesmente um Pastor segundo o olhar de Deus.


El Correo de Andalucía: qual deve ser o papel dos jovens na evangelização?


Padre Ángel: direi isso apelando a Dom Bosco, aquele que fundou uma Congregação com os mesmos jovens que ajudava a criar. Quando chegou a hora, ele propôs que todos fizessem a mesma coisa juntos, para "sua própria salvação e o bem de seus companheiros". Em suma, ele propôs que eles fossem verdadeiros evangelizadores e apóstolos para outros jovens. Pessoalmente, acredito muito na força dos jovens em todas as coisas. E gostaria que tivéssemos mais confiança no que eles podem fazer em nome de Jesus.


El Correo de Andalucía: o que o senhor acha da evangelização por meio das congregações salesianas?


Padre Ángel: é uma realidade preciosa, especialmente no Sul da Espanha salesiana, mas também em outros lugares. Pelo que sei, constituem uma excelente contribuição do carisma salesiano para a evangelização no campo da religiosidade popular, que foi um verdadeiro antídoto para o crescente secularismo. É um espaço de compromisso eclesial onde os leigos têm um grande papel a desempenhar. Aprecio muito o progresso que estão fazendo na formação dos grupos juvenis com grande vitalidade e também na atenção aos mais pobres. Encorajo os meus irmãos salesianos a continuarem a acompanhar com zelo pastoral a formação e a espiritualidade destas congregações e a aprofundar a sua identidade salesiana.


El Correo de Andalucía: O senhor acha que a Congregação está em perigo devido ao declínio das vocações?


Padre Ángel: honestamente, não.


É verdade que falo e devo falar apenas da realidade que conheço; dos 14.500 salesianos de Dom Bosco presentes em 134 países, pertencentes a 90 inspetorias e visitadorias. Nossa Congregação Salesiana é abençoada todos os anos com cerca de 450 noviços em todo o mundo. É um grande dom. Ao mesmo tempo, devo dizer que a realidade vocacional na Europa é muito pobre também para nós. Todavia, a vida da Congregação não se mede por números, mas pela fidelidade dos salesianos de Dom Bosco ao carisma recebido de nosso fundador, São João Bosco. Enquanto a Congregação for fiel a este carisma, com predileção pelos meninos e meninas mais pobres e necessitados, pelos últimos, pelos humildes, e isso em nome de Jesus, a Congregação não corre algum risco. A organização, a cor da pele, as áreas geográficas podem mudar... Mas o carisma estará assegurado. Em outras palavras, o futuro da Congregação e a fidelidade ao carisma andam de mãos dadas.


El Correo de Andalucía: como deve ser o salesiano de hoje?


Padre Ángel: devo dizer que este foi o tema do Capítulo Geral 28º realizado em Turim-Valdocco nos meses de fevereiro e março. E a resposta é: um salesiano que seja um homem de fé, feliz com a sua vida e com a sua vocação, capaz de escutar, de dialogar e de ir ao encontro aos jovens de hoje. Um salesiano que construa pontes, que saiba acompanhar os processos de crescimento dos jovens. Um educador na fé, que disponibilize, na liberdade, o que nos preenche de sentido. Enfim, pessoas que queiram oferecer e compartilhar o que são e o que nos constitui como consagrados e crentes.

 

El Correo de Andalucía: como Reitor-mor, o que o senhor espera da Congregação nos próximos anos?


Padre Ángel: espero que sejamos tudo o que acabo de dizer e que, no final dos próximos seis anos, se Deus me der saúde, eu possa dizer a Dom Bosco algo assim: “Querido Dom Bosco, esta é a Congregação que te apresento após doze anos. Fizemos o melhor que sabíamos e pudemos fazer, em nome de Jesus e em benefício dos jovens. Eu espero que você possa se reconhecer nele. Se sim, terá valido a pena”.


El Correo de Andalucía: para concluir, que mensagem deseja enviar à Família Salesiana na Espanha?


Padre Ángel: com grande prazer, quero transmitir uma mensagem dupla. Uma parte dirigida às muitas pessoas que me lerão e que não têm nada a ver com a Família Salesiana na Espanha ou na Andaluzia, mas que olham para a figura de Dom Bosco com simpatia ou pelo menos com curiosidade: digo-lhes que continuem a acreditar que existem pessoas boas no mundo, muitas pessoas boas, como certamente também elas o são, e como nós salesianos de Dom Bosco procuramos ser, apesar de todas as nossas limitações; e as convido a se juntarem às muitas pessoas que transmitem esperança, e não negatividade. Porque o mundo se torna mais habitável com pessoas assim.


E, à Família Salesiana da Espanha e da Andaluzia, digo que me sinto muito orgulhoso pela família religiosa que somos: simples, mas com frescor; amiga do povo e desejosa de fazer o bem. Uma família de Dom Bosco que acredita nos jovens e, vos peço, continuem a acreditar nestes mesmos jovens, aqueles em carne e osso que vocês veem todos os dias. Digo para transmitir às pessoas que há motivos de esperança e que juntos, unindo-nos, podemos continuar a fazer algo de bom. Digo que Dom Bosco nos sonhou e nos fundou, não para nos concentrarmos em nós mesmos, mas para que sejamos uma família de portas abertas, para que as pessoas possam dizer que lá, onde estão aqueles "de Dom Bosco", há pessoas boas que, se não podem te ajudar em todos os momentos e em tudo, pelo menos te recebem, te escutam e te acompanham.


E eu diria a eles que nossa força está em sermos uma família, em sermos para os outros e em sermos quem somos em nome do Senhor. E, por fim, acrescentaria: que continuemos a acreditar, assim como Dom Bosco, que "tudo foi feito por Ela", a Mãe, que continua a fazer tudo até hoje.


Um abraço a todos os leitores, junto com meus votos de um bom e santo Natal.


A íntegra da entrevista foi publicada no site da Agência Info Salesiana, em duas partes. Clique nos links para acessar: parte 1 e parte 2


Fonte: Agência Info Salesana com El Correo de Andalucía

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